PROCURAR POR
 NESTA EDIÇÃO

"Meu canto, no entanto, / mais te diviniza”. Esses dois versos de “Letra para uma Valsa Romântica”, de Manuel Bandeira, podem exprimir o que buscou André Mehmari na composição de seu primeiro CD solo, Canto (selo Núcleo Contemporâneo). Nele, o músico pôde mostrar diversas facetas de seu trabalho como multiinstrumentista, por meio de composições próprias, todas gravadas no estúdio que mantém em casa. Dentre as músicas escolhidas, apenas uma não é de sua autoria: “Cais”, de Milton Nascimento, recebeu um arranjo expandido, um “arranjo-composição”, atingindo quase dez minutos.

Com a possibilidade de fazer a gravação em seu próprio espaço, trabalhou sem a falta de liberdade recorrente em um estúdio tradicional. Para ele, os novos equipamentos permitem uma maior democratização no campo musical, fazendo com que a gravação de um CD fique mais barata e independa de uma gravadora de grande porte. Tocando os instrumentos no seu tempo, sem imposições de prazos, o trabalho ficou da maneira desejada. “Foi muito prazeroso e as composições são bem amarradas, o que faz o CD ser uno, mesmo mostrando diversas facetas do meu trabalho”, aponta Mehmari.

A maior parte das músicas foi composta e gravada em 1999. O repertório vai dos choros “Choro Turco”e “Choro da Contínua Amizade” e da folclórica “Mulé Rendeira” a um madrigal, “Valsa Romântica”, composto sobre os versos do poema de Bandeira. Neles, Mehmari encontrou a combinação perfeita para demonstrar sua admiração pela música renascentista e barroca. “Esses versos são tão adequados, que a música fica colada no texto”, explica André. Outra composição que faz parte de seu CD é “Miniatura”, uma orquestração para piano, composta quando Mehmari tinha 15 anos.

E o piano é o menos presente no disco. São 14 instrumentos, entre os quais violino, clarinete, flauta, percussão e guitarra. As músicas foram escolhidas com a intenção de utilizar o maior número possível de instrumentos, de maneira que as pessoas pudessem conhecer além do pianista. O compositor também utiliza a própria voz como instrumento, deixando a interpretação da “Valsa Romântica” por conta do cantor Tiago Pinheiro. Tudo da maneira como Mehmari quis, como na letra de “Cais”: “Invento o cais e sei a vez de me lançar”.

Mehmari começou cedo sua carreira musical. Quando criança, foi apresentado à música por sua mãe. Já estudando na USP – no ano que vem, conclui seu curso na ECA – foi vencedor por duas vezes do Prêmio Nascente: em 1995, na Categoria Música Popular – Composição, com “De Sol a Sol” e “Capim Seco”, e, em 1997, na categoria Música Erudita – Composição, com “Cinco Peças para Quatro Clarinetes e Piano”.

Em 1998, conquistou o Prêmio Visa de MPB Instrumental e teve executada pela Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo sua composição “Quase uma Suíte”.

Mehmari, como pianista, também gravou um CD, acompanhado pelo contrabaixista Célio Barros e pelo percussionista Sérgio Reze. Formaram um trio de improvisações: sem tema pré-definido, fizeram um “fluxo de consciência musical”, nas palavras de Mehmari, mostrando interação absoluta nas composições improvisadas. “Nós simplesmente tocamos e gravamos”, diz.

Nesta semana vai poder mostrar ao público mais uma vez seu trabalho de pianista, acompanhado por outros músicos. Apresenta-se na sexta e no sábado, no Sesc Ipiranga, com a cantora Mônica Salmaso, Dimos Goudaroulis, no cello, e Sérgio Reze, na bateria e percussão, em show com músicas de Dorival Caymmi.

O show "Dorival Caymmi – Do Mar à Maricotinha", com André Mehmari, Mônica Salmaso, Dimos Goudaroulis e Sérgio Reze, acontece na sexta e no sábado, às 21h, no Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822). Os ingressos custam de R$ 4,00 a R$ 16,00. Mais informações pelo tel. 3340-2000.

 




ir para o topo da página


O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[EXPEDIENTE] [EMAIL]