Diz
a lenda que a bela Chang E, depois de tomar um elixir da eternidade,
voou para a Lua e passou a viver nela para sempre. A história
milenar da personificação deste satélite terrestre,
contada desde tempos imemoriais, é o motivo da celebração
que acontece na China anualmente, no outono. De acordo com o calendário
lunar, essa é a época do ano em que os frutos são
colhidos, e a festa representa também um agradecimento pela
colheita (veja mais sobre a lenda no texto abaixo). “Como
a China é uma sociedade agrária, é natural
que suas festas estejam relacionadas aos ciclos agrícolas”,
explica o professor Mário Bruno Sproviero, um dos palestrantes
que participam do festival. Na USP, a comemoração
vai acontecer na forma do Festival Yue Bing, realizado pelo Curso
de Língua e Literatura Chinesa do Departamento de Letras
Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH).
Todo
ano, um festival diferente é realizado para apresentar a
cultura chinesa e colocar em debate alguns temas referentes às
relações entre China e Brasil em diversos campos do
conhecimento. No ano passado, foram lembrados os grandes dragões
chineses e, para o ano que vem, está prevista a celebração
do ano novo daquele país. O Festival Yue Bing deveria ter
acontecido em 21 de setembro, dia que, pelo calendário lunar
deste ano, marca o aparecimento da lua no céu no meio do
outono. Porém, por causa da greve, ele foi adiado.
O programa
tem início com três palestras que debatem relações
sino-brasileiras. A primeira, das 9h30 às 10h, abre o evento
com a participação do professor Mário Bruno
Sproviero e de Her Jian Gueng, diretor representante do Escritório
Econômico e Cultural de Taipei em São Paulo, que funciona
como um consulado da China no Brasil. Em seguida, o professor do
Núcleo de Políticas e Estratégia da USP Braz
José de Araújo faz uma exposição sobre
a importância estratégica das relações
sino-brasileiras. Às 11h, é encerrado o ciclo com
o professor José Roberto Teixeira Leite, ex-diretor do Museu
de Arte Contemporânea da USP, que apresenta uma palestra sobre
a Arte Chinesa no Brasil.
A partir
das 12h30, o festival mostra ao público um pouco da Celebração
do Fruto Outonal e da cultura chinesa. A partir desse horário,
serão servidos chá chinês e o doce típico
dessa festa – Yue Bing: o bolo da Lua. “Feito todos
os anos, representa o anseio de imortalidade dos homens e das mulheres”,
explica o professor Sproviero. Em seguida, às 13h30, acontece
a sessão “Cores e Tons Chineses: Teoria e Prática”.
Nela,
artistas da China vão apresentar trechos de ópera
chinesa e fazer pinturas para que o público possa ter acesso
a essas duas modalidades com características tão diferentes
das ocidentais. Há também exposição
de pinturas chinesas, algumas delas cedidas pelo Escritório
Econômico e Cultural de Taipei em São Paulo.
O
Festival Yue Bing acontece nesta quarta, das 8h às 16h, na
sala 261 do Prédio de Letras da FFLCH (av. Prof. Luciano
Gualberto, 403, Cidade Universitária). O evento é
gratuito e aberto ao público em geral.
Amor
e imortalidade
Chang E era uma bela jovem que se apaixonou pelo conhecido arqueiro
Hou Yi. Os dois passaram a viver juntos, mas ele, temendo a morte,
conseguiu um elixir mágico: o casal deveria dividi-lo em
dois e tomar cada um a sua metade para que lhe fosse assegurada
a vida eterna. Dessa maneira, nunca poderiam se separar. Um imprevisto,
porém, aconteceu. Um dos aprendizes de Hou Yi, querendo tomar
o posto de seu mestre, ameaçou matar Chang E se ela não
lhe desse o elixir da imortalidade. Chang E, para não entregar
o que seu marido conseguira com tanto esforço, tomou sozinha
todo o seu conteúdo, tornando-se imortal e voando em direção
ao céu. Como estava condenada a viver longe de seu grande
amor, escolheu a lua – a que fica mais próxima da Terra
– para que pudesse observar Hou Yi para sempre.
Há
outra versão para essa história milenar, a de que
Chang E teria tomado egoisticamente o elixir às escondidas,
explicitada nos versos de Li Shangyin, poeta da Dinastia Tang: “Chang
E sente-se arrependida do roubo do elixir,/ E passa as noites só
no céu tão límpido como um mar azul”.
|