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Cenas
das gravações do filme com Zezé Mota e
Othon Bastos (abaixo); e ao centro Carlos Gregório como
o poeta Drummond |
Um
documentário poético, que transcende o mero registro
da vida e obra de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), mostrando
além disso as transformações dos diversos rumos
que tomam a sua poesia. Assim, a arte drummondiana está presente
no texto, na imagem, na música, no desenvolvimento dramático
do filme Poeta de Sete Faces, um longa que faz parte das comemorações
e lançamentos que marcam o centenário do seu nascimento.
O título remete ao “Poema das Sete Faces”, publicado
em seu primeiro livro Alguma Poesia, de 1930, e que, segundo o diretor
Paulo Thiago, mostra a amplitude e diversidade do poeta mineiro.
Os poemas são encenados e recitados por atores como Paulo
José, Antônio Calloni, Paulo Autran, Tônia Carrero,
Zezé Mota e Othon Bastos; e também há depoimentos
de Mário Chamie, Ferreira Gullar, Adélia Prado, Luiz
Costa Lima, Benedito Nunes, entre outros.
Apesar
de não ter heterônimos como Fernando Pessoa, Drummond
é um poeta múltiplo, complexo, não é
um poeta só. O filme expõe as diferentes fases da
obra de Drummond, mostrando a sua transformação ao
longo do tempo. Está dividido em três etapas: a primeira,
chamada pelo diretor de “Vai Carlos, ser gauche na vida”,
registra desde o seu nascimento em Itabira, em 1902, até
o final da sua poesia modernista em Belo Horizonte, antes da mudança
para o Rio de Janeiro em 34. São publicados seus primeiros
livros Alguma Poesia e Brejo das Almas, quando nasce o Carlos Drummond
de Andrade dos versos anedóticos, sintéticos-metafóricos,
irônicos. Como explica o diretor, Drummond é irônico
e está preocupado com a literatura, a poesia e a arte, investigando-as
e revolucionando-as.
A segunda
fase, intitulada “A vida apenas, sem mistificação”,
que começa com a mudança de Drummond para o Rio de
Janeiro, vai mostrar o momento de atuação política
na vida do escritor, aliada à sua obra de crítica
social. É situada a partir de O Sentimento do Mundo, de 1934,
até A Rosa do Povo (1945). Já a terceira, “Como
ficou chato ser moderno, agora serei eterno”, que vai do início
dos anos 50 aos 80, traz um poeta-filósofo, do verso enigmático,
do cronista de sucesso, da glória literária, dos filmes
adaptados de sua obra, da memória, que renasce nas páginas
de livros como Boitempo, O Menino Antigo e Farewell, este último
publicado postumamente.
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O que
era inicialmente dois programas de TV, com duração
de 52 minutos, transformou-se em um longa, espécie de ensaio
cinematográfico, uma transcrição apaixonada.
O roteiro do filme foi produzido em apenas sete dias e as filmagens
duraram um mês. Estão mescladas diversas linguagens
para transfigurar as várias fases do poeta, do balé
ao canto, da declamação à encenação,
de depoimentos reais a situações “fakes”
de metalinguagens. E na trilha sonora, músicas como uma composta
por Villa-Lobos sobre um poema de Drummond, ou a de Túlio
Mourão, interpretada por Samuel Rosa do grupo Skank. Tudo
isso amarrado através de dois narradores, um que fornece
informações factuais da vida de Drummond, com as observações
dos críticos e ensaístas, e outro que recita versos,
indica poemas, narra crônicas. Além do documentário
Poeta de Sete Faces, com estréia prevista para 1o de novembro,
o diretor está concluindo o filme O Vestido, baseado no poema
O Caso do Vestido, também de Drummond, a ser lançado
em rede nacional em 2003.
O
filme Poeta de Sete Faces será exibido nesta quarta, às
19h, no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias,
Cidade Universitária, tel. 3091-3950); logo depois haverá
debate com o diretor. Gratuito.
Ainda
no Cinusp
Continua nesta semana a “Mostra Ibero-Americana” no
Cinusp, que traz filmes biográficos ou adaptados de escritores
latinos. Serão exibidos os filmes Ninguém Escreve
ao Coronel (México, 1999), de Arturo Ripstein, com base na
obra do colombiano Gabriel García Márquez (segunda,
às 16h, e terça, às 19h), Plata Quemada (Argentina,
2000), de Marcelo Piñeyro, baseado no livro de Ricardo Piglia
(segunda, às 19h, e terça, às 16h), Goya (Espanha,
1999), de Carlos Saura, sobre a vida do pintor aragonês (quarta,
às 16h); Danzon, Meu Amor Perdido (México, 1991),
de Maria Novaro, sobre uma descasada que encontra uma vida excitante
na noite (quinta, às 16h); Pantaleão e as Visitadoras
(Peru, 1999), de Francisco J. Lombardi, em que um capitão
do exército é encarregado de levar um grupo de prostitutas
de um campo militar a outro (quinta, às 19h, e sexta, às
16h), e Amores Brutos (México, 2000), de Alejandro González
Iñárritu, sobre um terrível acidente de carro
que muda a vida das três pessoas envolvidas (sexta, às
19h).
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