NESTA EDIÇÃO
De todas as histórias que o Brasil viveu nas 16 Copas do Mundo que disputou — a 17ª é esta agora do Japão e da Coréia —, pelo menos duas podem ser consideradas os mais terríveis traumas da torcida brasileira: a final perdida para o Uruguai, em pleno Maracanã, em 1950, e o “desastre do Sarriá” em 1982, quando a seleção de Zico, Sócrates, Falcão e Cia. foi eliminada da Copa da Espanha pela Itália de Paolo Rossi. De 1950 muito já se falou, mas o Mundial perdido há duas décadas ainda está sendo digerido por todos os brasileiros. Nesta época de mais uma Copa, o tema “futebol” é obrigatório nas estantes das livrarias (veja sugestões de leitura nesta página), mas pelo menos um é essencial para se entender o que aconteceu naquele fatídico dia 5 de julho de 1982: O Trauma da Bola, uma seleção editada pela Cosac & Naify de artigos escritos na época pelo jornalista João Saldanha. E ninguém mais abalizado para falar de futebol brasileiro.
Afinal, Saldanha — que morreu aos 73 anos durante a cobertura da Copa do Mundo da Itália, em 1990 — não era um jornalista qualquer, mas sim um dos mais prestigiados e respeitados cronistas esportivos brasileiros de todos os tempos. Que, nas horas vagas, ainda se travestia de treinador. Se a seleção foi tri no México, deve muito a ele, que antes de ser apeado do comando do escrete canarinho teve a “ousadia” de unir em campo Pelé e Tostão e criar “as feras do Saldanha”. Depois, entrou Zagalo e o resto é história. Pois Saldanha, se era passional por natureza, também sabia dissociar essa paixão pelo futebol de suas críticas — como todo bom observador deve fazer — e colocava o dedo nas feridas que a bola por ventura pudesse causar. E nas crônicas reunidas agora, que refazem a trajetória da seleção comandada por Telê Santana dos preparativos para a Copa até o dia do Juízo Final contra os italianos em Barcelona pode-se denotar que a seleção era boa, sim, mas tinha lá seus problemas estruturais. Ou seja, estava um tanto distante de ser aquele time imbatível, “de sonhos”, que a torcida vislumbrava. Era bom? Não, era muito bom. Mas estava longe de ser inexpugnável.
“Sofreu a torcida brasileira. A catastrófica entrada de Dirceu levou nosso time a uma total insegurança”, escreveu ele logo após a estréia contra os soviéticos (2x1 para nós), estranhando o fato de, na hora agá, Telê tirar da ponta-direita Paulo Izidoro — que vinha jogando há dois anos na posição — para colocar o canhoto e decadente Dirceuzinho. Depois disso, a seleção cresceu, deslumbrou meio mundo, mas não levou Saldanha a delírios. Ele mantinha os pés no chão e denunciava, a todo momento, que a equipe brasileira estava fora de forma e que nossos craques poderiam ratear a qualquer momento. E foi justamente o que aconteceu contra a Itália. O que para 99% da torcida foi uma catástrofe, para Saldanha foi algo óbvio — que toma contornos de heresia diante de torcedores mais exaltados: a Itália ganhou do Brasil porque foi melhor, e levou a taça porque estava melhor preparada. Ponto.
“Tantos crimes contra o bom senso, contra o senso comum, não poderiam passar impunemente. (...) Alguém andou rebolando ali e o time italiano, que estava melhor fisicamente do que o nosso, veio para cima e pôde ganhar. Paciência. Mas a estupidez tem um limite de tolerância”, apontou ele logo após a desclassificação brasileira, falando de determinadas teimosias de Telê e da falta de fôlego do time. Craques carregam um time para a vitória, mas até eles se cansam. Foi o que aconteceu. Ler João Saldanha 20 anos depois é fazer um acerto de contas com a história e compreender que o Brasil perdeu aquela Copa não por um desejo dos deuses, mas por percalços próprios. Paolo Rossi fez a parte dele. Nós é que, segundo Saldanha, não tivemos pernas para fazer a nossa.


Futebol em Quadrinhos


Juntar 13 pernas-de-pau para fazer um livro sobre futebol não parece ser uma grande idéia. Agora, se todos forem grandes criadores de HQs, dotados de senso de humor e observação fora do comum, o resultado surpreende. É o caso de Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol (Via Lettera, 110 págs., R$ 38,00, colorido), que traz 11 histórias em quadrinhos de amor e ódio com o futebol. Destaque para a inovadora mesa-redonda de Caco Galhardo, o passado futebolístico conturbado de Allan Sieber e a alucinada partida entre Framinengo e um timeco, de Leonardo. Prefácio de Tostão e quarta-capa de José Roberto Torero.


A Regra é Clara

Jargão usado pelo árbitro Arnaldo Cezar Coelho dá título ao seu livro. Juiz da partida final da Copa do Mundo de 1982, Cezar Coelho revela aspectos de sua vida ligados ao futebol, contando boa parte da história do futebol brasileiro e internacional das décadas de 60, 70 e 80, além de casos curiosos envolvendo árbitros. São 30 anos dedicados à arbitragem, primeiro no futebol de areia, depois no futebol de campo, e outra década como comentarista. A obra apresenta ainda as 17 regras do futebol, sua origem e seu desenvolvimento histórico. A Regra é Clara (Editora Globo, 272 págs., R$ 32,00, ilustrado).





Camisa 13

Os melhores times do Brasil retratados por escritores/torcedores. Assim é a Coleção Camisa 13 da DBA, que já lançou O Vermelho e O Negro, de Ruy Castro sobre o Flamengo, e Dicionário Santista — Santos de A a Z, mas sem X, de José Roberto Torero. O último é Palmeiras — Um Caso de Amor (120 págs., R$ 35,00), de Mario Prata, que traz a história de um romance entre uma palmeirense e um corintiano, além da maior goleada do Verdão em cima do Corinthians, o título mundial de 1951, os maiores craques e artilheiros, as finais do Supercampeonato Paulista de 1959, o hino e a mudança de nome, de Palestra Itália para Palmeiras.




Pelas Barbas do Profeta!
Desde sua estréia como primeiro repórter esportivo de campo do País pela TV Paulista, em 1952, o jornalista Silvio Luiz não parou de chocar a audiência com sua irreverência e franqueza peculiares. Para realizar a biografia Olho no Lance (Best Seller, 320 págs., R$ 35,00), Wagner William entrevistou mais de uma centena de pessoas que tiveram contato com o narrador durante sua carreira. E não falta assunto: conforme avançam os capítulos, descobre-se o dia em que Silvio teve que fugir correndo de um goleiro, a entrevista em que transmitiu o primeiro palavrão pela TV, seu trabalho como ator e árbitro e muitas outras histórias.
 




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