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O
professor Paulo Lotufo, novo superintendente
do HU:
“Quero que este hospital seja digno de pertencer à
melhor universidade do País,
buscando liderança em todos os campos em que estiver
atuando” |
Depois
de concorrer à lista tríplice votada pelo Conselho
Deliberativo do Hospital Universitário (HU) no dia 23 de
janeiro – com as professoras Raquel Rapone Gaidzinski, da
Escola de Enfermagem, e Vitoria Kedy Cornetta, da Faculdade de Saúde
Pública –, o professor Paulo Andrade Lotufo foi nomeado
pelo reitor Adolpho José Melfi para exercer a função
de superintendente do hospital, em substituição a
Maria Lucia Lebrão.
Lotufo
encara o desafio de dirigir o hospital com muita dedicação
e determinação. Para ele, o HU é um hospital
de excelência com um corpo de profissionais gabaritados, que
serve de campo de treinamento para várias unidades da Universidade.
“Quero que este hospital seja digno de pertencer à
melhor universidade do País, buscando liderança em
todos os campos em que estiver atuando”, ressalta Lotufo.
Segundo
o professor, sua indicação para dirigir o HU faz parte
de um novo projeto concebido para distinguir as diferenças
entre as atividades exercidas pelo hospital e as ações
do Sistema Integrado de Saúde da USP (Sisusp). O Conselho
Deliberativo, na figura do professor Giovanni Guido Cerri, indicou
a necessidade de mudar as bases jurídicas do atual regimento,
com algumas distinções importantes entre o setor-fim
do hospital – o acadêmico – e o setor-meio, o
administrativo.
O novo
superintendente considera essa divisão de tarefas muito importante
para o bom andamento das ações do hospital. “Em
nenhum lugar do mundo consegue-se fazer as duas coisas atendendo
às exigências de um ambiente externo competitivo. Não
se trata de nenhuma novidade, porque isso ocorre em todos os hospitais-escola
onde há diretor administrativo e diretor científico”,
afirma.
Lotufo
cita como modelo os hospitais universitários das escolas
americanas, onde existe um diretor científico que traça,
com todos os departamentos, as diretrizes do hospital e, além
dele, uma diretoria administrativa que leva adiante essas decisões
com um grau de autonomia bastante grande. Mas o novo diretor deixa
claro que isso não significa que a partir de agora o hospital
terá duas estruturas de poder. “Será mantido
o respeito às regras. A Reitoria, o Conselho Deliberativo
e a Superintendência são instâncias de poder
maiores no HU.
Depois
temos os Departamentos Médico e de Enfermagem, a Divisão
Administrativa e a Divisão Técnico-Assistencial, todos
respondendo diretamente ao superintendente. O processo de mudança
regimental será determinado pelo Conselho Deliberativo. A
mim caberá obedecer o calendário de mudanças
a ser estabelecido pelo conselho. Porém, durante esse período,
devo manter o hospital funcionando e avançando nas suas propostas
de assistência, ensino e pesquisa”, esclarece Lotufo.
As
prioridades – Entre suas prioridades, o novo superintendente
quer valorizar os recursos humanos. Ele fará isso em três
frentes. Primeiro Lotufo pretende eliminar o analfabetismo digital,
a fim de que todos os funcionários sejam habilitados a ligar
um computador, acessar as páginas eletrônicas, navegar
na Internet e receber mensagens. Para isso o hospital terá
uma unidade de terminais para uso pessoal disponível 24 horas
por dia.
A segunda
forma de valorizar os recursos humanos será a promoção
de cursos de capacitação em programas específicos,
como banco de dados, planilhas e geoprocessamento para todos os
funcionários, além do estímulo aos cursos de
aprendizado da língua inglesa. A terceira ação
imediata será prover cursos de estatística e metodologia
científica para o pessoal de nível superior. “Teremos
também uma preocupação enorme com a educação
continuada, além do projeto Prata da Casa, que quer valorizar
e promover o pessoal interno do HU.
Tenho
a intenção de permitir, de forma aberta, que os funcionários
de nível técnico possam estudar administração
para assumir novas tarefas. Da mesma forma, considero desnecessário
ficar trazendo pessoal de fora para dirigir áreas técnicas
quando temos médicos, enfermeiras e outros profissionais
que exercem, fora do HU, atividades de responsabilidade, podendo
ser aproveitados aqui”, esclarece.
Outra
prioridade de Lotufo é reorganizar algumas áreas físicas
do hospital, como também os equipamentos. Segundo o superintendente,
a área de Nutrição e a área de Imaginologia
(raio x, mamografia, ultra-som) serão as primeiras a sofrer
mudanças. Para isso ele quer criar uma relação
permanente com o Departamento de Radiologia da Faculdade de Medicina
da USP, a quem caberá toda a orientação técnica
do serviço a ser realizado.
Quanto
ao ensino ministrado pelo HU, Lotufo diz que toda e qualquer atividade
do hospital precisa ter a preocupação de transmitir
conhecimentos. Essa é uma exigência da sociedade que
sustenta a instituição, diz. “No entanto”,
explica Lotufo, “a responsabilidade pelo ensino é das
unidades que compõem o HU e não da Superintendência.
À administração cabe dar o devido suporte de
pessoal e de recursos físicos ao ensino. O controle de qualidade
é das unidades.”
Já
no campo da pesquisa, Lotufo quer incrementar o número de
estudos realizados pelo HU, para que num futuro próximo ele
se transforme em um hospital-escola líder em pesquisas. “Embora
tenha se disseminado uma cultura de que o HU seria só destinado
ao ensino, ainda é tempo de recuperar essa imagem de uma
instituição voltada também para a pesquisa
científica”, defende.
Além
de sua experiência, o superintendente traz para o HU três
projetos de pesquisa. Um deles será desenvolvido pelo professor
Paulo Menezes, da Faculdade de Medicina da USP, que trabalhará
os distúrbios cognitivos em idosos da comunidade do Butantã,
próxima à Cidade Universitária. Já a
professora Isabela Benseñor, também da Faculdade de
Medicina, vai estudar a disfunção da tireóide
nas servidoras da Universidade acima de 40 anos. Enquanto isso,
Lotufo e uma equipe de médicos vão realizar um estudo
geral clínico e cardiovascular em todos os servidores da
USP durante cinco anos. Para isso eles pleiteiam à Welcome
Trust, da Inglaterra, um complemento em recursos para a pesquisa,
já aprovada pela Fapesp.
Mudanças
no atendimento – Quanto à pressão da comunidade
USP e do Butantã e às constantes reclamações
dos usuários sobre o atendimento, o superintendente não
se deixa abalar. Para ele, em toda e qualquer sociedade a cobrança
dos usuários é fundamental para o bom andamento de
qualquer empreendimento. “Algumas reclamações
são legítimas, como, por exemplo, o agendamento feito
por telefone. A idéia é boa, desde que consiga dar
conta do recado. Já estamos encaminhando mudanças
previstas para o mais rápido possível. Pretendemos
viabilizar o agendamento via Internet. No futuro queremos que o
próprio funcionário faça o seu agendamento
sem precisar de intermediário. Ele entra no sistema, escolhe
o dia do atendimento e confirma data e hora.”
Para
melhorar o ambiente do HU e o relacionamento entre os servidores
será criado um Centro de Vivência, no primeiro andar
do prédio, que incluirá cafeteria, livraria científica,
loja de equipamentos cirúrgicos e terminais eletrônicos
de bancos, além da unidade de informática com computadores
conectados à Internet. O superintendente quer evitar também
que os servidores atendam o público em pé, num balcão.
“Não há guichês, cadeiras, nada. O funcionário
é o elemento principal deste hospital, porque é ele
quem atende ao paciente doente e manipula os equipamentos.”
O controle
eletrônico da freqüência dos funcionários
será mantido, pois, segundo Lotufo, ele facilita a vida das
chefias. “Quem trabalha direito não tem problema com
a catraca. Mas isso não é tudo. O controle de ponto
é parte de uma política de recursos humanos que inexiste.
No caso dos médicos, que conheço bem, precisamos de
uma carreira bem definida, incluindo a forma de relacionamento com
a Faculdade de Medicina, onde representamos parte considerável
do corpo docente na graduação e na residência.”
Uma
vida contra
os males do coração
O
novo superintendente do HU, professor Paulo Andrade Lotufo,
nasceu em São Paulo há 46 anos. Aos 18 entrou
na Faculdade de Medicina da USP, onde se graduou em 1980.
A residência, em clínica médica, foi
realizada no Hospital das Clínicas entre 1981 e 1983.
Escolhido preceptor-chefe do HC, ficou nessa função
durante dois anos. Em 1985 ingressou no Hospital Universitário
como médico clínico. Em agosto de 1987 foi
dirigir a Divisão de Saúde Oeste da Prefeitura
de São Paulo, onde permaneceu até 1989. Durante
os anos de 1991 e 1992 dirigiu a Divisão de Saúde
da Coordenadoria de Assistência Social (Coseas) da
USP, retornando ao HU quando da incorporação
da Divisão de Saúde do hospital. Em 1994 assumiu
a chefia do Ambulatório Geral e Didático do
HC.
Seus
cursos de mestrado e doutorado foram concluídos em
1993 e 1996, respectivamente, na Faculdade de Saúde
Pública da USP. Neles, dedicou-se a investigar a
epidemiologia das doenças cardiovasculares. Em 2002
defendeu tese de livre-docência, também sobre
as doenças cardiovasculares. De agosto de 1997 a
dezembro de 1999 participou da Harvard Medical Scholl como
pesquisador visitante, com bolsa da Fapesp. Ao retornar
ao Brasil, foi escolhido pelo Departamento Médico
para assumir a diretoria da Divisão de Clínica
Médica.
Além
das atividades no HU, também é responsável
pelo curso de pós-graduação do Departamento
de Cardio-pneumologia da Faculdade de Medicina da USP e
participa de vários projetos em andamento, entre
eles o Genoma Câncer, da Fapesp. Foi eleito diretor-científico
da Associação Paulista de Medicina, sendo
o atual editor das revistas São Paulo Medical Journal
e Diagnóstico & tratamento. Participou como editor
do Manual de Condutas do Programa Saúde da Família.
Integra também a Comissão Estadual de Residência
Médica de São Paulo. É casado há
16 anos com Isabela Martins Benseñor, médica
do Hospital das Clínicas, e tem três filhos:
Laura, Inês e Erico.
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