Três
anos depois de apresentar a peça Mumu, a vaca metafísica
no Teatro Laboratório da ECA e após enfrentar as muitas
adversidades que se impõem a grupos de teatro, a Cia. dos
Gansos agora estréia o espetáculo O crápula
redimido no Centro Cultural São Paulo. A nova peça
traz mais uma vez elementos que já estavam presentes na anterior,
como, por exemplo, a crítica à superficialidade das
relações da classe média e a seus valores decadentes
através do humor.
A comédia,
gênero em que o autor e diretor Leonardo Cortez se sente mais
à vontade, é retomada na história de um empresário
que, ao saber da proximidade de sua morte, decide redimir-se perante
aqueles que ele prejudicou ostensivamente durante toda sua carreira.
Contudo, ele depois percebe que as pessoas à sua volta agiam
tão inescrupulosamente quanto ele, ou até com maior
desonestidade. “A comédia tem o mérito de mostrar
o ridículo e o patético de nossas posturas sociais”,
explica o dramaturgo. O drama que o personagem principal atravessa
é ironizado inclusive na trilha sonora, que inclui fados,
tangos e boleros tradicionais, conferindo a um só tempo tons
melodramáticos e caricaturais à trama.
A peça
originou-se de uma entrevista em que um empresário afirmava
serem os sete pecados capitais a mola propulsora do sistema capitalista.
Utilizar-se justamente desses pecados em seu favor foi a fórmula
do bem-sucedido Getúlio Miranda, protagonista da narração,
e o que o levou a rever suas atitudes. Em casa, ele tenta se redimir
com a esposa; no asilo, com a mãe; no prostíbulo,
com a amante; e no escritório, com os funcionários,
percebendo que todos seus relacionamentos estavam condenados à
aparência e condicionados a mentiras.
Partindo
desse argumento, Cortez questiona “o comportamento humano
e as conseqüências de ambições equivocadas”,
segundo ele próprio. “É uma crítica às
relações que menosprezam o amor e a solidariedade,
e, claro, ao capitalismo”, continua. É especialmente
no retrato do cotidiano de uma grande empresa capitalista, permeado
por ambições e jogos de poder, que o humor é
encontrado, através dos característicos diálogos
ágeis do autor.
Se
a princípio o texto aparenta ser pessimista e desolador,
ao longo da história, no entanto, emergem em meio ao roteiro
esperança e otimismo. “A arte tem a obrigação
de melhorar a vida das pessoas”, continua acreditando o autor,
que já tinha essa frase de Tom Jobim como lema quando ainda
mostrava sua primeira peça na ECA.
A
peça O crápula redimido estréia nesta terça
e fica em cartaz até o dia 17 de abril, de terça a
quinta, às 21h, no Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro,
1.000, Paraíso, tel. 3277-3611). Os ingressos custam R$ 10,00,
mas serão vendidos ao preço popular de R$ 1,00 no
dia 25 deste mês.
|