Em
meados de novembro, em data ainda a ser definida, a Pró-Reitoria
de Pós-Graduação da USP estará realizando
um workshop em que diferentes setores da comunidade serão
convidados para discutir as idéias da Comissão para
Estudo dos Cursos de Especialização, geradas a partir
de um amplo diagnóstico sobre a situação dos
cursos de pós-graduação lato sensu, mais conhecidos
como especialização. “O estudo começou
a ser feito a partir de abril, quando suspendemos temporariamente
a criação de novos cursos para que pudéssemos
pensar na elaboração de uma estrutura de funcionamento
única, que nos permitirá um acompanhamento constante
de todas as atividades desenvolvidas por cada turma, única
forma de mantermos nessa área específica da pós-graduação,
no futuro, o nível de excelência que sempre foi a principal
característica da Universidade”, explica a pró-reitora
Suely Vilela. “Esperamos que o evento nos permita entrar em
contato com outras opiniões, as quais serão registradas
por meio da elaboração de um documento que será
encaminhado às unidades para que elas emitam seus pareceres
sobre o tema”, afirma. “A partir disso, a comissão
deverá apresentar uma proposta definitiva, que será
submetida à aprovação do Conselho de Pós-Graduação.”
A USP
possui 111 cursos de especialização, distribuídos
por 17 unidades. Neste semestre, 58% estão ativos, o que
significa que estão sendo oferecidos e possuem alunos matriculados.
Eles vão desde residências médicas a aprimoramento
profissional, passando pelos MBAs, conjunto que, em dez anos de
atividades, já formou 9.500 profissionais.
No
stricto sensu, os números são mais impressionantes
ainda: são 23 mil estudantes regularmente matriculados e
outros 9.500 especiais – aqueles que não fazem mestrado
ou doutorado mas têm interesse em cursar determinadas disciplinas
oferecidas nesses cursos. Segundo a pró-reitora, só
para se ter uma idéia do que isso representa, a graduação
hoje possui algo em torno de 40 mil alunos. “A pós
cresceu tanto nos últimos anos que já atinge metade
da quantidade de estudantes da graduação”, diz
Suely. “O Brasil é o país que possui a maior
pós-graduação stricto sensu da América
Latina, com 790 programas, enquanto o segundo colocado, o México,
possui 390”, informa. “Desse total, a USP é responsável
por 222 programas, subdivididos em 214 cursos de mestrado e 206
de doutorado, que abrangem 271 áreas de concentração
do conhecimento, o que significa, na prática, um enorme mar
de possibilidades para a construção de novos conhecimentos
e para os jovens que pretendem dedicar sua carreira ao estudo de
determinadas questões.”
O lato
sensu é voltado para a formação profissional
em uma área do saber, enquanto o stricto sensu tem como meta
formar mestres com sólida formação acadêmica,
o que lhes permite desenvolver atividades de pesquisa, ensino e
extensão, e doutores que, além das características
de um mestre, são fortemente voltados para a produção
de novos conhecimentos.
De
acordo com Suely, com relação à pós-graduação,
apesar da Universidade ter no stricto sensu sua prioridade, o oferecimento
do lato sensu também tem se tornado cada vez mais necessário,
devido às crescentes demandas da sociedade por profissionais
especializados em determinadas áreas, voltados para a solução
de problemas localizados. “A USP tem a obrigação
social de oferecer todos os modelos possíveis de cursos”,
diz. “Não é o mercado que vai determinar o que
devemos fazer, mas sim os nossos princípios, que dão
base para a própria existência da Universidade, a partir
dos quais sempre procuramos suprir as necessidades da sociedade.”
Com
exceção das residências médicas e dos
aprimoramentos, os outros cursos de especialização
deverão ter, segundo a comissão, no mínimo
720 horas, divididas em 360 de formação teórica
e outras 360 de atividades práticas e de campo, com duração
total entre um e dois anos.
Outra
idéia que será levada para o workshop é que
o ingresso dos candidatos continuará sendo por meio do mérito,
estabelecido a partir de determinados critérios de seleção.
Para a aprovação, o aluno continuará tendo
que freqüentar, no mínimo, 75% da carga horária,
se submeter a avaliações periódicas de acordo
com a natureza de cada curso e entregar, no final, um trabalho de
conclusão.
Para
manter o monitoramento constante das atividades dos cursos pela
Pró-Reitoria, a comissão defende que a aprovação
para a abertura de novas turmas seja dada ano a ano, caso a caso.
E que, no mínimo, 80% dos professores tenham o título
de doutor, sendo que a maioria deles deverá ser, obrigatoriamente,
docente da USP.
Segundo
Suely, outra meta da Comissão é estimular o financiamento
de alguns dos cursos lato sensu pelas empresas, por meio do estabelecimento
de parcerias, e constituir um fundo que seria aplicado na criação
e manutenção de cursos de importância social,
e na constante melhoria de toda a pós-graduação,
incluindo o stricto sensu. “O fundo seria constituído
por meio de depósitos de uma porcentagem fixa, retirada dos
recursos arrecadados de cada curso”, explica. “Além
de atendermos às prioridades da comunidade, o fundo poderá
ser uma estratégia para aplicarmos mais recursos em outras
iniciativas, destinadas à solução de determinadas
questões.”
Horizontes
mais ousados
Como exemplo, Suely cita o Projeto de Aperfeiçoamento de
Desempenho da Pós-Graduação, criado a partir
da constatação de que 48% dos programas de pós-graduação
stricto sensu da USP obtiveram conceitos 3 ou 4 na avaliação
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior, a Capes, órgão do Ministério
da Educação (MEC). “Nossa infra-estrutura nos
permite buscar horizontes mais ousados. Por isso, as unidades que
mantêm esses programas tiveram que apresentar seus planos
de metas para os próximos anos, que serão discutidos
em reuniões na Pró-Reitoria, onde os envolvidos procurarão
encontrar os melhores caminhos para atingir seus objetivos”,
diz. “Também temos boas iniciativas nos programas interunidades,
que se baseiam na integração da infra-estrutura e
dos corpos docentes de diferentes unidades para a geração
de novos conhecimentos, como é caso, por exemplo, da área
de bioinformática.”
Outra
iniciativa é o Projeto de Internacionalização
da Pós-Graduação, voltado para programas com
conceito 5 mas que poderiam ser considerados de nível 6 ou
7. Para chegar a esses níveis, um dos critérios de
avaliação é justamente o grau de internacionalização
dos membros de um programa e de suas pesquisas. De acordo com a
pró-reitora, o projeto destinará recursos para uma
série de atividades: estímulo à vinda de mais
professores visitantes à USP, com prazos de permanência
de até 20 dias, apoio à participação
de estudantes em eventos científicos internacionais, complementação
de auxílio para doutorandos que querem fazer estágio
no exterior e aumento da utilização das bolsas sanduíches
da Capes, que garantem um período mínimo de quatro
meses de permanência para o estudante em outro país.
“Recebemos
cerca de 111 bolsas desse tipo mas usamos, no último ano,
pouco mais de 30, o que ainda nos garante uma boa margem de aplicação
desses recursos”, diz Suely.
Com
relação aos novos campi da USP, a pró-reitora
acredita que o ritmo da ampliação das atividades de
pós-graduação nessas áreas vai variar
de acordo com o contexto regional. “Em São Carlos,
onde as atividades de pesquisa são altamente desenvolvidas,
a implantação de cursos de pós no segundo campus
da região será, provavelmente, mais rápida,
enquanto na Zona Leste da cidade de São Paulo a prioridade
é a graduação e, portanto, a pós-graduação
virá em um segundo momento, de forma relativamente natural
e, inicialmente, a partir da análise dos professores que
compõem a comissão responsável pela instalação
desse novo campus das necessidades locais primordiais.”
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