As
autoridades públicas precisam instituir políticas
sobre trânsito que visem à diminuição
da poluição e dos acidentes nas metrópoles,
que a cada ano matam milhares de pessoas e constituem um grave problema
de saúde pública. Essa é uma das recomendações
da 3a Conferência Regional Latino-Americana de Promoção
da Saúde e Educação para a Saúde, que
está sendo realizada no Memorial da América Latina,
em São Paulo. Coordenada pela professora Marcia Faria Westphal,
da Faculdade de Saúde Pública da USP, a conferência
começou no domingo, dia 10, e até esta quarta-feira,
dia 13, reunirá especialistas de vários países
para discutir as estratégias de promoção da
saúde no continente.
A restrição
ao uso de automóveis e o incentivo ao transporte coletivo
são medidas que devem fazer parte de políticas públicas
sobre o trânsito, afirma a professora Helena Ribeiro, do Departamento
de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública
da USP. Lembrando que os automóveis são fontes “importantes”
de estresse, acidentes e poluição, ela destaca que
a diminuição da frota provocaria uma melhora significativa
das condições de vida nas metrópoles, daí
a necessidade de impor medidas restritivas.
Helena
sugere que o governo invista na melhoria do transporte coletivo,
a fim de desestimular o uso do automóvel. O bilhete único
– que permite ao usuário tomar diferentes conduções
pagando uma só passagem – também precisa ser
implantado. “Isso otimiza a rede de transporte e facilita
a vida das pessoas”, considera. Para a professora, a população
tem de ser incentivada a se locomover de bicicleta – no caso
de deslocamentos de curta distância – e a andar a pé.
“As calçadas precisam ser melhoradas para que haja
mais pedestres.” Outra possível medida para a diminuição
da frota, acrescenta a professora, é a cobrança de
pedágio para a entrada de veículos em determinadas
áreas das cidades.
Frota
renovada
A inspeção
obrigatória dos veículos a cada dois anos “pelo
menos” e a busca constante pela renovação da
frota são medidas “indispensáveis”, segundo
Helena. Ela diz que tais ações, tornadas obrigatórias
a partir de 1997, colaboraram sensivelmente para a redução
dos índices de poluição na região metropolitana
de São Paulo – já que carros novos e com boa
manutenção, dotados de catalisadores, geram muito
menos poluentes. A professora constatou isso numa pesquisa que realizou
nos municípios de Osasco e Juquitiba e no bairro paulistano
do Tatuapé. Nessas regiões, os automóveis chegavam
a emitir, nos anos 80, nada menos que 50 gramas de monóxido
de carbono por quilômetro rodado. Em 1992, segundo os dados
de Helena, esses índices já tinham baixado para 12
gramas. Depois de 1997, os carros não emitem mais do que
2 gramas daquele poluente a cada quilômetro. “Atualmente,
é difícil um dia no ano em que os índices de
poluição ultrapassam o padrão de qualidade
do ar”, ressalta. “Antes de 1997, a poluição
era maior do que o padrão aceitável em 200 dias por
ano.”
Mas
é preciso estar atento para não perder essas conquistas.
Helena alerta que, embora os automóveis poluam menos, os
níveis de poluição tendem a se elevar com o
aumento da frota. “Temos que tomar cuidado porque cada carro
polui menos, mas, no conjunto, a maior quantidade de veículos
causa mais poluição”, acrescenta, insistindo
na necessidade de manter a frota renovada e inspecionada regularmente.
Helena insiste também em que o combate à poluição
não cabe apenas aos setores ligados ao transporte e ao ambiente,
mas às demais secretarias de governo. “Todas as esferas
da administração precisam atuar com a perspectiva
de promover a saúde e o bem-estar da população.”
É
justamente essa idéia – a participação
de todos os setores do governo e da sociedade na promoção
da saúde pública – que a 3a Conferência
Latino-Americana quer divulgar. O encontro pretende mostrar a necessidade
de implantar, no Brasil, um modelo de promoção de
saúde pública hoje já muito difundido na América
do Norte e Europa – conforme informou reportagem publicada
na edição 620 do Jornal da USP. Esse modelo sugere
a realização de diferentes estratégias para
garantir a qualidade de vida dos cidadãos. Entre tais estratégias
estão os programas “comunidade saudável”,
em que toda uma cidade ou bairro é incentivada a promover
a saúde, e “escola parceira da saúde”,
que faz com que os colégios se empenhem para combater a violência
e oferecer lazer e cultura. Os programas “empresas como promotoras
da saúde” e “habitação para a saúde”
são outras estratégias previstas por esse novo conceito
de promoção de saúde. Todos serão discutidos
durante a conferência. No final do encontro, os participantes
deverão divulgar a Carta São Paulo, com propostas
para políticas públicas. A Conferência é
uma promoção da Oficina Regional Latino-Americana
da União Internacional para a Promoção da Saúde
e Educação, da Faculdade de Saúde Pública
da USP, da Organização Pan-Americana da Saúde
(Opas) e do Ministério da Saúde.
Mais
informações sobre a 3a. Conferência Regional
Latino-Americana de Promoção da Saúde e Educação
para a Saúde podem ser obtidas pelo telefone (11) 3066-7766
ou na página eletrônica da Faculdade de Saúde
Pública da USP (www.fsp.usp.br)
Aristides
Rocha assume direção da FSP
A Faculdade
de Saúde Pública (FSP) da USP tem novo diretor. Em
cerimônia realizada no dia 6 de novembro, na sala do Conselho
Universitário, o professor Aristides Almeida Rocha assumiu
a direção da faculdade, sucedendo ao professor João
Yunes, falecido no dia 26 de setembro passado. Rocha foi nomeado
pelo reitor Adolpho José Melfi – após ser eleito
pela Congregação da FSP e compor a lista tríplice
encaminhada à Reitoria – para cumprir um mandato de
quatro anos, até 2006.
Estabelecer um convívio “saudável e harmonioso”
entre alunos, docentes e funcionários da faculdade é
uma das principais preocupações do novo diretor –
além de dar todo apoio ao desenvolvimento do ensino, da pesquisa
e da extensão –, segundo divulgou a Assessoria de Comunicação
Institucional da FSP. Para isso, o professor, que até a posse
como diretor atuava como vice-diretor em exercício, está
reformando os jardins da faculdade e construindo uma pista de cooper.
O novo diretor apóia também a criação
de um clube de funcionários.
Especializado em poluição e impactos ambientais, Rocha
é professor da FSP desde 1969. Formado em Biologia pela USP
em 1966, foi assessor na área de ambiente da Organização
Mundial da Saúde (OMS), da Organização Panamericana
da Saúde (Opas), do BID e do Banco Mundial, entre outras
instituições. Nessa função, realizou
missões a vários países, principalmente na
América Latina, onde atuou em favor das melhorias das condições
de saúde da população.
Além de mais de cem artigos publicados em revistas especializadas,
escreveu os livros Poluição, proteção
e usos múltiplos de represas (editora Blücher, 1977),
Ecologia para universitários (Ascetesb, 1982) – ambos
em parceria com Samuel Murgel Branco –, Do lendário
Anhembi ao poluído Tietê (Edusp, 1991) e Fatos históricos
do saneamento (Scortecci, 1997).
Nascido no Rio de Janeiro (RJ) em 29 de janeiro de 1936, Rocha recebeu
o Prêmio Professor Doutor Azevedo Netto – Sanitarista
do Ano 2000, concedido pela Associação Brasileira
de Engenharia Sanitária e Ambiental.
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