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Listas dos melhores livros de todos os tempos. Dos melhores filmes. Das melhores músicas. Até aí nenhuma novidade. O filme Alta fidelidade, de Stephen Frears, já mostrou essas infindáveis listas. Recente música da banda brasileira Titãs já ironizou esse estranho – e porque não irresistível – hábito de rotular as coisas que participam de nossas vidas. Cada um tem sua lista de preferidos, não só de filmes, mas de cenas, diretores, atores, trilhas sonoras. O Cinusp agora também fez uma lista: de filmes “para gostar de cinema”, que reúne clássicos dos anos 50.
A primeira parte da mostra, que acontece neste mês, abre com Jean Renoir como diretor e o cabaré Moulin Rouge como cenário.
Mas não é só. É sua soberba inauguração que o filho do impressionista Auguste Renoir pinta com muita luz e cor e também com pinceladas de um musical hollywoodiano. Com nostalgia e idealismo, ele retrata em French Cancan (1955) a Cidade-Luz na famigerada boemia do tempo de Toulouse Lautrec. E esse quadro é mostrado através da história da criação desse novo cabaré, de seu proprietário, das dançarinas de cancã e seus romances que culminam na abertura do Moulin Rouge.

A França e sua dança também estão presentes no segundo filme da mostra, Lola Montès (1955), considerado por críticos como a obra-prima do diretor de origem alemã Max Ophüls. Sua câmera em movimentos frontais e em círculos reproduz os altos e baixos das vidas dos personagens. “Para mim, a vida é movimento”, declara a personagem principal ao narrar sua própria história numa arena circense, sendo “atacada” por perguntas vorazes acerca de seu passado. Ex-cortesã do século 19, em sua ascensão ela vivenciou um romance com um monarca da Baviera e em sua decadência ela relata experiências neste espetáculo invasivo.

E quem não tem na memória a cena em que Gene Kelly canta e dança embaixo de chuva, ao ouvir “I’m singing in the rain…”? Numa sutil crítica à Hollywood dos anos 20 e sua transição do cinema mudo para o sonoro, o musical Cantando na chuva (1952), de Gene Kelly e Stanley Donen, retrata com humor a dissolução de um casal de astros do cinema mudo quando emergem os filmes falados.

Já Billy Wilder une suas capacidades de criar comédias e dramas num mesmo filme, o Testemunha de acusação (1957), que se passa em grande parte num tribunal, no entanto com diálogos irônicos, mantendo a um só tempo o suspense e o humor. O roteiro é uma adaptação de um mistério de Agatha Christie, em que um velho advogado decide defender um acusado de assassinato, após um pedido – quase um clamor – da esposa do suposto criminoso.

Concorreu ao Oscar, com 14 indicações, o título A malvada (1950), que relata um caso real – ou casos reais – dos bastidores do teatro. Os diálogos ferinos permeiam a trama que mostra, através de flash-backs a ascensão maquiavélica de uma atriz teatral. Na entrega de um prêmio, ápice de sua carreira, aqueles que conviveram com ela relembram os acontecimentos que a levaram até o auge. O diretor e roteirista desta produção que devassa o mundo teatral da época, Joseph Mankiewicz, também foi roteirista do consagrado Cidadão Kane. Inclusive, a ausência na mostra deste título que encabeça a maior parte das listas de cinéfilos e que atualmente chega a ser sinônimo da expressão “o melhor filme de todos os tempos” pode causar estranhamento.

Porém, é exibido um outro destaque do precoce diretor Orson Welles: A marca da maldade (1958), baseado na idéia do livro A insígnia da maldade, de Whit Masterson. A célebre abertura do filme segue os personagens principais num carro por minutos, sem cortes. Numa atmosfera noir e pessimista, o cenário são as cidades da fronteira entre os Estados Unidos e o México, captadas nas imagens sombrias. E os personagens principais são um detetive mexicano e um policial norte-americano um tanto corrupto, porém com princípios de que ele não abre mão, interpretado pelo próprio Welles. Mais um grande nome nessa lista de cinema, que se pode apreciar, concordar, discordar e acrescentar.

Sessões às 16h e 19h, no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias, Cidade Universitária, tel. 3091-3540). A entrada é franca.

 

 

 

Programação

10 a 12 de março
16h – Lola Montès, com Martine Carol e Peter Ustinov
19h – French Cancan, com Jean Gabin e Maria Félix

13 e 14 de março
16h – French Cancan
19h – Lola Montès

17 a 19 de março
16h – Testemunha de acusação, com Billy Wilder e Harry Kurnitz
19h – A marca da maldade, com Orson Welles, Charlton Heston e Janet Leigh

20 e 21 de março
16h – A marca da maldade
19h – Testemunha de acusação

24 a 26 de março
16h – A malvada, com Bette Davis e Anne Baxter
19h – Cantando na chuva, com Gene Kelly e Debbie Reynolds

27 e 28 de março
16h – Cantando na chuva
19h – A malvada

 




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