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As “colunas de consulta”, seções de perguntas e respostas dos jornais, revistas, programas de rádio e TV são freqüentemente fontes dos adolescentes na busca de respostas para suas dúvidas e inquietações sobre sexualidade. Pensando nisso, a Andi – Agência de Notícias dos Direitos da Infância, o Unicef e a Coordenação Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, com o apoio da Unesco, editaram o livro A Mídia como Consultório? – uma análise técnica e jornalística das perguntas e respostas sobre saúde e sexualidade da mídia impressa e eletrônica. “É nessas colunas que leitores, ouvintes e telespectadores – principalmente os adolescentes e jovens – esclarecem suas dúvidas”, analisa Veet Vivarta, diretor da Andi.

É nessas colunas de consulta que especialistas habilitados em questões do universo juvenil oferecem um espaço de aconselhamento que muitos adolescentes não encontram na escola, na família ou mesmo no consultório médico, às vezes por timidez ou dificuldade de acesso.

Na visão de muitos jornalistas e profissionais de comunicação, essas seções são uma das melhores formas de estimular a interação do público com a informação veiculada, pois expõem experiências e anseios individuais, além de contextualizar e favorecer a criação de mecanismos de identificação.

Mas, apesar da popularidade com o segmento adolescente, as colunas de consulta não são unanimidade entre os veículos da chamada mídia jovem. Dez dos 26 principais suplementos de jornal e revistas especializados em adolescência no País apresentam essas seções.

Mesmo com discordâncias, essa colunas têm se consolidado cada vez mais na grande mídia como espaços dedicados ao público jovem e adolescente para esclarecer dúvidas sobre saúde, sexo, afetividade e drogas. Para analisar a real contribuição oferecida por essas seções, foram entrevistados 708 adolescentes de escolas públicas e particulares da Grande São Paulo.

Apenas 10,9% dos entrevistados nunca lêem as colunas de consulta e 47,5% dos adolescentes afirmam procurar essas seções porque são fontes esclarecedoras, sendo que 30,7% dos jovens o fazem por timidez ou vergonha de expor as dúvidas aos pais. Cerca de 8% deles menciona que o principal motivo é a dificuldade em conseguir atendimento médico. Do total, 45,5% dizem já ter seguido os conselhos recebidos e desses, 89,9% ficaram satisfeitos.

“No entanto”, comenta Nanan Catalão, editora e coordenadora do projeto de pesquisa, “os próprios adolescentes reconhecem que há problemas: 54,4% mencionam já ter lido respostas que lhes pareceram incorretas. Mas, apesar disso, 43,3% ainda se mantêm dispostos a seguir as orientações das colunas de consulta.

Foram analisadas 1.326 perguntas e respostas de jornais, revistas e programas de rádio e de TV de todo o País, voltadas ou não para o público adolescente. Veículos como as revistas Playboy, Vip ou Nova também foram conferidos. Além de uma análise crítica dos meios de comunicação, a intenção da pesquisa é oferecer material pedagógico para as escolas totalmente elaborado a partir da mídia.

O levantamento de dados realizado pela Andi identificou que as colunas de consulta têm desenvolvido estratégias exemplares de sensibilização social, pois partem do enfoque mais pessoal para influir no coletivo. Têm formato privilegiado para ir além das pautas e inovar na abordagem de questões que dificilmente aparecem nas reportagens. “No entanto, ainda enfrentam importantes desafios de linguagem, estrutura, edição e conteúdo”, explica Nanan.

No item produção e edição, a pesquisa identificou diversos equívocos, como respostas inadequadas ou preconceituosas, algumas contendo erros técnicos. Nanan explica que em certos textos falta profundidade e até mesmo competência e domínio sobre os temas focados, além de um certo mutismo sobre questões de fundamental importância como família, violência e drogas.

Embora raras, houve sérias distorções relacionadas a diagnósticos e receitas médicas como indicação para o uso de pomadas com corticóide ou recomendações para cirurgia. Houve casos de fotos de mulheres nuas utilizadas em suplementos de jornal destinado ao público jovem, aparecendo, inclusive, palavrões nessas seções de consulta.

Por outro lado, muitos pontos positivos também se destacaram. A prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e Aids e as questões de anticoncepção foram bem trabalhadas. A maioria das perguntas preservou o anonimato do consultante. Em geral, as respostas não são autoritárias e abordam temas tabus de forma direta e didática.

A pesquisa constatou que a maior parte das perguntas de crianças, adolescentes e jovens de 10 a 25 anos baseia-se nas questões psicológicas e de comportamento seguido de sexualidade. Em terceiro lugar destaca-se saúde, seguido de abordagens sobre gravidez, DST/Aids, família e orientação afetivo-sexual respectivamente.

O que causou mais espanto foram as perguntas sobre drogas, que ficaram em último lugar. “Talvez o adolescente não queira perguntar sobre a questão, talvez não haja espaço para que faça a sua pergunta: ou talvez, ainda, ele pergunte, mas sua dúvida não é veiculada na mídia. Não se conhecem as razões, ao certo... sabe-se, apenas, que essa é uma discussão bastante difícil e espinhosa, mas daí a justificar o silêncio, há uma grande diferença”, argumenta Nanan. Segundo ela, houve respostas que, além de transmitir informações erradas, foram apelativas e não se basearam em dados científicos e não citaram fontes nem bibliografia.

De acordo com a pesquisa realizada, ficaram assim tabulados as informações: dados que não indicam serviços contabilizaram 88,5% das respostas. Apenas 0,3% das orientações incentiva ações de protagonismo juvenil. Grande parte das questões (60,5%) que tinham oportunidade de falar sobre prevenção às drogas não o fez. E 86,3% das respostas não alertam para as conseqüências da recomendação que está sendo dada; 58% das respostas não são plurais, oferecendo apenas uma visão sobre a questão. Apenas 5% foram autoritárias, menos de 1% das orientações tem interface com o tema religião; 23,6% das questões sobre afetividade e relacionamento têm foco no amor e compromisso e apenas 5,8% se concentram no “ficar” e nas relações esporádicas. Temas como família focalizaram 50% e moralismo, 16,7% das perguntas abordadas.

 




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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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