O candidato do PT à Presidência da República,
Luiz Inácio Lula da Silva, pretende reduzir a dependência
da economia brasileira aos capitais externos através de uma
política industrial e de comércio exterior que promova
a substituição de importações e dinamize
as exportações. Já o candidato do PPS, Ciro Gomes,
vai insistir nas reformas previdenciária e tributária
o que permitirá deslocar a incidência de impostos
da produção e dos salários para o consumo das
faixas de renda mais alta e para os ganhos de capital e de propriedade.
José Serra, do PSDB, também considera crucial
promover as exportações e substituir importações.
É preciso ter políticas ativas de exportação,
de substituição competitiva de importações
e de estímulo à pesquisa científica e tecnológica
para que a economia cresça de forma sustentável, com
base no aumento da produtividade e da eficiência, acredita
Anthony Garotinho, do PSB.
Essas são algumas propostas apresentadas pelos quatro principais
candidatos à Presidência da República à
revista Estudos Avançados número 45, que será
lançada no final deste mês pelo Instituto de Estudos
Avançados (IEA) da USP. Com exclusividade à revista,
Lula, Ciro, Serra e Garotinho responderam a cinco questões
ligadas ao tema O relacionamento internacional da economia brasileira.
O resultado é um material inédito com propostas efetivas
para a economia do Brasil nos próximos anos. As respostas
abrem um leque de soluções que, enquanto cidadãos,
não podemos ignorar, afirma no editorial o professor
Alfredo Bosi, editor de Estudos Avançados.
Os candidatos tentam se aprofundar nos temas analisados. Lula, por
exemplo, diz que sua política industrial e de comércio
exterior buscará suprir as deficiências de crédito
que o empresário enfrenta no Brasil, aliviar a carga fiscal
sobre a produção e garantir infra-estrutura eficiente,
incluindo o fornecimento de energia e de combustíveis baratos.
Isso implica baratear o embarque e o frete e desburocratizar
todas essas operações nos portos brasileiros, extremamente
onerosas e demoradas para os exportadores, afirma o candidato
do PT, lembrando que essas ações são possíveis
com o uso racional dos quase R$ 30 bilhões de que o BNDES dispõe
a cada ano. Os exportadores brasileiros precisam também
de recursos para investir mais em design e marketing e sobretudo para
melhorar o nível tecnológico de seus produtos.
Com a reforma previdenciária que pretende propor ao Congresso,
Ciro Gomes espera substituir o atual regime previdenciário,
de repartição, por um novo sistema, de capitalização.
Dessa forma, ele acredita obter superávits primários
(a receita menos a despesa, fora juros) que permitam a redução
paulatina da relação entre a dívida pública
e o PIB. A conseqüência imediata das reformas tributária
e previdenciária, diz Ciro à revista do IEA, será
a queda expressiva das taxas de juros, o que dará
à economia do País condições para crescer.
Conseqüência prática: crescerão a produção
e o emprego.
Sobre a regulação dos movimentos internacionais de capital
na economia brasileira, os candidatos têm posições
semelhantes, com algumas variações. Num eventual governo
de Ciro, não haveria nenhuma restrição à
entrada e à saída de capital estrangeiro. Serra ressalva
que a liberação completa do movimento de
capitais financeiros está longe de produzir estabilidade
com crescimento. Quem tem um enorme déficit em transações
correntes e necessita de recursos equivalentes a 10% do PIB a cada
ano para equilibrar o balanço de pagamentos não pode
impor restrições à entrada ou à saída
de capitais, argumenta Garotinho, dizendo-se porém favorável
à proposta do economista James Tobin, que prevê uma taxa
sobre a movimentação de capitais especulativos, a fim
de obter recursos a ser destinados aos países mais carentes.
Reconhecendo que num mundo extremamente competitivo na atração
de capitais externos não convém criar isoladamente
qualquer tipo de obstáculos ao livre fluxo de capitais,
Lula também cita a taxa Tobin, que segundo ele é um
bom mecanismo desde que adotado por vários países
ao mesmo tempo. Certamente o mundo globalizado carece de uma
regulamentação que reduza a instabilidade e a ocorrência
cada vez mais freqüente de crises.
O
acordo com o FMI
Respostas
mais divergentes são dadas pelos candidatos diante da pergunta
O senhor acredita que o atual acordo do Brasil com o FMI,
que vence em 2002, deve ser renovado?. A questão foi
elaborada antes do acordo fechado entre o fundo e o governo brasileiro,
na semana passada. Em sua resposta, Serra se mostra favorável
à renovação do acordo porque isso garantiria
a possibilidade de utilizar os recursos do Fundo em caso de necessidade.
O último acordo com o FMI foi assinado em setembro
do ano passado e abriu ao País uma linha de crédito
de US$ 15 bilhões, justifica o candidato do PSDB. Garotinho
condiciona a renovação do contrato a uma negociação
com base na soberania do País e nas necessidades e
possibilidades reais da economia. Lula, sempre mais extenso
do que os outros candidatos em suas respostas à revista,
destaca que o Brasil, como sócio quotista do FMI, tem o direito
de sacar dinheiro quando necessário. O problema são
as condições que o FMI tem imposto aos países
que recorrem a ele. Lula conclui sua análise afirmando:
Não é recomendável recorrer ao FMI, a
menos que não haja alternativas, e mesmo assim discutindo
as condições e acertando medidas que não prejudiquem
o País. Melhor que isso é criar as condições
para que seja totalmente dispensável precisar dos préstimos
do FMI. Ciro responde simplesmente: O FMI não
é um bicho-papão.
Além das questões sobre o acordo com o FMI e sobre
a dependência da economia brasileira ao capital externo, Estudos
Avançados faz ainda as seguintes perguntas aos candidatos:
Qual deve ser a posição do Brasil diante do
projeto da Alca?, Que princípios devem presidir
nossa política para administrar a dívida externa do
País? No seu entender ela precisa ser renegociada?
e No presente momento, um crucial desafio da economia brasileira
reside em constrangimentos internacionais, decorrentes do elevado
déficit em nossa balança de pagamentos em conta corrente.
Como o senhor encara essa questão?.
A
revista Estudos Avançados número 45, publicada pelo
Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, será
lançada no final de agosto. A data ainda não estava
confirmada até a semana passada. Mais informações
podem ser obtidas pelos telefones (11) 3091-4442 e 3091-3919.
Revista
discute a Amazônia brasileira
As entrevistas com os candidatos à Presidência do Brasil
são apenas uma das atrações oferecidas pela edição
número 45 de Estudos Avançados. Há muito mais.
A revista traz um dossiê sobre a Amazônia brasileira,
composto por oito artigos escritos por especialistas de diferentes
universidades. Um desses artigos tem como autor o geógrafo
Aziz AbSáber, professor honorário do Instituto
de Estudos Avançados (IEA) da USP. No texto, intitulado Bases
para o estudo dos ecossistemas da Amazônia brasileira,
AbSáber considera que representar a Amazônia como
o império das florestas equatoriais é uma distorção.
Para ele, embora no espaço amazônico total predominem
os ecossistemas de florestas dotadas de alta biodiversidade, pode-se
verificar três categorias de ecossistemas na região.
Essas três categorias são descritas pelo professor no
artigo. O advento de uma correta aplicação do
conceito de ecossistema à Amazônia possibilitará
um aprofundamento da abordagem integrada dos fatos fisiográficos
e bióticos, escreve AbSáber. Trata-se
de uma temática de grande valor para prever impactos provocados
por leis inconseqüentes ou por ações criminosas
de pessoas ou grupos autoritários e insensíveis.
Gerd Kohlhepp, da Universidade de Tübingen, na Alemanha, assina
o artigo Conflitos de interesse no ordenamento territorial da
Amazônia brasileira. Nele, o professor faz um histórico
dos programas de desenvolvimento da região, detendo-se no Avança
Brasil, um conjunto de medidas em favor da Amazônia, com
perspectiva de implantação até 2007, elaboradas
pelo Ministério do Planejamento. Para Kohlhepp, a modificação
das estratégias da política regional e o desenvolvimento
regional descentralizado contempladas pelo programa em andamento
deverão satisfazer as condições de vida
da população local, tendo como base o manejo sustentável
dos recursos e a preservação da biodiversidade da Amazônia.
Outros artigos sobre a Amazônia publicados em Estudos Avançados
são Conquista e ocupação da Amazônia:
a fronteira Norte do Brasil, O balanço de carbono
da Amazônia brasileira, Manejo florestal: questões
econômico-financeiras e ambientais e Recursos minerais
da Amazônia. O dossiê sobre a Amazônia brasileira
será completado na edição 46, a ser publicado
em dezembro, segundo o editor Alfredo Bosi.
Na seção Textos, a revista do IEA traz ainda
quatro instigantes ensaios. Um deles é Vulnerabilidade
externa da economia brasileira, do economista Paulo Nogueira
Batista Júnior. O professor da Faculdade de Direito da USP
Enrique Ricardo Lewandowski assina um artigo sobre o Tribunal Penal
Internacional e o historiador Michael Löwy analisa a filosofia
da história de Walter Benjamin. Uma identidade americana
pluriracial e plurireligiosa: a África negra e Moby Dick, de
Melville, de Viola Sachs, é outro texto da seção.
Por fim, Estudos Avançados publica um ensaio do sociólogo
e professor da USP José de Souza Martins sobre A imagem
incomum: a fotografia dos atos de fé no Brasil, ilustrado
com fotografias coloridas. |