por Talita Abrantes
fotos por Francisco Emolo



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Foto crédito: Francisco Emolo
Para a professora Carmen Vidigal, os cursos do Programa Estadual de Qualificação Profissional deveriam ir além da idéia de desenvolvimento local


Governo estadual espera alcançar 30 mil pessoas com os cursos de qualificação profissional

A partir do segundo semestre, diversas regiões do Estado de São Paulo receberão cursos de qualificação profissional focados nas demandas apontadas pelo Diagnóstico para o Plano Estadual de Qualificação Profissional. É o que prevê o secretário estadual de Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingues. A proposta é atingir 30 mil pessoas só em 2008.

Ministrados em parceria com o Centro Paula Souza, Centros Federais de Educação Tecnológica e entidades do Sistema S (Sesi, Senai, Sesc, Senac, Sest, Senat, Senar), os cursos terão 200 horas/aula. Destas, 120 serão destinadas à retomada do ensino básico (com aulas de Português, Matemática, Conhecimentos Gerais e Cidadania). Só as 80 horas restantes serão focadas na profissionalização. O material didático, por sua vez, será produzido pela Fundação Padre Anchieta e seguirá o modelo de telecursos.

"Cerca de metade da população entre 30 e 49 anos não tem ensino fundamental. Este é o ônus com o qual teremos que lidar", aponta o secretário. "Mesmo com o crescimento do País a todo o vapor, teremos um desemprego endêmico, pois há pessoas sem qualificação. Portanto nosso papel é investir nesse núcleo."

Por outro lado, para a professora da Faculdade de Educação Carmen Silvia Vidigal, esta política não passa de uma medida compensatória. "Esses cursos não pressupõem a elevação de escolaridade, tampouco proporcionam que os trabalhadores estejam preparados para assumir ocupações de diferentes complexidades ou mesmo para prosseguir nos estudos", avalia.


 

 

Foto crédito: Francisco Emolo
Atentar para a formação dos professores é outra questão importante, de acordo com a professora Nídia Pontuschka


Carmen acredita que o programa deveria ultrapassar esta idéia de desenvolvimento local e realizar "processos educativos que garantissem base tecnológica necessária ao domínio das tecnologias de ponta", ao mesmo tempo em que orientaria estes novos conhecimentos para a realização de atividades sociais.

Para a professora, o ideal também seria criar uma política de aproveitamento do conhecimento das pessoas que estejam fora do mercado de trabalho, como aposentados e desempregados. Segundo ela, eles poderiam trabalhar como tutores ou monitores e, assim, ajudar na criação de cursos mais coerentes com as reais necessidades dos trabalhadores.

Também professora da Faculdade de Educação, Nídia Pontuschka opina que o governo deve atentar para a formação dos próprios educadores que ministrarão os cursos. "De um modo geral, os professores são ensinados a trabalhar com crianças e adolescentes, e não com adultos”, observa. Ela afirma que as metodologias de ensino de jovens e adultos têm de ser diferentes das tradicionais. Afinal, “os adultos já têm uma história de vida formada”. E isso, segundo ela, tem de ser levado em conta.

Neste contexto, de acordo com Nídia, os métodos de ensino destes cursos deveriam ser coerentes com o perfil de cada aluno e não concebidos de uma maneira homogênea. Além disso, “é preciso pensar numa formação mais abrangente, pois o mercado seleciona profundamente. E se os trabalhadores tiverem apenas conhecimentos pontuais, logo se tornarão descartáveis”.

Mesmo assim, a economista e pós-graduanda da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP Priscila Albuquerque Tavares vê com bons olhos a aplicação do Plano Estadual de Qualificação Profissional. “Falta trabalhador qualificado. Então, é importante criar políticas que atinjam as pessoas que já estão no mercado de trabalho e que ao mesmo tempo direcione esta qualificação”, analisa.

 
 
 
 
 
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