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Há dois anos diretor da Escola de Artes Dramáticas da USP e desde 1980 professor, Celso Frateschi, 50 anos, recebeu da prefeita Marta Suplicy, já na primeira semana de janeiro, mais uma atribuição a somar-se entre as tantas que vem exercendo ao longo de sua carreira: a de Secretário de Cultura do Município, no lugar de Marco Aurélio Garcia. Frateschi exerceu anteriormente a mesma função na gestão de Celso Daniel em Santo André, e, durante 2001 e 2002, foi diretor do Departamento de Teatro de São Paulo, época em que implantou o projeto de formação de público, trazendo peças gratuitas à população em teatros da Prefeitura. Ele ainda administra o centro para desenvolvimento teatral e escola Ágora, que fica no bairro do Bexiga, região central da capital.

Para facilitar a identificação da fisionomia do novo secretário, basta ligar a TV. É ele quem vive atualmente o papel do anjo Ezequiel na novela global “O Beijo do Vampiro”, em sua primeira participação com um personagem permanente em uma novela, o que lhe trouxe um considerável assédio. “Nas ruas sou sempre lembrado disso”, brinca. Até então, o trabalho de Celso Frateschi em novelas havia sido em papéis de curta duração. No teatro, porém, não acontece o mesmo. De tantos trabalhos realizados, ele nem consegue contabilizar o número total de peças em que atuou e dirigiu. Perdeu as contas. É possível, entretanto, relembrar o que fez de 1997 até hoje. Foram sete peças, entre elas Da Gaivota e Tio Vânia, ambas de Anton Tchekov, e Diana, escrita pelo próprio Frateschi.

Seu mais recente trabalho nos palcos foi viver – bem diferente do anjo da novela – o Diabo, na montagem de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, do escritor português e Prêmio Nobel, José Saramago, que ficou em cartaz no teatro do Sesc Vila Mariana durante 2001 e 2002 e viajou por capitais do País. Além disso, fez cinema, que ele, modestamente resume como “não muitos (filmes)”.

Nascido no bairro paulistano da Lapa de Baixo, Frateschi guarda na memória a primeira peça que assistiu, aos doze anos de idade. Foi Arena Conta Zumbi, que marcou época na história do teatro brasileiro. Pouco depois, por volta dos 16 anos, iniciou as primeiras aulas de interpretação no colégio onde estudava, mas foi forçado a abandoná-las. Em tempos de ditadura, foi suspenso da escola quando os militares baixaram o decreto 477, o que significava expulsão e prisão de alunos que participavam de movimentos estudantis. Frateschi, além de participar do grêmio da escola, organizava idas de grupos ao teatro, numa iniciativa existente na época similar ao que é hoje o projeto de formação de público, segundo ele. Se os militares reprimiram a vontade de estudar e fazer, ao menos a família de Celso Frateschi não fez o mesmo. Diferentemente do que acontece ainda hoje com muitos jovens que desejam seguir a carreira teatral, a família não se opôs: “Eles achavam melhor que eu me tornasse ator do que guerrilheiro”, lembra.

Frateschi: “ O objetivo é socializar os bens culturais e revelar a produção cultural oculta”

Após a expulsão, ainda na década de 60, foi cursar teatro no Arena, onde permaneceu e que o levou a participar do “teatro-jornal” no qual, como o nome sugere, eram encenadas peças extraídas de notícias de jornal, com Augusto Boal, que iria mais tarde idealizar o teatro do Oprimido. Após o fechamento do Arena, mudaram-se para o Teatro São Pedro, que também fechou em 1973 – dois anos após Augusto Boal ter saído da prisão da ditadura – quando, para permanecer com as atividades e cursos até 1980, instalaram-se no teatro Núcleo, que era localizado no bairro da Penha. Na década de 90, o Teatro São Pedro foi reaberto para atividades, após reforma.

Celso Frateschi conversou com a reportagem do Jornal da USP sobre o que já fez na direção da EAD e o que pretende como Secretário de Cultura da cidade.

Jornal da USP – Qual tem sido sua participação na EAD desde que assumiu a direção da escola? O curso foi modificado?

Celso Frateschi – A estrutura do curso foi mantida. A EAD é uma escola tradicional em São Paulo, que serve de paradigma para os outros cursos de teatro, que são, em geral, de duração muito curta. O curso da EAD tem quatro anos, e a maioria das escolas forma o aluno em um ano e meio. O que tenho feito é conseguir gerir a escola de uma forma horizontal, o que significa que a participação do corpo docente acontece de fato e também é dada vazão à participação dos alunos, com assembléias anuais. Esse processo de grande envolvimento de todos se torna muito prazeroso, e nele às vezes os papéis chegam a se perder... Além disso existe o estímulo à visão, ao pensamento crítico. O aluno da EAD é conscietizado de que ele custa caro para o Estado, e que ele precisa devolver isso à sociedade.

JUSP – Quais mudanças pretende fazer na Secretaria de Cultura de São Paulo? E o que permanece?

Frateschi – Minha gestão será de continuidade a do Marco Aurélio. Isso significa que as linhas mestras serão mantidas: o objetivo é socialização de bens culturais, revelar a produção cultural oculta e estimular o pensamento sobre o País e a cultura. Só muda a forma de fazer isso, o estilo. O Marco Aurélio é um intelectual e eu sou um ator, sou “burro”.

JUSP – Como essas metas serão colocadas em prática?

Frateschi – Com cursos gratuitos em centros culturais, oficinas, seminários com pensadores, como aconteceu no Centro Cultural São Paulo e no projeto do Colégio de São Paulo (ciclo de seminários na Biblioteca Mário de Andrade, que contou com a presença da filósofa Marilena Chauí, entre outros nomes). São iniciativas que possibilitam a reflexão. Também com a continuidade do Projeto de Formação de Público, trazendo as pérolas, os clássicos da dramaturgia, com a formação de público pesado. Já existe hoje o teatro vocacional. São cem grupos não profissionais espalhados pelos espaços culturais da cidade, que fazem apresentações.

JUSP- Quais as suas expectativas em relação ao ministério do Gilberto Gil?

Frateschi – As melhores possíveis. Ele tem a capacidade de liderança no meio artístico e está cercado de bons secretários e assessores. Espero que mude radicalmente a ligação entre município e União, para que haja a integração de um sistema cultural interessante.

JUSP – Entre atuar e dirigir, o que prefere?

Frateschi – Gosto tanto de atuar, dirigir e fazer política, dependendo do momento. Escolho. Não costumo fazer nada por imposição.

 




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