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Primeira
fábrica a produzir porcelanas finas |
Quem
não tem em casa nenhuma xícara ou prato de porcelana
decorado que foi presente de parentes de outra geração?
Quem sabe ainda algum modelo kitsch de um gatinho ou de um palhaço?
Se mesmo atualmente – quando o plástico e o vidro se
apresentam como alternativas práticas às louças
de porcelana ou faiança (espécie de porcelana mais
grossa) – essas peças ainda fazem parte de nosso dia-a-dia,
não é difícil imaginar que, na época
em que eram produzidas, fossem utilizadas freqüentemente por
diferentes camadas sociais para variadas funções.
Para retornar àqueles tempos, o Museu Paulista, conhecido
como Museu do Ipiranga, apresenta ao público louças
como essas, carregadas de histórias da sociedade, para comemorar
o aniversário da cidade de São Paulo.
A exposição
“Louça Paulista” tem o enfoque na produção
industrial de louças na região da Grande São
Paulo, que foi de larga escala entre as décadas de 1910 e
1940. Este que foi um dos mais importantes ramos industriais daqueles
anos, atualmente é relegado ao esquecimento pela história
do Brasil. “A
fabricação de faianças e porcelana é
uma lacuna na história brasileira. É como se a sociedade
não tivesse produzido. Assim, perde-se a noção
do quanto houve de história do trabalho no País”,
comenta a pesquisadora Heloísa Barbuy. Normalmente, a indústria
nacional de consumo não é considerada relevante pela
história, que prioriza a indústria mais pesada. Por
isso, o estudo de materiais como louças pode trazer à
luz novos conhecimentos sobre a sociedade paulistana. É para
isso que a pesquisa de iniciação científica
de Heloísa Barbuy e Hermes Martins procura atentar. “O
porte das fábricas surpreendeu a mim mesmo, já depois
de iniciada a pesquisa”, conta Martins, originário
de Mauá, um importante centro da fabricação
de louças. A grandeza dessas indústrias pode ser percebida
por meio de fotografias de seus prédios, também apresentadas
na exposição, e pela quantidade de funcionários
que contratavam, que alcançava o número 1.800.
Peças
em série, mas artesanais
Quando
essas fábricas nasceram em São Paulo, o mercado consumidor
já existia aqui, formado por pessoas que possuíam
o costume de utilizar louças, porém, importadas. Com
o advento da produção nacional, o hábito se
expandiu, deixando de se restringir às classes mais favorecidas.
Entretanto, assim como a difusão de tal produção
foi rápida, seu desaparecimento também o foi. Hoje,
somente três fábricas dentre as oito anteriormente
existentes ainda funcionam. Foram criadas técnicas exclusivas
brasileiras, alguns modelos de louças adquiriram cores e
estampas locais. Também eram fabricados estatuetas, santos
e louças mais grossas para uso diário. A produção,
portanto, refletia uma preferência popular, além daquela
mais refinada. “Através
do acervo é possível entender muito mais a sociedade,
por meio dos gostos das pessoas ou da sofisticação
a que chegou nosso país”, explica Ricardo Bogus, curador
da exposição.
Ao
mesmo tempo em que produziam em grandes quantidades, para o País
e para exportação, as fábricas ainda mantinham
um caráter artesanal: as receitas estavam em experimentação
permanente. Chegavam a aparentar receitas caseiras de fato: anotadas
em cadernetas pelo próprio dono da fábrica, com sugestões
de utilização de matérias-primas. No Museu
Paulista estão presentes as anotações daquele
que foi o primeiro proprietário de fábrica de louças
do Brasil, Romeo Ranzini. De sua indústria Santha Catarina,
fundada em 1912 no bairro da Água Branca, outras surgiram
mais tarde: seus operários trazidos da Itália fundaram
suas próprias unidades, o que favoreceu bastante a difusão
do ramo. Em um de seus muitos testes, Ranzini conseguiu fazer porcelana,
após produzir várias peças de faiança.
O vaso resultante foi então oferecido como presente a sua
nora, que hoje colabora com a pesquisa e a exposição
ao doar diferentes modelos de louça e as cadernetas do sogro,
além de fotografias das fábricas, ao acervo do museu.
Assim foram angariadas as cerca de 150 peças da exposição:
com as famílias proprietárias das antigas indústrias
ou os museus localizados em regiões em que a produção
de louças se destacou, como Mauá e São Caetano.
Quando
o patrimônio industrial se encontra em processo de destruição,
com prédios desaparecendo, como o de uma das fábricas
analisadas, que foi demolido há cerca de um mês, a
importância da preservação do próprio
produto industrial cresce. Para o curador Bogus, a idéia
comum é a de que os museus só trabalham com peças
excepcionais. No entanto, objetos de uso cotidiano são fundamentais
na construção da história da cultura, especialmente
da cultura material. “Se demorasse para coletar esse material,
poderia ser que mais adiante ele não existisse”, declara
Heloísa. A preservação e a catalogação
das peças é a base para estudos de seu uso cotidiano.
E aos visitantes do museu, a exposição pode despertar
uma vontade de descobrir um pouco mais sobre aquela xícara
presenteada pela avó, procurando no fundo da louça
um pouco da sua história e do País.
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Anotações
do primeiro dono de fábrica de louças |
A exposição
“Louça Paulista” entra em cartaz a partir deste
sábado e fica até o dia 25 de julho, no Museu Paulista
da USP (Parque da Independência, s/nš, tel. 6165-8000). De
terça a domingo, das 9h às 16h45. Os ingressos custam
R$ 2,00. Porém, no sábado, o museu estará aberto
das 8h às 18h com uma programação especial
e a entrada será franca. Também no terceiro domingo
de cada mês a entrada é gratuita.
Programação
especial
O
Museu Paulista oferece, além da exposição
“Louça Paulista”, outras atividades no
dia 25. A partir das 9h30, em diferentes horários ao
longo do dia, será exibido o vídeo Museu Paulista
da USP e São Paulo Antiga: Uma encomenda da modernidade.
Também às 9h30, há o lançamento
do Suplemento Especial do Diário Oficial do Estado
dedicado à indústria de São Paulo, inclusive
com artigos sobre o mesmo tema da exposição.
Às 16h30, acontece um recital de violões, com
o Duo Bartoloni – Fábio e Giacomo Bartoloni.
E das 20h15 às 23h15h, o museu vai estar iluminado.
A programação do Museu do Ipiranga está
incluída no projeto São Paulo – A cultura
é presente, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão
Universitária, que envolve também outras unidades
da Universidade, como o Instituto de Estudos Brasileiros,
que sedia a exposição “A arte brasileira
pelo olhar de Mário de Andrade”, com obras de
Di Cavalcanti, Portinari, Anita Malfatti, entre outros; e
o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) com “Formas
de Humanidade”, mostrando como viviam as pessoas de
várias épocas e lugares do mundo. Ainda será
realizada a palestra “Água demais e água
de menos na cidade de São Paulo” (no Parque CienTec,
na Água Branca, com agendamento pelo tel. 5073-9151).
Mais informações sobre os horários e
os locais dos eventos podem ser obtidas pelos tels. 3091-2093
ou 3091-3575.
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