Através
de um retrato fiel da realidade, com uma São Paulo assolada
pela miséria e violência, o cineasta Ugo Giorgetti recupera
a memória da cidade vinte anos mais nova. Traz suas transformações
sociais e urbanas, muitas vezes só presentes nas lembranças
de quem viveu aquele tempo. É nesse clima nostálgico
que Giorgetti conduz a narrativa de seu filme O Príncipe, que
faz referência à obra de Maquiavel, com elenco formado
por Eduardo Tornaghi, Bruna Lombardi, Ewerton de Castro, Elias Andreatto,
Otávio Augusto e Ricardo Blat, entre outros.
Na história, depois de morar por duas décadas em Paris,
Gustavo (Tornaghi) volta a sua cidade e ao chegar à antiga
casa na Vila Madalena se depara com os bares, guardadores de carros,
bêbados e até policiais perseguindo bandidos, personagens
comuns nos dias de hoje e tão estranhos a ele. Mas não
foi só a cidade que mudou, as pessoas também e é
isso que ele constata à medida em que reencontra velhos amigos
e até um grande amor do passado.
Nas cenas, filmadas integralmente em São Paulo e principalmente
à noite, aparecem o lixo nas ruas, os mendigos da zona central,
os cadáveres das noites violentas e também o outro lado,
com coquetéis refinados, colunistas sociais, personalidades,
academias e prédios comerciais luxuosos. A captação
de recursos para o projeto do filme teve início em 1999, a
produção começou em junho de 2001 e a montagem
e finalização aconteceram ainda no mesmo ano. A produção
executiva é de Malu Oliveira, a fotografia é assinada
por Pablo Lazzarini e música de Mauro Giorgetti.
A filmografia de Ugo Giorgetti que cursou a Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, quando esta ainda
ficava no prédio da Maria Antonia inclui cinco longas-metragens:
Quebrando a Cara (1977), Jogo Duro (1985), Festa (principal vencedor
do Festival de Gramado de 1988), Sábado (1996) e Boleiros
Era Uma Vez o Futebol, este último alcançou projeção
internacional e rendeu ao cineasta o Prêmio Especial do Júri
de melhor direção no Festival de Amiens, na França,
em 1998. E agora, O Príncipe, que entra em cartaz em circuito
comercial nas principais salas de cinema de São Paulo.
Um
curta sobre a arte de Volpi
Resgatar
histórias que se perdem na memória da cidade é
a tônica de Ugo Giorgetti. É assim que a nostalgia
em seus filmes flui leve e solta. Com esta luz, o cineasta vai apresentar
um documentário sobre as primeiras pinceladas de Alfredo
Volpi (1896-1988) no Brasil. De lembrança em lembrança,
entre documentos e álbuns de fotografias, Giorgetti resgatou
entre os moradores da Vila Monte Alegre, a oito quilômetros
de Piracicaba, a história de uma capela construída
por Pedro Morganti, um dos mais importantes usineiros de açúcar
da América Latina, no começo do século passado.
A usina onde está instalada foi abandonada, mas a capela
continua em pé.
Volpi costumava negar a autoria dos afrescos pintados nesta igreja,
mas os moradores daquele bairro provam o contrário. Giorgetti
registrou os depoimentos e o resultado está no curta Uma
história toscana que também será lançado
ainda neste ano. O filme terá só dez minutos.
Iremos mostrar algumas imagens do passado e do abandono da vila
de hoje, explica o cineasta. Apresentaremos especialmente
a capela, que, sem os afrescos pintados por Volpi, talvez pudesse
ter o mesmo fim da usina. Queremos mostrar como a arte sobreviveu
ao aço, concreto e ferro.
Leila
Kiyomura Moreno
|