Um
novo conceito em saúde pública foi concebido nas últimas
décadas pelos especialistas na área. Segundo esse
conceito – ainda pouco conhecido no Brasil –, o bem-estar
da população tem de ser garantido não apenas
através de uma boa assistência às pessoas em
hospitais bem equipados, mas por meio de uma ação
que integre todos os setores do governo. Ainda
de acordo com esse modelo, a promoção da saúde
no Brasil não pode ficar restrita às atividades do
Ministério da Saúde, mas deve ser uma preocupação
de todos os outros ministérios. As medidas do Ministério
da Fazenda ou do Ministério da Agricultura, por exemplo,
precisam visar sempre – além da boa condução
da economia e do aumento da produção agrícola
– à saúde da população.
Essa
nova forma de pensar e agir em relação à saúde
pública será explicada na 3a. Conferência Regional
Latino-Americana de Promoção da Saúde e Educação
para a Saúde, a ser realizada nos dias 10 a 13 de novembro
no Memorial da América Latina, em São Paulo. Com o
tema “Visão crítica da promoção
da saúde e educação para a saúde na
América Latina: situação atual e perspectivas”,
o encontro reunirá especialistas de vários países
para discutir as mais eficientes estratégias de melhorar
as condições de vida no continente. Entre eles estarão
Amélia Cohn, da Faculdade de Medicina da USP, Erio Ziglio,
diretor do escritório europeu da Organização
Mundial da Saúde (OMS), e Cristina Raposa, conselheira da
Unesco (leia ao lado a programação completa do evento).
Ao
final da conferência, os participantes deverão elaborar
a Carta São Paulo, com propostas para a promoção
da saúde no Brasil. O documento será entregue ao presidente
eleito Luiz Inácio Lula da Silva e ao governador Geraldo
Alckmin. “Para esse novo conceito de promoção
da saúde dar certo, é necessário que o governo
realmente considere a saúde como uma prioridade”, afirma
a professora da Faculdade de Saúde Pública da USP
Marcia Faria Westphal, coordenadora-geral da conferência.
“Ele tem de assumir o compromisso de melhorar a saúde
através da execução de políticas públicas
que incluam ações integradas entre os vários
ministérios.”
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No
novo modelo proposto pelos especialistas, a saúde é
vista de maneira mais ampla, incluindo o ambiente, a moradia,
o trânsito, o lazer e os demais setores da vida |
Mas
o novo modelo de promoção de saúde que os especialistas
desejam ver implantado é ainda mais amplo. Além da
ação governamental, ele prevê estratégias
que incluem a participação das cidades, das escolas
e das empresas. Batizada como “comunidade saudável”,
uma dessas iniciativas busca fazer com que todos os moradores de
uma cidade ou bairro se engajem na luta contra as más condições
de vida.
Já
há exemplos, no Brasil, de “comunidades saudáveis”.
Atualmente, a professora Marcia Westphal coordena cinco desses projetos,
implantados nas cidades de Bertioga, no litoral paulista, Ribeira,
Itaoca – ambas no Vale do Ribeira –, Motuca e Lins,
estas na região de Araraquara. Em Bertioga, onde o projeto
já se encontra em seu terceiro ano, a professora e sua equipe
se dedicaram a analisar a comunidade, verificar seus problemas e
sensibilizar a população para a necessidade de se
mobilizar. Elas também promoveram cursos para formar agentes
multiplicadores e realizaram debates sobre o plano diretor da cidade,
que está sendo discutido na Câmara.
Outro
exemplo da aplicação da estratégia “comunidade
saudável” se encontra no Rio de Janeiro. Ali, entre
as pequenas comunidades de Japeri e Queimados, a cerca de 80 quilômetros
da capital, diferentes secretarias de Estado se uniram para fazer
um diagnóstico dos problemas que afetavam a qualidade de
vida da população. Em seguida, elaboraram e implantaram
programas que combatiam tais problemas. O resultado foi tão
bom que em 2001 o projeto recebeu o Prêmio Milton Santos,
conferido por diferentes entidades – entre elas o Ministério
da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz –
a iniciativas de destaque em prol da saúde da população.
Na conferência, a consultora Helena Restrepo falará
sobre “comunidade saudável” dentro do painel
“A promoção da saúde e meio ambiente”,
no dia 12, a partir das 16 horas.
Escolas
e empresas
“A
escola como parceira da saúde” é mais uma das
estratégias previstas pelo novo conceito de promoção
da saúde – também a ser abordada na conferência.
De acordo com ela, os colégios devem igualmente se empenhar
para garantir o bem-estar dos seus alunos e da população
ao seu redor. Para a professora Izabel Galvão, que ministra
a disciplina de Psicologia da Educação na Faculdade
de Educação da USP, a escola promove a qualidade de
vida quando – ao invés de se afastar da realidade –
se insere no contexto em que está localizada e enfrenta as
dificuldades do cotidiano. “A escola está relacionada
com os problemas ao seu redor, em parte provocados por suas próprias
práticas escolares, e por isso não pode se esconder”,
avalia a professora. Como exemplo de tais práticas, ela cita
a dificuldade de as escolas se relacionarem com o “aluno concreto”,
que como ser humano possui falhas e deficiências. “Muitas
vezes a escola desvaloriza o sujeito porque está pensando
numa abstração de aluno, uma perfeição
que não existe”, acrescenta Izabel. “Evitar isso
é também promover a saúde.” Na conferência,
a escola será tema de palestra da consultora da Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas) Josefa Ippolito Shepherd, também
no painel “A promoção da saúde e meio
ambiente”.
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Há
ainda outras estratégias a ser seguidas. Os especialistas
em saúde pública consideram que, assim como as comunidades
e as escolas, também as empresas devem ter como missão
atuar em favor do bem-estar de todos. O tema será abordado
na conferência pelo gerente de Tecnologia do Serviço
Social da Indústria (Sesi), Vitor Gomes Pinto. Políticas
públicas para o trânsito – que a cada dia mata
e fere milhares de cidadãos nas grandes cidades –,
para o ambiente e para o setor da habitação são
outras sugestões dos especialistas para os governos federal
e estadual. “É essa nova maneira de ver a saúde
que nós precisamos lutar para ver implantada no nosso país,
tão carente de qualidade de vida”, diz Marcia Westphal.
O novo
conceito de promoção da saúde citado por Marcia
surgiu no Canadá, no final dos anos 70, quando foi publicado
o Relatório Lalonde, uma referência ao então
primeiro-ministro canadense, autor do documento. Nele, Lalonde enfatizava
a necessidade de ampliar o “campo da saúde”,
de forma que a qualidade de vida fosse uma missão não
apenas das agências específicas da área, como
ministérios da saúde, secretarias, hospitais e centros
de saúde, mas de toda a sociedade. Do Canadá, o conceito
atingiu os Estados Unidos e a Europa, onde hoje já se encontra
implantado. No Brasil e nos chamados países em desenvolvimento,
porém, as novas idéias ainda são pouco conhecidas.
A
3a Conferência Regional Latino-Americana de Promoção
da Saúde e Educação para a Saúde será
realizada nos dias 10 a 13 de novembro, no Memorial da América
Latina, em São Paulo (SP), localizado próximo à
Estação Barra Funda do Metrô. O evento é
promovido pela Oficina Regional Latino-Americana da União
Internacional para a Promoção da Saúde e Educação,
pela Faculdade de Saúde Pública da USP, pela Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas) e pelo Ministério da
Saúde. As inscrições podem ser feitas pelo
telefone (11) 3079-6724. Mais informações pelo telefone
(11) 3066-7766 ou na página eletrônica da Faculdade
de Saúde Pública (www.fsp.usp.br).
Em
favor do bem-estar da população
Esta
é a programação completa da 3a Conferência
Regional Latino-Americana de Promoção da Saúde
e Educação para a Saúde, que será realizada
no Memorial da América Latina, em São Paulo, de 10
a 13 de novembro. Nos dias 9 e 10 haverá ainda, na Faculdade
de Saúde Pública (FSP) da USP, os chamados pré-cursos.
Mais informações podem ser obtidas na página
eletrônica da FSP (www.fsp.usp.br).
Dia
10 de novembro, domingo
Das
12 às 16 horas. Credenciamento e retirada de material.
17
horas. Sessão solene de abertura.
17h30.
Conferência de abertura: “Em busca da eqüidade
na América Latina” (professor Ladislau dowbor, economista
e professor da PUC-SP). Outras manifestações: Maria
Teresa Cerqueira, diretora da Divisão de Promoção
e Proteção à Saúde da Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas), Marie Claude Lamarre, secretária-executiva
da União Internacional de Promoção da Saúde
e Educação para a Saúde (Uipes), e Marcia Faria
Westphal, professora da Faculdade de Saúde Pública
(FSP) da USP e vice-presidente da Uipes para a América Latina.
Dia
11 de novembro, segunda-feira
8 horas.
Credenciamento e retirada de material.
9 horas.
Painel “Saúde e desenvolvimento: Aspectos econômicos,
sociopolíticos, culturais e éticos”. Presidente:
Amélia Cohn (USP). Palestras: “América Latina
e o desenvolvimento: situação atual” (Ana Sojo
Martinez, consultora da Comissão Econômica para América
Latina e Caribe, Cepal), “Globalização, América
Latina e as relações econômicas internacionais”
(professor Ronald Labonte, da Universidade de Saskatchewan, no Canadá),
“Mudanças demográficas, socioculturais e étnicas
na América Latina e a nova modernidade” (Rosemary Barber
Madden, representante do Fundo de População das Nações
Unidas, Fnuap) e “Capital social e o desenvolvimento latino-americano”
(Bernardo Kliksberg, coordenador-geral da Iniciativa Interamericana
de Capital Social, Ética e Desenvolvimento do Banco Interamericano
de Desenvolvimento, BID).
10h30.
Intervalo.
11
horas. Painel “A promoção da saúde no
contexto dos sistemas de saúde”. Presidente: Marco
Biocca (Itália). Palestras: “A promoção
da saúde no sistema de saúde brasileiro” (Cláudio
Duarte da Fonseca, secretário de Políticas de Saúde
do Ministério da Saúde), “A construção
de capacidades como um instrumento para a reorientação
dos serviços de saúde na perspectiva da promoção
da saúde” (Marcia Hills, professora da Universidade
de Vitória, no Canadá) e “Mudanças no
sistema de saúde latino-americano” (Rodrigo Soto, do
Ministério da Saúde do Chile).
12h30.
Horário de almoço.
13h30.
Sessão de pôster.
14h30.
Sala de discussão temática dos pôsteres.
15h30.
Intervalo.
16
horas. Painel “Políticas públicas intersetoriais
e promoção da
saúde: da exclusão à inclusão”.
Presidente: Cristina Torres Parodi, assessora regional de Políticas
de Saúde da Opas. Palestras: “Condicionantes históricos
culturais da exclusão dos povos negros na América
Latina” (Damiana Pereira de Miranda, professora da Universidade
Federal da Bahia), “O Direito e a inclusão social”
(Syro Darlan de Oliveira, juiz da Primeira Vara da Criança
e Juventude do Estado do Rio de Janeiro), “Condições
multifatoriais da violência e qualidade de vida” (Maria
Cecília de Souza Minayo, professora da Escola Nacional de
Saúde Pública) e “Economia solidária
como opção para o desenvolvimento” (Paul Singer,
professor da Faculdade de Economia, Administração
e Contabilidade da USP).
17h30.
Apresentação dos estudos de caso: discussão
plenária. Coordenador: Luiz Andrés Lopes, consultor
da Opas.
Dia
12 de novembro, terça-feira
8 horas.
“Agita América: conceito do programa” (Vitor
Matsudo).
8h45.
Breve relatório das conclusões do dia anterior.
9 horas.
Painel “Construção da cidadania e estilo de
vida saudáveis”. Presidente: Diana Martinez, presidente
da Comissão de Saúde do Parlamento Latino-Americano.
Palestras: “Construção da cidadania: empoderamento
e participação social” (Nina Wallerstein, professora
da Universidade do Novo México), “Condições
de vida e estilos de vida saudáveis” (Fernando Gonzales
Rey, professor da Universidade de Brasília) e “Comunicação
social e comportamento humano” (Fernando Lefevre, professor
da Faculdade de Saúde Pública da USP).
10h30.
Intervalo.
11
horas. Apresentação dos estudos de caso: discussão
plenária.
12h30.
Almoço.
13h30.
Sessão de pôster.
14h30.
Sala de discussão temática dos pôsteres.
15h30.
Intervalo.
16
horas. Painel “A promoção da saúde e
meio ambiente”. Presidente: Paulo Marchiori Buss, presidente
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Palestras: “Saúde
e meio ambiente” (Fernando Cardozo Fernandes Rei, presidente
da Cetesb), “A promoção da saúde como
elemento dinamizador do desenvolvimento local sustentável”
(Helena Restrepo, consultora), “Promoção da
saúde nas empresas e organizações e sua responsabilidade
social” (Vitor Gomes Pinto, gerente de Tecnologia do Serviço
Social da Indústria, Sesi) e “A escola promotora da
saúde” (Josefa Ippolito Shepherd, consultora da Opas).
17h30.
Apresentação dos estudos de caso: discussão
plenária.
19
horas. Apresentação de material instrucional: Promovendo
a qualidade de vida através de municípios e comunidades
– guia para prefeitos e outras autoridades locais.
19h30.
Reunião de povos indígenas das Américas.
21
horas. Jantar de confraternização (por adesão).
Dia
13 de novembro, quarta-feira
8 horas.
Agita América – Atividade física.
8h45.
Breve relatório sobre as conclusões do dia anterior.
9 horas.
Painel “Modelos de formação de recursos humanos
para promoção da saúde e a educação
para a saúde na América Latina”. Presidente:
Dora Irma Cardaci, professora da Universidade Autônoma da
Unidade Xochimilco, no México. Palestras: “Reorientação
conceitual e estratégica da educação em saúde,
segundo referencial da promoção da saúde”
(Hiram Arroyo Acevedo, professor da Universidade de Porto Rico),
“Princípios e metodologias da promoção
da saúde como corpo teórico independente e escola
de governo em saúde” (Antonio Ivo de Carvalho, vice-diretor
da Escola Nacional de Saúde Pública) e “Princípios
da promoção da saúde e de educação
em saúde como elementos teóricos e metodológicos
complementares” (Giselda Sanabria Ramos, professora da Escola
Nacional de Saúde Pública).
10h30.
Intervalo.
11
horas. Homenagem aos 100 anos da Opas. Mesa-redonda: “Desafios
da promoção da saúde na América Latina”.
12h30.
Horário de almoço.
14
horas. 2o Fórum Brasileiro de Promoção da Saúde.
Mesa-redonda: “Desafios da construção da política
nacional de promoção da saúde”.
14
horas. Assembléia Geral da Oficina Regional Latino-Americana
(Orla) da Uipes.
14
horas. Assembléia Geral da Rede Brasileira de Educação
Popular em Saúde.
18
horas. Sessão solene de encerramento.
21
horas. Jantar de confraternização (por adesão).
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A escola é um ótimo lugar
para promover a saúde da população |
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