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Sérgio
Buarque de Holanda em Berlim quando era correspondente dos Diários
Associados (1930) |
O
rapaz magro e alourado carrega sua mala na estação.
É pouca a bagagem que leva. Um tanto desajeitado, com um par
de óculos que lhe dá certa seriedade, ele entra no trem
que parte de Cachoeiro de Itapemirim. Viera para a cidadezinha do
sul do Espírito Santo em 1926, e agora, menos de um ano depois,
voltava ao Rio de Janeiro para retomar sua vida. O trem devagar começa
a andar, deixando tudo para trás. Partia o trem para que, dez
anos depois, em 1936, o rapaz publicasse seu primeiro livro, uma das
obras fundadoras do pensamento brasileiro Raízes do
Brasil. Sérgio Buarque de Holanda, que completaria cem anos
no próximo dia 11 de julho, voltou ao Rio naquele ano mas,
logo depois, embarcava para a Alemanha, onde descobriu a que viria
a ser sua maior vocação a de historiador. Surgia
o interesse pela história, que ele passaria então a
considerar como o elo primordial das ciências humanas.
Antes disso, era essencialmente um crítico literário,
trabalhava também como jornalista, mas tudo não passava
de um bico, e ele sabia não ter encontrado ainda a sua profissão.
O contato com os estudos históricos e sociais alemães
e o fato de ver o país de fora, suscitariam nele a tarefa a
que se propunham os intelectuais brasileiros da época
entender o País. Eu escrevia artigos tentando explicar
o Brasil para os alemães. Só quando você está
no exterior é que consegue ver o seu próprio país
como um todo. Você o encara sob uma perspectiva diferente. E
o Brasil não é fácil de entender, diria
ele anos depois.
Primeiros passos
Sérgio Buarque de Holanda nasceu em 1902, na rua São
Joaquim, no bairro da Liberdade. Sua primeira obra não foi
um livro, mas uma valsa. Composta quando tinha nove anos, a valsinha
Vitória Régia foi publicada na revista Tico-Tico. Ele
a tocou de improviso e alguém escreveu a partitura, que ele
não sabia como fazer. Estudou piano por sete anos. Menino,
gostava de dançar especialmente o charleston
e de ir ao cinema, mas parecia diferente dos outros. Sempre teve compulsão
pela escrita e era um apaixonado pelos livros. Se enfurnava na Biblioteca
Pública do Estado, e lá passava horas, fascinado por
autores vetustos, como os antigos cronistas portugueses. Sem saber
precisar como e por que foi se tornando um escritor. Dei para
escrever com fertilidade e ferocidade inesgotável, bem indigna
do autor remido em que iria me transformar, declarou certa vez.
Em tiras de papel almaço ia tomando notas das leituras e fazendo
anotações diárias. Escrevia ao acaso, um misto
de ficção e ensaio. Fez também os seus versinhos.
Sabia fazer versos no duro diria Manuel Bandeira. Ele,
entretanto, sempre renegou esse seu lado. Não sou escritor
por vocação, nunca fui poeta.. Em 1921, quando
Mário de Andrade publicava a sua Paulicéia Desvairada,
a família Buarque de Holanda deixava São Paulo e se
mudava para o Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, Sérgio Buarque
ingressava na Faculdade de Direito, onde conhece Prudente de Moraes
Neto, que se tornaria seu grande amigo. Começa também
a publicar artigos na Revista do Brasil e em O Jornal. E além
disso lia, lia cada vez com ânsia maior.
Usava nessa época um monóculo, que lhe emprestava um
ar extravagante, e tinha por hábito ir, todas as manhãs,
às livrarias, onde gastava todo o dinheiro que conseguia na
compra das novidades do mundo literário. Desde muito
moço aproveitou ao máximo as leituras e acumulou um
saber que espantava os amigos. Sobretudo porque a sua curiosidade
era dirigida igualmente ao passado e ao presente, à inovação
e à tradição, com o dom contraditório
de se apaixonar tanto pela minúcia quanto pelo conjunto,
escreveu sobre ele Antonio Candido. (Leia entrevista com Antonio Candido
na pág. 12). Em todos os lugares era visto com quatro ou cinco
livros debaixo do braço, lendo na praia, nos bondes, onde estivesse.
Marcava-o também a boemia. Nos cafés as discussões
giravam em torno de política e literatura. No bar Lamas, no
Largo do Machado, passava intermináveis noitadas ao lado de
Prudente de Moraes Neto e de Gilberto Freyre. Mais de uma vez
amanhecemos, bebendo chope, em bares tradicionalmente cariocas, ouvindo
os para nós brasileiríssimos e como que mestres, além
de amigos, da cultura brasileira, Donga, Patrício e Pixinguinha,
recordou Freyre em depoimento. Nenhum de nós três
era musicólogo. Mas dos três, o que, nessas noitadas
inesquecíveis, sentava-se ao piano, boêmio e tocava músicas
saudosas que ele sabia de cor, era Sérgio.
Um tanto estabanado, parecia estar sempre distraído mas, na
verdade, pouca coisa lhe escapava. Sabia tudo, conhecia tudo e entre
os modernistas, com os quais convivia, apesar de ser o mais jovem,
era de todos o mais bem informado. Por Mário e Oswald de Andrade,
foi indicado para ser o representante em terras cariocas da Klaxon
primeira revista do movimento.
Ainda em1922, ano de intensa agitação, acontecia a Semana
de Arte Moderna um libelo contra as tradições.
Sérgio Buarque acompanhava toda a movimentação
e deveria estar no Teatro Municipal de São Paulo naqueles dias.
No entanto, por não ser aluno dos mais aplicados no curso de
direito, acabou ficando de segunda época, o que o deixaria
preso no Rio.
Os primeiros modernistas, não tinham um posicionamento ideológico
definido. É só com a publicação do Manifesto
Pau- Brasil, de Oswald de Andrade, em 1924, que o grupo começava
a se dividir. Contra o Pau- Brasil se insurgia o grupo Anta, em torno
do qual se uniam Plínio Salgado, Cassiano Ricardo e Menotti
del Pichia.
Depois da morte prematura daKlaxon, Prudente de Moraes e Sérgio
Buarque resolvem editar a revista literáriaEstética
, que pretendia garantir certa unidade ao movimento. A pretensa unidade,
entretanto, acabaria já no segundo número. Os dois começam
a criticar os modernistas que não conseguem se livrar do academicismo.
No artigo O lado oposto e outros lados, o futuro historiador
decide romper com todas as diplomacias nocivas e investe
contra os acadêmicos modernizantes, em especial Ronald de Carvalho
e Guilherme de Almeida, que fora sua primeira grande amizade literária.
As reações ao artigo foram grandes, muito maiores do
que se esperava, e a onda de intolerância acabaria por megulhar
Sérgio Buarque em profunda desilusão com a vida intelectual.
O amigo Vieira da Cunha, o chama, nessa ocasião, para dirigir
um jornal em Cachoeiro de Itapemirim, o recém-criado O Progresso.
Sem conseguir enxergar uma saída possível, ele aceita
o convite. Desfaz-se de todos os livros e intempestivamente vai embora,
para se deixar quieto, como um jornalista de roça. Foi ainda
durante essa temporada que trabalhou, pela primeira e única
vez, como advogado. Formado já havia dois anos, atuou como
promotor na cidade de Muniz Freire. Para trabalhar teve que viajar
seis horas no lombo de um burro e quando chegou estava de tal maneira
esfolado, que só um banho de sal-moura foi capaz de fazê-lo
comparecer ao júri no dia seguinte.
Grande gozador, em Cachoeiro se divertia instigando a briga entre
duas famílias rivais, e com suas conversas, um tanto avançadas,
logo ganhou o apelido de Dr. Progresso. Costumava tomar umas e outras
e seria justamente a farra que o curaria da crise existencial. Benditos
porres de Cachoeiro de Itapemirim! Eles nos valeram a devolução,
em perfeito estado, de Sérgio, enfim descerebralizado, pronto
para a aventura na Alemanha, escreveu Manuel Bandeira no livro
Flauta de Papel. Bandeira conta ainda que, não fosse um feliz
incidente, Sérgio Buarque teria se deixado ficar esquecido
em território capixaba. Por um triz que Sérgio
se perde, e foi quando pretendeu ser professor no ginásio de
Vitória. O Estado do Espírito Santo até hoje
não sabe a oportunidade que botou fora quando seu governador
de então voltou atrás do ato que nomeava professor de
História Universal e História do Brasil o futuro autor
de Raízes do Brasil Depois da curta temporada e da escala
no Rio, o futuro autor partiria para Berlim como enviado especial
dos Diários Associados. Rubem Braga conta, em uma crônica
do seu livro Recado de Primavera, que quando os amigos de Cachoeiro
viram aquele nome no jornal se perguntaram, incrédulos : Será
o Dr. Progresso? Ao que alguém respondeu Que o
quê! Então o Chateaubriand ia mandar um bêbado
daquele para a Europa?
Para a Alemanha, Sérgio Buarque tinha levado as notas de um
projeto ainda dos tempos de convivência com Prudente de Moraes
Neto. Enquanto trabalha como jornalista e também como tradutor
de filmes, entre eles o famoso Anjo Azul, com Marlene Dietrich, procura
dar consistência à idéia de um ensaio sobre nossa
formação. A historiografia alemã o influencia
bastante e seu primeiro clássico começava a ganhar forma.
De volta ao Brasil, o livro continuaria a ser trabalhado e seria o
primeiro da coleção Documentos Brasileiros que a Livraria
José Olympio iniciava. Os bares e os cafés cariocas
não têm mais sua presença constante e a literatura
ia perdendo espaço para a história. Começava
uma nova fase em sua vida.
É ainda nesse mesmo ano de 1936 que o boêmio se deixa
aprisionar e se casa com Maria Amélia Alvim. Os filhos começavam
a vir, um atrás do outro, e os livros também. Mas não
muitos.
Num país onde se escreve demais, ele escreveu relativamente
pouco. Ao contrário da precocidade nacional, dos que começam
a produzir com 18 anos e morrem com 25, ele publicou o primeiro livro
aos 34, já em plena maturidade, escreveu Antonio Candido.
Sérgio Buarque sempre foi comedido com a quantidade, preocupado
em esgotar cada assunto, fez de cada livro uma viagem profunda. Seu
estilo devassa o processo histórico e sua cultura monumental
lhe permitia a reconstrução minuciosa da maneira de
ser de povos esquecidos no tempo.
Raízes do Brasil fora apenas o prelúdio. As obras posteriores
se diferenciam imensamente do ensaio de estréia, deixam o cunho
especulativo e interpretativo de lado e passam a estar fortemente
calcadas na pesquisa histórica. Ele valorizava profundamente
a pesquisa empírica em que se deve ir aos fundamentos, aos
manuscritos, aos documentos, e imprimiu essa característica
às suas obras, explica a professora do Departamento de
História, e sua assistente, Suely Robles.
Em 1946, viria o convite para ser diretor do Museu Paulista e depois
de 25 anos distante ele voltava à sua cidade natal. São
Paulo tornara-se inseparável de minha nostalgia da infância
e da mocidade, disse na ocasião.
O contato com a documentação sobre o estado enquanto
esteve à frente do museu o teria motivado a escrever dois livros
- Caminhos e Fronteiras e Monções. Em ambos tratou da
colonização e povoamento dos interiores, em especial
do sertão paulista. Segundo Suely, ele sempre escrevia
motivado pelas lacunas da história do Brasil. Se preocupava
em cobrir os vazios da historiografia buscando assuntos que precisavam
ser pesquisados.
Visão do Paraíso, por muitos considerada sua obra mais
erudita, lhe tomou anos de pesquisa. Em uma época em que predominava
o cunho econômico-social das análises, o livro antecipava
a historiografia das mentalidades francesa, ao estudar os motivos
edênicos dos descobrimentos. Com os pés fincados nos
estudos literários,Sérgio Buarque faz uma recomposição
da concepção paradisíaca que os descobridores
tinham do Novo Mundo. Os fundamentos mais remotos da história
do continente são recuperados e a obra vai atrás do
repertório de crenças e lendas que transmitiam a idéia
de que o Éden terrestre de fato existia. O novo continente
seria uma dádiva divina, uma terra coberta de riquezas, em
que se plantando tudo dá.
Visão do Paraíso foi escrito em 1958 como sua tese de
cátedra para a USP, na qual já dava aulas havia dois
anos. Por isso, apesar da longa pesquisa, como a data do concurso
se aproximava, a redação do livro teve que ser feita
em pouco mais de três meses. A tarefa não custou pouco
esforço ao autor, que era um perfeccionista. Dr. Sérgio
costumava dizer que escrever lhe custava muito. Ele só trabalhava
com dicionários do lado e nunca deixava de escrever cinco ou
seis vezes o mesmo texto, se lembra Suely. Era muito rigoroso
e buscava a precisão das palavras. Apesar de ser reconhecido
por suas qualidades literárias, dono de um estilo raro no ensaísmo
brasileiro, ele mesmo declarou em depoimento: Tenho aguda consciência
de minhas limitações pessoais como escritor, e confesso
aqui, sem modéstia fingida, que hoje, na idade a que cheguei,
o ato e o hábito de escrever me vão fugindo cada vez
mais.
Logo que passou a trabalhar na Faculdade Filosofia, que ainda funcionava
no prédio da Maria Antonia, Sérgio Buarque se mudou
para o Pacaembu. Na rua Buri, nº 35, a casa em estilo normando
tinha as portas sempre abertas e vivia cheia de historiadores, de
amigos e dos seus alunos. Longe do estereótipo do intelectual
casmurro, Sérgio Buarque era um exímio contador de histórias
e um grande gozador. A sua casa era uma festa, conta José
Sebastião Witter, professor aposentado do Departamento de História
da USP, que foi seu aluno e assistente. Ele sempre nos chamava
para ir lá. Até um determinado momento se discutiam
as questões do departamento, das pesquisas, mas tudo sempre
terminava em uma conversa sobre música, uma piada, uma fofoca
sobre os outros catedráticos. Como professor, gostava
de emprestar livros aos seus alunos, de sugerir temas para as pesquisas
e, ainda que não intencionalmente, criou uma geração
de historiadores. Ele imprimiu suas características ao
grupo. Sabia que às vezes belas construções teóricas
não se apóiam na realidade histórica e por isso
valorizava a pesquisa com documentação, explica
Suely.
A ditadura militar viria em 1964, mas a repressão chegaria
ao ápice quatro anos depois. Com o AI-5, as persseguições
políticas aumentaram e, dentro da Universidade, vários
professores foram afastados compulsoriamente. Sérgio Buarque
de Holanda não deixou de se posicionar e resolveu se aposentar
como forma de protesto. O historiador que sempre fora um supersticioso
tinha tanto horror ao número13 que nunca deixava o 13º
cigarro sobrar no maço deixava a Universidade depois
de exatos13 anos de trabalho. Ele não voltaria mais a dar aulas,
mas nunca deixou de pesquisar. Já no final da vida resumiu
sua experiência: Geralmente confundem historiador com
antiquário. Escrever história é ter uma visão
dialética do passado e, eventualmente, de suas consequências
no presente. Seu último grande trabalho foi a coordenação
da série História Geral da Civilização
Brasileira, da qual esteve a frente de sete dos 11 volumes. Para essa
empreitada, mobilizou, entre 1960 e 1972, dezenas de colaboradores
mas acabou fazendo sozinho um dos livros. Quando chegou ao 7º
volume, cansado das cobranças e dos atrasos, escreveu as quase
500 páginas de Do Império à República.
Com esta obra, o autor se tornava um dos maiores especialistas no
período imperial. Trata-se de um grande livro, de uma
modernidade extrema, mas que acabou não tendo a repercussão
que merecia porque trata, na década de 70, de temas que só
agora estão sendo pesquisados, diz Suely. Sua preocupação
política, que sempre fez questão de manifestar em suas
obras e em suas atitudes, acabariam por levá-lo a ser um dos
fundadores do PT, em 1980. O historiador morreria dois anos depois.
Ainda na mesma crônica do livro Recado de Primavera, Rubem Braga
rememora uma certa noite de verão, com lua cheia, quando Sérgio
saía de um baile não em Cachoeiro, mas na Vila
de Itapemirim. Ele dizia que ia acender o cigarro na Lua. E
partiu, cambaleando entre as palmeiras. Vai ver que acendeu.
Um
clássico de raízes
Um clássico
de nascença. Assim Antonio Candido definiu o primeiro
livro de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil.
Mas Sérgio Buarque não foi autor de um livro só.
Escreveu tratados de peso, comoVisão do Paraíso, e o
ainda esquecido Do Império à República, que faz
uma minuciosa análise de nosso passado monárquico. Contudo,
esse seu livro de estréia tornou-se tão famoso que fez
esquecer os outros. Publicado em 1936, quando a ditadura do Estado
Novo batia às portas, trata-se de obra curta, de texto discreto,
com poucas citacões, mas que marcaria definitivamente a maneira
de se fazer e se pensar história no Brasil.
Nesse ponto de superação das tradições,
o autor critica a cultura personalista, a colonização
predatória, a ação das elites, a literatura que
é simples manifestação do bacharelismo. Ao construir
a obra sobre uma metodologia dos contrários, opondo os pares
o trabalho e a aventura, o rural e o urbano, o impessoal e
o afetivo - ele se debruçava sobre os fundamentos de nosso
destino histórico.
Projeto
para o Brasil
Esse
seu primeiro livro é um ensaio histórico, fácil
de ler e muito interpretativo, define Suely Robles, professora
do Departamento de História da USP. Até Raízes
do Brasil , Sérgio Buarque de Holanda era um crítico
literário. Foi depois de sua viagem à Alemanha que
lhe surgiu o interesse pelos estudos históricos e sociais.
Marcado pelos livros de Max Weber e pelas aulas de Meinecke que
assistiu em Berlim, chegou ao Brasil tendo nas mãos um calhamaço
de mais de 400 páginas, um rascunho do que viria a ser Raízes
do Brasil. Nesse seu pequeno grande ensaio, ele somava os seus talentos
o de escritor e o de historiador. À análise
revolucionária, que abordava temas sobre os quais se silenciava,
junta-se uma prosa clara, de estilo elegante e sem pedantismos.
No apontar de nossas mazelas, Raízes vê os processos
políticos e econômicos também como fenômenos
culturais. Para o homem cordial , categoria que o autor define no
livro, todas as relações são baseadas no afeto
e não na razão, o que explicaria a confusão
freqüente entre o público e o privado, e a maneira como
se constituiu o Estado brasileiro como uma extensão
da família. Bom exemplo disso é o critério
que os donos do poder sempre utilizaram na admissão dos servidores
públicos as relações familiares e de
simpatia. Nessa sua análise, a dimensão personalista
invade a política.
Sérgio Buarque não busca no passado lições
para o presente, ele procura na história formas de superá-lo,
lá estão os adversários a combater. Para nos
livrarmos de nosso passado colonial, da herança rural e oligárquica,
o historiador aponta o poder que teria uma intervenção
de novas forças sociais as massas urbanas e de caráter
cosmopolita. É essa a grande novidade em sua reflexão,
a sua radicalidade. Dr. Sérgio sempre dizia que é
preciso dar voz aos que não têm, lembra José
Sebastião Witter, seu assistente e ex-diretor do Museu Paulista.
Com Sérgio Buarque, o povo até então expulso
das narrativas oficiais ganhava o seu lugar. Se tornava ator da
história, dono do seu destino.
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