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Uma
seqüência de fotos nas 36 janelas convidam a um novo
olhar sobre a FAU |
A
arte não reproduz o visível,
torna visível. Quem observar as 36 janelas do segundo
piso do prédio da FAU, vai ver cada letra desta frase de
Paul Klee gravada nos vidros das janelas. Se olhar, mesmo de relance,
vai ver também que estas letras estão sobre fotos
que retratam a mesma paisagem oferecida pelas janelas. Mas se tiver
a sensibilidade de estreitar o olhar, há de ver muito além.
Quem sabe poderá apreciar o diálogo da luz destas
manhãs e tardes de inverno atravessando a copa das árvores
e iluminando todo o espaço que o professor Vilanova Artigas
projetou. Certamente, o arquiteto deve ter pensado no efeito desta
luz que tão poucos valorizam. Não a luz óbvia.
Mas a luz que dança criando uma sombra aqui e acolá.
Se tiver leveza e imaginação há de captar ainda
uma outra paisagem igualmente generosa: a natureza dos reflexos.
Foi pensando em despertar o invisível, que o artista Sérgio
Régis Martins, também professor do Departamento de
Programação Visual, montou uma instalação
especialmente criada para a FAU. A proposta é instigar o
público da USP a um novo olhar. Quero convidar as pessoas
a um passeio pelo espaço, diz Martins. Observar
o prédio, o entorno, a luz...
O convite, no entanto, é feito sem imposição.
Mesmo porque, o artista desenvolveu um trabalho integrado por montagens
sutis. A sua obra não causa nenhuma pressão, nenhum
grande impacto. É como se ela estivesse por ali desde sempre...
Tal leveza, no entanto, não é por acaso. Martins vem
desenvolvendo há dez anos uma pesquisa rigorosa sobre a importância
do convívio entre a arte e arquitetura. Acredita que esta
integração pode tornar a cidade mais humana e a vida
muito melhor. Estou chamando esta instalação
de Projeto FAU-USP nº 1 porque é a primeira de uma série
que pretendo montar tanto na Universidade como em outros pontos
da cidade, especialmente no Centro e junto das estações
de Metrô, explica. A minha meta é entrar
no cotidiano. Levar as pessoas a repensar os lugares por onde passam
todos os dias com um olhar e um pensamento diferentes. Este é
um projeto que gostaria de desenvolver com outros artistas. Queria
sugerir um percurso novo pelos mesmos lugares.
Uma escada onde se lê sobre os tijolos a palavra ancestral.
Ao lado, outra escada com dois degraus com a base de lâmpadas
fosforescentes e um espelho onde está gravada uma citação
de Shakespeare: Palavras sem pensamento jamais chegam ao céu.
Junto com a frase estão refletidos os quadrados do teto da
FAU. Tal leitura sugere a visão do espaço de um ângulo
diferente. Não o ângulo matemático. Mas o ângulo
da reflexão.
A criação destes objetos na entrada do prédio
sugere que o visitante suba as escadas. E veja o quadro de lâmpadas
nas cores azul e verde do símbolo da FAU. Importante, porém,
é o efeito das luzes nos vidros das janelas, no chão
ou integradas com a luz natural do dia.
Todo esse olhar é reforçado por um vídeo sobre
a FAU.
A instalação torna visível também a
trajetória do artista. Sérgio Régis Martins
define-se como um pós-minimalista e um pós-conceitual.
Paulista de Guararapes, formou-se na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP em 69. Enveredou pelas artes gráficas e
artes plásticas. Fez mestrado na PUC em Comunicação
e Semiótica e doutorado em Programação Visual
na USP. Nos últimos anos, tem procurado aliar fotografia
e performance. Na FAU, o seu empenho como professor é incentivar
o experimental entre os alunos. Resgatar o conceito deixado por
Flávio Império, que revolucionou o aprendizado da
arquitetura incentivando a performance, a cenografia e, especialmente,
o projeto fluindo com criatividade e imaginação. É
exatamente a imaginação que preenche os espaços
vazios da instalação de Martins, tornando o invisível,
visível.
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Espaços
para o pensamento |
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