Uma nova cidade foi inaugurada em agosto do ano passado.
Pode ser visitada em São Paulo, na Bahia, na China, no Canadá,
ou em qualquer lugar do mundo conectado à web. Uma cidade
virtual com conteúdo e habitantes reais. Esta é a
Cidade do Conhecimento que, em 2002, apresenta projetos voltados
para a organização e a inserção da sociedade
no universo digital.
Mas a inclusão digital é um conceito que vai
muito além do acesso gratuito à Internet, ressalta
Gilson Schwartz, diretor acadêmico do Cidade do Conhecimento,
um projeto do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.
Precisamos apresentar toda essa tecnologia da rede, como ferramenta
de trabalho, como meio de comunicação e de informação.
Dessa forma, um dos objetivos do projeto é tornar acessível
à população não apenas a produção
de conhecimento da Universidade como também seus recursos
humanos, entre professores, alunos, pesquisadores e técnicos.
Com esse propósito foram elaborados seis novos bairros
da cidade: três projetos de capacitação
Educar na Sociedade da Informação, Gestão de
Mídias Digitais e Oficinas de Design Social e outros
três de cooperação Dicionário
do Trabalho Vivo, Ética na Prática e Meninas Cientistas.
Os interessados em participar em qualquer dos projetos devem se
inscrever, até o dia 31 de março, pelo site www.cidade.usp.br
ou pelos telefones 3091-3903 ou 3091-4164. Os valores das inscrições
variam de acordo com a atividade.
Professores conectados
Para professores, diretores, coordenadores pedagógicos
e técnicos do ensino fundamental e médio, a Cidade
do Conhecimento oferece o programa Educar na Sociedade da Informação,
envolvendo palestras, atividades presenciais e a distância.
Não é apenas um curso de reciclagem. É
uma oportunidade do educador entrar em contato com o que há
de ponta na pesquisa nessa área, conhecer outros profissionais
e refletir sobre o próprio trabalho pedagógico,
avalia a coordenadora do programa, Lilian Starobinas, do IEA.
O programa está dividido em 12 módulos (veja a relação
no quadro). Cada pessoa poderá se inscrever em apenas um
desses módulos, compostos por dez sessões, entre palestras,
visitas a museus e atividades on-line. Os encontros acontecerão
de abril a dezembro, aos sábados pela manhã
(das 9h às 13h) ou à tarde (das 14h às 18h).
O Educar pretende mostrar aos professores as possibilidades de se
ensinar na sociedade da informação e da informática.
Além disso, os participantes não estarão apenas
estudando e discutindo a rede. A partir do programa, eles começarão
a formar uma rede. Isso permite o intercâmbio do conhecimento
obtido no próprio Educar. Assim, apesar de poder participar
de um único módulo, o professor terá condições
de saber o que está acontecendo nos demais, acrescenta
Lilian. Os conteúdos produzidos estarão disponíveis
para todos os interessados, inscritos ou não.
Há cem vagas em cada um dos módulos. Metade será
oferecida gratuitamente para educadores do sistema público.
Os profissionais ligados a escolas particulares deverão pagar
uma anuidade de R$ 850,00, valor que pode ser reduzido, dependendo
do número de professores por escola. Com três inscrições,
a escola recebe 5% de desconto na anuidade de cada professor. Com
quatro, o desconto vai para 10%. Cinco inscritos, 15% e, acima de
cinco, a anuidade cai para R$ 680,00, o que representa o desconto
de 20%.
Caso o número de inscritos do ensino público seja
superior ao de vagas oferecidas, será realizada uma seleção,
considerando, entre outros critérios, a participação
da escola em projetos da USP, privilegiando as que tiverem maior
vínculo com a Universidade; o número de professores
inscritos pela escola, dando prioridade àquelas com mais
participantes; e a distribuição geográfica
das escolas, buscando representantes de regiões diversificadas
do município e do Estado de São Paulo.
O Educar contou com o apoio logístico da Coordenadoria Executiva
de Cooperação Universitária e de Atividades
Especiais (Cecae), por meio do Atualtec que recebeu as inscrições
via web.
O Projeto Avizinhar, também da Cecae, foi outro que colaborou
com a Cidade do Conhecimento. Em seu quarto ano de existência,
o projeto tem como objetivo a aproximação das escolas
e instituições do Butantã com a USP, promovendo
a interação entre as instituições. Tivemos
um problema na primeira versão do Educar que foi a evasão
de alguns professores participantes, informa Marta Pimenta,
coordenadora do Avizinhar. Ela acredita que a razão das desistências
foi a falta de informação a respeito do programa.
Muitos professores da rede pública se inscreveram apenas
porque o curso era da USP e gratuito. Esses acabaram desistindo,
pois a participação num projeto como esse requer uma
dedicação considerável, avalia. Para
essa situação não se repetir na segunda versão
do Educar, Marta entrou em contato com professores e diretores das
escolas públicas e líderes de entidades sociais do
Butantã. Marcamos duas reuniões com esse pessoal
para poder esclarecer bem o que é o projeto e estimular as
pessoas a firmarem o compromisso, não apenas com a gente,
mas também com a própria escola em que trabalham,
de levar o programa até o final.
Os educadores que concluírem o Educar receberão um
certificado de conclusão de curso emitido pela USP e um atestado
de proficiência no uso de mídias digitais. Os participantes
do módulo Ciência e Tecnologia têm Masculino
e Feminino? receberão também um certificado
da Cátedra Unesco.
Sociedade planejada via Internet
Oficinas de Design Social é outro programa de capacitação
da Cidade do Conhecimento, voltado para alunos de pós-graduação
de todas as áreas e campi da USP e para lideranças
comunitárias. Com o objetivo de formar redes capazes de identificar
e solucionar problemas em áreas carentes do Estado de São
Paulo, as oficinas serão realizadas em parceria com o Media
Lab do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) e com
o apoio do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
O programa será desenvolvido em cima de necessidades reais.
O líder da comunidade ou instituição recorre
à Cidade do Conhecimento, apresentando a problemática
que deseja resolver, seja ela da área de defesa civil, meio
ambiente, saúde, educação, tecnologia ou qualquer
outra. Seu problema será exposto aos pós-graduandos
ligados à rede e aquele que se identificar com a questão
terá a oportunidade de aplicar seus conhecimentos no desafio
de solucioná-la.
A extensão do conhecimento produzido na Universidade à
comunidade não é inédita. A diferença
primordial do projeto do IEA está na direção
em que essa troca de experiências passará a acontecer.
Não se trata do encaixe de uma teoria pré-concebida
a um problema real e sim, o inverso. Dentro desse programa, os estudos
acontecerão em função de uma demanda e poderão
ser concretizados com o apoio do IPT que viabilizará as alternativas
teorizadas.
A Pró-Reitoria de Pós-Graduação vai
divulgar o programa em cada unidade da USP, convidando os estudantes
a integrarem a Cidade do Conhecimento. O professor titular da pós
associado às oficinas aceitará o trabalho desenvolvido
por seu aluno no projeto do IEA, como parte do processo de avaliação
e crédito da disciplina.
A partir das oficinas, as informações produzidas no
estudo dos casos estarão disponíveis na rede e poderão
ser internacionalmente acessadas. Assim, pesquisadores do MIT e
de universidades de países como Portugal, Índia e
Quênia poderão conhecer os casos apresentados e também
propor resoluções.
Até o final deste mês, o IEA receberá a adesão
de professores e discutirá os critérios de seleção
dos alunos. Os problemas das comunidades deverão ser encaminhados
até o dia 31. Entre abril e junho estudantes e representantes
vão elaborar suas propostas. Os melhores trabalhos serão
apresentados no II Encontro Internacional, em Bangalore, na Índia,
em julho. Em 2003, o ciclo se repetirá e o encontro acontecerá
na USP.
O programa prevê a criação e o fortalecimento
de uma rede que ganhe vida própria e se auto-abasteça
de informações e experiências.
Segundo o dicionário Aurélio, o termo design pode
ser definido como concepção de um projeto ou
modelo; planejamento. É exatamente isso que as Oficinas
de Design Social propõem, o planejamento da sociedade em
rede com a finalidade de se apropriar dos conhecimentos produzidos
na Universidade. O conceito de design social é abrangente
e permite a reflexão sobre a forma e a função
de todos os objetos que cercam as pessoas. Coisas concretas como
um carro e uma cadeira possuem um design. As coisas mais intangíveis,
como um modelo de governo, também. Nós vamos trabalhar
com o design social da rede, interferindo diretamente em sua forma
e sua função, explica Schwartz. Além
disso, design possui relação com a palavra desígnio
que significa intenção, plano, propósito, desejo.
E isso também faz parte das oficinas, já que elas
envolvem a vontade de mudar, de melhorar e a participação
da comunidade acadêmica e da sociedade em conjunto,
completa.
Formação de gestores da web
O programa Gestão de Mídias Digitais tem como proposta
capacitar técnicos e administradores a desenvolver projetos
comunitários utilizando a tecnologia da rede. O participante
deve estar envolvido com uma estrutura mínima de acesso à
Internet em telecentros, infocentros, bibliotecas, associações
comunitárias, postos de saúde, agências do correio
ou organizações não governamentais (ONGs) e
ter, pelo menos, o ensino médio concluído.
A oficina foi concebida para promover inclusão digital, o
que requer mais do que simplesmente acesso gratuito à Internet.
A inclusão digital acontece quando o indivíduo interage
ativamente com a rede.
Estruturado em três módulos hardware, software
e políticas , o programa combina aulas presenciais,
práticas de laboratório e oficinas com atividades
on-line e desenvolvimento de redes, visitas a empresas e instituições
de destaque no uso de mídias digitais.
Para adquirir o certificado de conclusão de curso, os participantes
deverão apresentar um projeto de aplicação
dos conhecimentos apreendidos ao contexto de sua atuação
social. Esses projetos integrarão um acervo digital público
da Cidade do Conhecimento.
Os conteúdos das oficinas serão desenvolvidos de forma
cooperativa entre os principais centros de pesquisa da USP e do
IPT que já acumularam experiências de produção
de conhecimento sobre tecnologias de informação e
comunicação. As parcerias acontecerão com unidades
como IME, ECA, FEA, FFLCH, Poli, FE, Escola do Futuro, Laboratório
de Sistemas Integráveis (LSI), entre outros.
Cooperativas da Cidade
Paralelamente às oficinas de capacitação acontecerão
as redes e projetos cooperativos, voltados para trabalhadores e
estudantes do ensino médio, da graduação e
da pós-graduação. São três projetos
e a mensalidade de cada um é de R$15,00.
No Ética na Prática, orientado pelos professores Renato
Janine Ribeiro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas (FFLCH), e Cyro del Nero, da Escola de Comunicações
e Artes (ECA), serão desenvolvidos estudos temáticos
sobre ética na sociedade da informação.
No Dicionário do Trabalho Vivo, os participantes formarão
um banco de temas e verbetes relacionados às tendências
do mercado de trabalho. O dicionário é considerado
vivo, pois seus termos estão sujeitos à atualização
permanente, com base na troca de informações estabelecida
entre os interlocutores. O dicionário será construído
por meio de softwares em várias áreas e disciplinas
como gestão de projetos, redação, mecanismos
de indexação e busca, listas de discussão,
educação a distância, editoração,
entre outras. Algumas dessas ferramentas serão de uso geral,
outras serão específicas de indivíduos com
funções estabelecidas como editor, relator ou animador
de um grupo. Essas atividades contam com o apoio da Secretaria de
Emprego e Relações do Trabalho, do governo do Estado
de São Paulo.
O Meninas Cientistas é o terceiro projeto cooperativo em
que estudantes e trabalhadoras explorarão o mundo feminino
em áreas de pesquisa e desenvolvimento, ciência e tecnologia.
Orientado pela professora Regina Festa, da ECA, o programa está
associado à Catedra Regional Unesco Mulher, Ciência
e Tecnologia na América Latina.
Educar na sociedade da informação
O programa é voltado para professores do ensino médio
e fundamental. De abril a dezembro, 12 cursos acontecerão
paralelamente, com aulas presenciais, práticas e a distância.
Há cem vagas para cada curso, das quais 50 serão reservadas
para professores da rede pública. Confira abaixo a relação
dos cursos e seus respectivos orientadores.
O
Tempo e o Espaço da Cidade
Demétrio Magnoli, doutor em Geografia Humana
Literatura
na Sociedade da Informação
Jorge de Almeida, doutor em Filosofia
Mídia
na Escola
Sidney Ferreira Leite, doutor em História
Tecnologia
e Práticas Pedagógicas
Gilson Schwartz, do Instituto de Estudos Avançados
Paulo Lemos, mestre em Antropologia pela Unicamp
Inovação
e Cooperação na Internet
Imre Simon, do Instituto de Matemática e Estatística
Educação
Inclusiva ou Sociedade Inclusiva?
Eucia Beatriz Patean, da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras da USP de Ribeirão Preto
Educação
Ambiental e Sustentabilidade
Pedro Jacobi, da Faculdade de Educação
Ciência
e Tecnologia têm Masculino e Feminino?
Regina Festa, da Escola de Comunicações e Artes
Comunicação,
Educação e Sociedade Midiática
Ismar de Oliveira Soares, da Escola de Comunicações
e Artes
O
Ensino das Ciências
Amélia Hamburger, Instituto de Física
Linguagens
Artísticas na Era Digital
Artur Matuck, da Escola de Comunicações e Artes
Cidade
do Conhecimento: Teoria, História, Futuro
Gilson Schwartz, do Instituto de Estudos Avançados
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