por Maria Clara Matos
fotos por Cecília Bastos

 


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Dicas e recomendações de consumo
Opções de light e diet não faltam, mas a dica é não abusar e prestar atenção na procedência dos produtos que consumimos

 


Entre pesquisas e novos diagnósticos, os especialistas não possuem conclusões definidas em relação aos edulcorantes, mas alertam para seu uso equilibrado

A sociedade que se choca com os casos de anorexia é a mesma que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), contará em 2015 com aproximadamente 700 milhões de casos de obesidade, ou seja, quase quatro vezes a atual população do Brasil. As pessoas que se alarmam com a possibilidade dos adoçantes causarem câncer também se preocupam com os 180 milhões da população com diabetes. O que os nutricionistas e médicos indicam em relação ao consumo de açúcares e adoçantes? Equilíbrio. Conhecer as ingestões diárias recomendadas e as diferenças entre produtos light e diet são informações importantes para se levar uma vida saudável.

De acordo com a Associação Brasileira de Indústria de Alimentos Dietéticos para Fins Especiais (Abiad), o setor de edulcorantes cresceu mais de 1.875%, nos últimos 13 anos. Isso significa que cerca de 40% das residências brasileiras fazem uso dessas substâncias, como integrantes de certos alimentos e medicamentos. Os edulcorantes são as substâncias que dão o sabor doce aos alimentos, compondo os chamados adoçantes e podem ser naturais como a frutose, a stévia e a sucralose ou artificiais como o ciclamato, a sacarina e o aspartame.

Mas qualquer um pode fazer uso dos adoçantes? As respostas dos especialistas são as mais variadas possíveis, mas apontam para o uso equilibrado e coerente do produto.  Segundo a nutricionista do Hospital Universitário (HU) Soraia Covelo Goulart, a utilização é mais indicada para quem está seguindo um plano alimentar para perda ou controle de peso, é diabético ou tem intolerância à glicose, “não basta não consumir o açúcar ou trocá-lo por adoçante dietético. O ideal é manter hábitos de vida saudáveis”.

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“O avanço das tecnologias diagnósticas propiciou o aumento do diagnóstico de determinadas doenças, o que não quer dizer que isso esteja associado ao aumento do uso de adoçantes”, analisa Soraia Covelo Goulart

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O consumo abusivo de açúcar também pode causar prejuízos à saúde, entre eles Carlos Alberto Werutsky destaca o aumento do nível dos triglicerídeos, provocar cáries e o desenvolvimento da obesidade


Em relação às gestantes, os estudos também são inconsistentes. Márcia Bernik, médica endocrinologista do HU, revela que “não há evidências científicas suficientes demonstrando que o uso de aspartame, sacarina ou stévia leve a risco durante a gravidez”. Estudos realizados em ratos, no entanto, mostram aumento de risco de câncer de bexiga nos fetos de ratas que usaram grandes quantidades de sacarina, mas a especialista afirma que outro estudo já não revela os mesmos resultados e a “FDA (Food and Drug Administration) aprova o uso de adoçantes durante a gravidez”. Devido a essas disparidades de conclusões, ela comenta que prefere orientar as pacientes a tentar não utilizar ou usar o mínimo possível de adoçantes durante a gravidez.

Katia Gavranich Camargo, nutricionista do Hospital das Clínicas (HC), alerta para o fato de que as grávidas devem evitar produtos adoçados com aspartame, já que a fenilalanina presente no produto pode ultrapassar a barreira placentária e lesionar o cérebro de fetos com fenilcetonúria, isto é, que não conseguem metabolizar o aminoácido contido nos alimentos por um defeito enzimático hereditário. Ela comenta outros possíveis malefícios que podem ser causados pelos adoçantes, “eles causariam, além de cânceres, mal de Alzheimer, esclerose múltipla e doenças cardiovasculares, entre outros males. O mesmo pode-se dizer sobre outros adoçantes artificiais, como a sacarina e ciclamato e acessulfame K”.

As pesquisas assustam, mas Soraia pondera e analisa: “Na realidade houve um avanço da tecnologia diagnóstica, então muitas doenças como mal de Alzheimer foram diagnosticadas pelo avanço das tecnologias, o que não quer dizer que aumentou a proporção delas por causa do consumo de adoçantes”.

 

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Katia Gavranich Camargo enfatiza que “somente a utilização de adoçante não leva ao emagrecimento, e sim um conjunto de medidas saudáveis, que incluem dieta hipocalórica equilibrada, balanceada e atividade física”


Daniel Henrique Bandoni, nutricionista da Faculdade de Saúde Pública da USP, esclarece que o uso de adoçantes tem sido associado a diversas doenças, entretanto a maioria desses efeitos só se manifestam no caso de consumo excessivo de edulcorantes. A Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) e a OMS definem limites para a ingestão segura de adoçantes. A sucralose, por exemplo, tem poder adoçante 600 vezes maior do que o açúcar e sua ingestão diária aceitável (IDA) 15mg/Kg  peso/ dia, enquanto o aspartame pode adoçar 180 vezes mais que o açúcar e a recomendação é de 40 mg/Kg peso/ dia.

Os estudos relacionados aos adoçantes são muitas vezes alarmistas, então o melhor é consumir o bom e velho açúcar? Ilusão. Ele também não escapa aos pontos negativos. Segundo Carlos Alberto Werutsky, médico nutrólogo e diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), “o consumo abusivo de açúcar aumenta a ingestão calórica, pode aumentar os níveis de triglicerídeos sanguíneos, provocar cárie dentária e, cronicamente, contribuir para o desenvolvimento da obesidade”.

Soraia explica que o açúcar refinado contém apenas carboidrato, uma vez que vitaminas e minerais foram extraídos durante seu processamento. Assim, o mais saudável seria utilizar o açúcar mascavo que reserva algumas vitaminas e minerais que são benéficos. A nutricionista Kátia Grava aponta como ótima opção o mel, que tem poder adoçante maior e também possui vitaminas, mas alerta para que seja consumido com cuidado por crianças devido ao risco de botulismo.

A alimentação saudável e sem excessos, seja de açúcar ou adoçantes, é a melhor opção e ponto de concordância entre todos os especialistas. Saiba mais sobre ingestões diárias e diferenças entre produtos light e diet na matéria sobre Dicas e recomendações de consumo.

 

 


 
 
 
 
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