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Como a TV e o cinema brasileiros, e particularmente as obras documentais, se posicionam frente às situações de conflito, marcantes em uma sociedade recordista em desigualdade social? Como representam - se é que representam - a violência que emerge desses conflitos e que parece, contrariando o mito da cordialidade, marcar as relações sociais e políticas neste país, em suas matizes e variantes? São essas questões levantadas pela mostra "Imagens de Conflito", que será exibida no Cinusp, com curadoria da professora da ECA/USP, Maria Dora Mourão.
A programação de filmes está inserida no contexto da "2ª Conferência Internacional do Documentário", que será realizada nos dias 19 e 20 de abril, no Cineclube Direct TV, com a participação de pesquisadores, documentaristas e estudiosos brasileiros e estrangeiros. Segundo a professora Maria Dora, a mostra pretende iniciar no Cinusp um debate preliminar, estritamente nacional que, com suas particularidades, encontrará eco e repercussão nas questões mais amplas debatidas posteriormente na conferência.
Na programação estão curtas, médias e longas-metragens. A partir de uma matéria policial: um nordestino, vigia da Light, mata seu conterrâneo, pintor, num bar do Centro de São Paulo, Caso Norte (1977, 38 min.), de João Batista Andrade, vai atrás das versões sobre o crime, mostrando as condições sociais em que vivem os envolvidos e suas famílias. Mato Eles? (1983, 35 min.) apresenta uma reflexão de Sérgio Bianchi acerca do processo de extermínio dos índios da Reserva de Mangueirinha, no Paraná. Um ensaio videográfico de Henri Gervaiseau, Tem que ser Baiano? (1994, 32 min.) mistura seqüências de entrevistas e imagens do passado e presente da comunidade nordestina em São Paulo (há depoimentos de migrantes famosos como Lula e Luiz Erundina), além de discursos de políticos dos anos 30, manchetes de jornais, fotografias, canções e vídeos.
Retrato da violência urbana no Rio de Janeiro, Notícias de uma Guerra Particular (1999, 57 min.), dirigido por João Moreira Salles e Kátia Lund, tem como personagens policiais, traficantes e moradores de favelas. O tema da reforma agrária é retratado no filme Terra para Rose (1987, 84 min.), de Tetê Moraes, que traz a história de uma camponesa que participou da ocupação da fazenda Annoni, no interior do Rio Grande do Sul. Em Cabra Marcado para Morrer (1984, 119 min.), o cineasta Eduardo Coutinho, volta, depois de 17 anos, ao sertão do Nordeste em busca dos principais personagens de um filme interrompido em 1964 pelo golpe militar. O primeiro seria uma reconstituição ficcional da ação política que levou João Pedro Teixeira, líder da Liga Camponesa de Sapé, a ser assassinado em 1962; o filme definitivo é um documentário reflexivo, em que Coutinho retoma o sentido das experiências vividas por todos durante o golpe e também os 20 anos de história brasileira e obscurantismo.
ABC da Greve (1979/1990, 90 min.), de Leon Hirszman, mostra a greve sindical de 1979 no ABC paulista, a primeira fora das fábricas, em um filme rodado em mutirão, com câmera na mão, equipe reduzida e roteiro mínimo. A história de O Rap do Pequeno Príncipe contra as almas sebosas (2000, 90 min.), de Paulo Caldas e Marcelo Luna, gira em torno de dois personagens reais, Garnizé (músico, componente de uma banda de rap) e Helinho (justiceiro, conhecido como Pequeno Príncipe, acusado de matar 65 bandidos), ambos moradores da cidade do Recife (PE). E por fim, Conterrâneos Velhos de Guerra (1992, 153 min.), de Vladimir Carvalho, mostra a história da construção de Brasília a partir da memória dos trabalhadores que vieram do Nordeste.
O Cinusp exibe ainda, nos dias 17, 18 e 19, uma pequena extensão do 7º Festival É Tudo Verdade, com filmes que reforçam a temática privilegiada na mostra, que é a dos conflitos sociais e a violência. São eles: El Juego de Cuba (Cuba/Espanha), de Manuel Martín Cuenca; Fujimori et Montesinos, le dictateur et son double (França), de Yves Billón e Antonio Wagner; Timor Lorosae - o massacre que o mundo não viu (Brasil), de Lucélia Santos; e Evangelho Segundo Jece Valadão (Brasil), de Joel Pizzini.

A mostra tem sessões às 16h e 19h, no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias, Cidade Universitária, tel. 3091-3540). Gratuito.


Programação da Semana

Segunda
16h - Cabra Marcado para Morrer
19h - Conterrâneos Velhos de Guerra

Terça
16h - Caso Norte e Notícias de uma Guerra Particular
19h - Cabra Marcado para Morrer

Quarta
16h - Conterrâneos Velhos de Guerra
19h - Caso Norte e Notícias de uma Guerra Particular

Quinta
16h - Cabra Marcado para Morrer
19h - ABC da Greve

Sexta
16h - ABC da Greve
19h - Conterrâneos Velhos de Guerra

Acompanhe o restante da programação semanalmente na agenda do Caderno Vamos.

 




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