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Representantes da Filosofia com o reitor: o começo do entendimento
Dia 9, Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas aceitou a proposta apresentada pelo reitor Adolpho José Melfi em reunião de terça-feira (30), na Reitoria, que prevê a contratação de 68 professores ainda este ano e de mais 24 em 2003, e o diretor Sedi Hirano, que assume oficialmente suas funções dia 12, está convocando uma reunião dessa mesma Congregação para quinta-feira (8), a fim de discutir a situação criada com a greve dos alunos e o calendário escolar (reposição de aulas). A direção da faculdade quer primeiro aguardar a reunião dos alunos marcada para quarta-feira (7) e faz um apelo para que eles compareçam aos debates e participem das assembléias. Na noite de quarta-feira (31), os estudantes fizeram uma assembléia no Anfiteatro da História e rejeitaram a proposta apresentada pelo reitor. O documento distribuído pela Congregação (leia ao lado) é a única manifestação oficial da Filosofia. Sedi Hirano desmentiu informação divulgada por um jornal da capital de que a faculdade estava convocando uma reunião de professores e alunos para esta segunda-feira.
Ao apresentar a proposta oficial da Universidade para preenchimento de claros na Filosofia, o reitor afirmou: “Entendo que a presente proposta constitui o limite máximo a que se pode chegar, no momento, no que se refere à concessão de claros (contratação de docentes) à FFLCH. Qualquer alternativa que implique alteração dos termos deste documento terá que ser submetida à apreciação do Conselho Universitário.” Melfi sugeriu ainda dar continuidade à análise das questões referentes ao item 4 do documento elaborado no dia 2 de julho pela Comissão Tripartite — composta por representantes da Reitoria, da faculdade e dos estudantes. Esse item 4 se refere à reposição das vagas decorrentes de aposentadorias, com exceção das compulsórias, aquelas ocorridas quando o docente atinge 70 anos de idade. Tais vagas devem ser repostas “mediante o exame, por parte da Comissão de Claros da Reitoria, de documentação encaminhada pela unidade, demonstrando que tais aposentados vinham contribuindo plenamente para o bom andamento das atividades didáticas e acadêmicas em seus respectivos departamentos”, segundo a proposta da Reitoria


Posição da Congregação

Este é o documento divulgado quinta-feira (1º) pela Congregação da FFLCH:

"A Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, reunida no dia 30 de julho de 2002 para avaliar o documento apresentado pelo Magnífico Reitor referente à concessão de claros, considerou que a proposta:
1) consolida uma vitória da FFLCH protagonizada pela organização do movimento estudantil e apoiada pelos professores e funcionários.
2) é aceitável pelas seguintes razões:
a) a concessão de 68 claros no ano de 2002 e a antecipação de 24 claros para 2003 representa um avanço em relação à proposta anterior;
b) a manutenção do item 4 da proposta anterior representa a possibilidade de conquista de novos claros para suprir as necessidades de ordem acadêmica, garantindo a continuidade das negociações.
A Congregação decidiu ainda empenhar-se na recomposição do 1º semestre letivo e na realização plena tanto do 2º semestre como do cronograma do vestibular de 2003.
Finalmente, a Congregação entende que a continuidade do movimento, para viabilizar a conquista de novos claros, além desses 92, exige que a Faculdade volte-se agora para uma profunda reflexão sobre seu perfil e seus cursos. Para isso propõe a elaboração de uma agenda de discussão, oficialmente assumida pela faculdade e construída com a participação de alunos, professores e funcionários".
O documento é assinado pelo professor Sedi Hirano, presidente da Congregação e novo diretor da unidade.



Gritos e aplausos por mais docentes
Roberto C. G. Castro

 

Anfiteatro lotado e participação de estranhos instigando a greve

“A greve continua. A greve continua”, comemoraram aos gritos os alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, assim que aprovaram a resolução de dar continuidade ao movimento iniciado no dia 2 de maio. Em assembléia realizada quarta-feira – que reuniu cerca de 300 pessoas no anfiteatro do Departamento de História –, os estudantes rejeitaram a proposta feita no dia 29 pela Reitoria da USP, que concedia 92 professores para a faculdade até 2003, e insistiram na contratação de 259 docentes, a principal reivindicação do movimento. A assembléia aprovou ainda que os alunos não negociarão com o Conselho Universitário – o órgão com que, segundo a Reitoria, os estudantes teriam de tratar caso a proposta do dia 29 não fosse aceita.
Iniciada pouco antes das 20 horas, a assembléia foi bastante concorrida. Logo após os primeiros informes, alguns alunos perceberam que o anfiteatro da História era pequeno para comportar tanta gente e propuseram fazer a reunião do lado de fora. Os organizadores alegaram que isso era impossível porque não haviam preparado o sistema de som. Entre não ter som do lado de fora e ficar apertados dentro do anfiteatro, outros participantes sugeriram adiar a assembléia. “Vamos acalmar, pessoal, senão a gente não vai acabar isso hoje”, avisou um dos organizadores, diante da polêmica gerada. Prevaleceu uma solução salomônica: a reunião prosseguiria ao mesmo tempo em que representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) sairiam para providenciar o som. Resolvida essa questão, passou-se a palavra a quem quisesse falar. Inscreveram-se 43 alunos. Nos dois minutos a que tinha direito, cada um deles expôs sua visão do movimento, das “correlações de forças” com a Reitoria e do caminho a seguir. Desde o início das exposições, os alunos favoráveis a um acordo com a Reitoria e ao fim da greve recebiam aplausos mais moderados. Esses alunos calculavam que, embora a proposta de 92 professores até 2003 fosse “ainda insuficiente”, ela representava “um avanço” do movimento estudantil. Para eles, esse número proporcionaria um significativo aumento de 20% no corpo docente da faculdade. Além disso, ponderavam, caso a greve persistisse haveria o grave risco de perda do semestre. Voltar às aulas e “encaminhar outras formas de luta” seria o melhor a fazer, de acordo com esses estudantes.
Mas os aplausos mais entusiasmados eram dirigidos aos inflamados discursos em favor da manutenção da greve. Segundo os oradores, o movimento deveria continuar porque tem o apoio dos alunos — que há três meses deixam as salas de aula vazias —, revela força ao organizar assembléias com média de 250 participantes e é reconhecido pela imprensa, que quase diariamente divulga informações sobre a faculdade. “O número 259 não é fetiche”, bradou um dos alunos. “É um número estudado, coerente com nossas necessidades.”
Simpatizantes do movimento não-ligados à faculdade também participaram da assembléia e falaram aos estudantes. Um deles foi o candidato ao governo do Estado pelo PSTU, Dirceu Travesso. Ele foi convidar os alunos a se unirem a outros movimentos sociais, como o MST. “Se unificar a luta, vocês poderão ter seus professores”, disse. Um estudante, que se identificou apenas como “aluno de História de uma universidade estadual com reitor também imposto pelo PSDB”, elogiou o movimento estudantil uspiano, capaz de realizar, em pleno mês de férias, uma assembléia “esbarrotada”. Segundo ele, a greve na USP serve de “inspiração” para outras universidades públicas. “É preciso impulsionar essa greve para impulsionar a greve em outras universidades”, discursou. “Desconfiem do comando de greve se ele pedir o fim da greve e revoguem essa proposta.” Nesse momento, os discursos foram interrompidos pelos alunos do DCE que foram providenciar o sistema de som: não foi possível conseguir a aparelhagem porque faltou um cheque caução de R$ 400,00 para ser retirada. Não faltaram rusgas entre os estudantes. Um deles insinuou que alguns alunos propõem o fim da greve porque “têm o rabo preso lá fora”. Outro esbravejou que existem colegas servindo de “papagaio” da Reitoria e da Congregação da faculdade. Sobraram farpas para o Partido dos Trabalhadores (PT) por este “criticar o PC do B” e “estar ligado a empresários como José Alencar”, numa referência ao candidato à Vice-Presidência da República na chapa do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Ponderado, um aluno lembrou que a “pior coisa” do movimento estudantil é achar que há alunos que fazem o “jogo da Reitoria”. “Não é por aí, gente.”

 




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