NESTA EDIÇÃO

 




A última semana foi, oficialmente, a Semana Mundial do Meio Ambiente. Apesar da data, entretanto, não há muito o que comemorar. Pelo menos segundo José Goldemberg, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, que em artigo publicado na última quarta-feira, dia do 10º aniversário da Eco-92, afirmou que “poucas foram as conseqüências práticas da Conferência do Rio”. Ele lembra que, desde então, o Protocolo de Kyoto — que estabeleceu metas e prazos para a redução das emissões que causam as mudanças climáticas — não entrou em vigor, a Convenção da Biodiversidade não foi implementada e a Agenda 21 ficou no papel. Ressalta, entretanto, um motivo digno de alguma comemoração: “Nestes últimos dez anos, houve uma enorme conscientização a nível mundial e no Brasil sobre a importância da preservação do meio ambiente, preocupação esta que era considerada um estorvo pelos que desejavam um desenvolvimento a qualquer custo”.
A situação não é de todo má, mas o fato é que há muito ainda a ser feito. E uma série de palestras e eventos realizados em diferentes unidades da USP — como o Instituto de Ciências Biomédicas, a Faculdade de Enfermagem, Faculdade de Saúde Pública e a Escola de Comunicações e Artes — em torno do tema mostrou que o conhecimento, teórico e prático, produzido na Universidade pode ter um papel essencial nesse processo, em que, muitas vezes, soluções simples são responsáveis por efeitos impressionantes.
Um exemplo disso foram as palestras realizadas no ICB que procuraram, através de experiência adquirida na Universidade, pensar o problema de forma nacional e até global. Os temas abrangeram desde qualidade do ar e coleta seletiva de lixo a programas de uso racional de energia e de água. A idéia, segundo a professora Irma Nelly Gutierrez Rivera, organizadora do evento e coordenadora do programa USP Recicla no ICB, era “conscientizar as pessoas de que o meio ambiente tem uma influência direta na qualidade de vida”.

Máximo aproveitamento

Apesar das diferentes abordagens, as discussões apontaram para um caminho comum: a solução, pelo menos em um primeiro momento, está em maximizar o aproveitamento das tecnologias já existentes. A idéia é oferecer à sociedade os mesmos serviços, com menor ônus para o meio ambiente. Segundo os estudos apresentados, isso seria possível em praticamente todas as áreas, muitas vezes com soluções bastante simples.
No caso da poluição do ar, por exemplo, o professor Gabriel Murgiel Branco, consultor ambiental, explicou que apenas 20% dos carros são responsáveis por 70% da poluição produzida na região metropolitana de São Paulo. Um número bastante alto considerando-se que os veículos são os maiores produtores de monóxido de carbono, entre outros resíduos tóxicos, e que a sua atuação tem resultado direto na qualidade do ar.
Os carros velhos são, naturalmente, maioria nesses 20%, mas o consultor ambiental alerta para o fato de que existem muitos carros novos sem catalisadores que são altamente poluentes. Controlar a emissão dos veículos em uma cidade como São Paulo não é uma tarefa fácil, mas segundo Murgiel, que trabalhou mais de 20 anos na Cetesb, muita coisa tem sido feita nesse sentido e bons resultados foram obtidos, como, por exemplo, os decorrentes da adição de álcool na gasolina.
O próximo passo seria, para ele, aumentar a inspeção dos veículos para tirar da frota aqueles altamente poluidores. “É preciso criar um método efetivo de inspeção. A pessoa faz o teste, se não passar, tem um mês para arrumar o problema. Se não, é multada”, sugere o professor.
Apesar de esse ser um procedimento relativamente complicado, já existe tecnologia capaz de realizá-lo com grande eficácia. Existe, por exemplo, um aparelho desenvolvido nos Estados Unidos capaz de medir com precisão os compostos eliminados por cada veículo enquanto eles transitam pelas ruas. Seria uma espécie de radar, como o que existe para a velocidade, mas destinado a avaliar o grau de poluição produzida pelo carro. Além da medição, o aparelho fotografa o veículo e, por ser móvel, pode ser transportado para diversas localidades. Além de agir diretamente no controle dos veículos, o aparelho tem um grande potencial como instrumento de pesquisa. Através dos dados obtidos em diferentes regiões e em diferentes horários seria possível traçar um perfil bastante preciso da poluição produzida. Um fator de extrema relevância para um problema que só pode ser resolvido se for entendido em toda sua complexidade.
Mesmo no caso da água e da energia, também abordado durante a semana, é possível tirar um maior aproveitamento das instalações já existentes. Um exemplo disso é o programa de economia de energia implantando na USP em 1997. As ações do programa foram, em um primeiro momento, bastante simples e específicas, mas os resultados foram bastante satisfatórios. E isso apenas substituindo lâmpadas, centralizando as faturas e eliminando as multas que totalizavam mais de R$ 70 mil mensais. Agora, segundo o professor Marco Antonio Saidel, coordenador do programa, o projeto está entrando em uma segunda fase com maiores ambições e novas iniciativas. Deverão ser implantadas melhorias no uso do ar condicionado na Universidade, que ainda não conta com nenhum tipo de manutenção, e fontes alternativas de energia, como a solar. “A idéia é diminuir ainda mais o gasto da USP nesse setor e, ao mesmo tempo, fornecer dados para novas pesquisas”, conta Saidel. Novas pesquisas, novas técnicas que deverão, em um futuro próximo, produzir benefícios cada vez mais sensíveis.

 




ir para o topo da página


O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[EXPEDIENTE] [EMAIL]