Uma
tartaruga morta, com 46 centímetros de comprimento, afetada
por papilomas, foi levada ao Cebimar no dia 15 de janeiro por dois
turistas de São Sebastião. Ela não foi levada
por acaso. Um trabalho coordenado pela professora Valéria
incentiva a população a recolher animais doentes ou
feridos para que sejam tratados e depois encaminhados a uma instituição
que possa se responsabilizar pelo manejo. Os animais mortos são
preservados e oferecidos ao Museu de Zoologia da USP ou outra instituição
de ensino e pesquisa que requisite esse tipo de material para fins
de pesquisa e ensino. O retorno tem sido excelente. As pessoas já
se acostumaram a levar ao centro os exemplares que encontram e o
nome do coletor, caso ele concorde, é incluído na
ficha de identificação do animal.
No
caso das tartarugas-marinhas, o projeto Tamar, sediado em Ubatuba,
já vem trabalhando em colaboração com pesquisadores
da FMVZ-USP para desenvolver um tratamento para curar o papiloma
que ataca esses quelônios marinhos. Os dados coletados pelo
Cebimar são passados aos biólogos do Tamar numa forma
de colaborar com este trabalho.
Quando um animal ainda está vivo e tem chance de sobreviver,
ele é mantido no centro até que possa ser transferido
para um aquário, zoológico ou Cetas (Centro de Triagem
de Animais Silvestres). Dependendo do animal e do seu estado físico,
ele é então liberado no seu hábitat natural
ou mantido permanentemente em cativeiro. Se o animal está
morto, é congelado e oferecido como material para pesquisa
e ensino. No momento, o centro possui nove pingüins-de-magalhães,
um filhote de golfinho, um filhote de lobo-marinho, um socó
e cinco tartarugas marinhas congelados aguardando transferência
para o MZ-USP. No caso dos pingüins, o Cebimar alerta para
um procedimento errado e muito perigoso: colocar o animal na geladeira.
É morte certa, porque não se tratam de pingüins
polares mas de espécies trazidas por correntes vindas da
Argentina. Como estão debilitados, eles morrem se submetidos
a baixas temperaturas. Os interessados em prestar os primeiros socorros
a esse tipo de animal encontram informações no site
do Cebimar. www.usp.br/cbm/artigos/pinguim.html
Alertado
por uma moradora da Ilhabela em novembro do ano passado, o centro
registrou a presença de um grupo de cerca de 12 baleias orcas
no Canal de São Sebastião. Elas foram fotografadas
com exclusividade pelos alunos e técnicos da instituição.
Nesses casos, a prestação de serviços não
se restringe à resposta de solicitações da
população, mas também no atendimento aos meios
de comunicação – jornais, revistas, rádios
e emissoras de televisão – que buscam no Cebimar informações
confiáveis sobre este tipo de ocorrência para divulgar
ao público em geral. O primeiro registro de um elefante-marinho
no litoral norte paulista também foi documentado pelo Cebimar
em 2002. Nesses casos, os dados são fornecidos, também,
a pesquisadores do Brasil e do exterior que trabalham com mamíferos
marinhos, uma forma de colaborar com colegas que atuam em outras
áreas da biologia marinha. Um texto básico sobre a
biologia do elefante-marinho está disponível para
consulta na página de divulgação científica
do site do Cebimar (www.usp.br/cbm/artigos.
html). Este
texto inclui recomendações sobre os cuidados a serem
tomados quando se entra em contato direto com um animal destes,
evitando acidentes que possam resultar em ferimentos ao animal ou
à pessoa que pretenda socorrê-lo.
Este
trabalhofeito pela USP em São Sebastião pretende desenvolver
uma postura de proteção ao meio ambiente e à
vida. Aos poucos, a população residente e turista
está tomando consciência das atividades de ensino e
pesquisa realizadas no Cebimar, tornando-se aliada da instituição
no sentido de preservar a área e manter intactos os equipamentos
utilizados na tomada de dados no ambiente.
O Cebimar
tem atuado, também, num trabalho de conscientização
da importância dos poucos remanescentes de manguezal da região,
como a Praia do Araçá, situada ao lado do porto de
São Sebastião, abrigando uma fauna característica
e espécies não encontradas em outros ecossistemas.
“A praia lodosa do Araçá, com seu manguezal,
é uma das razões para o Cebimar estar localizado aqui”,
diz o biólogo Cláudio Tiago, lembrando que até
pesquisadores estrangeiros já a utilizaram como local de
coleta de material para pesquisas, realizadas no centro da USP.
Já houve várias tentativas de aterrá-la para
servir de retroporto, mas o pesquisador alerta que os manguezais
estão protegidos pela Constituição.
Cláudio
Tiago: manguezais são fundamentais por abrigar espécies
não encontradas em outros ambientes |
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Entre
os animais que vivem em manguezais Cláudio Tiago lembra os
organismos que perfuram madeira. À sua atividade atribuem-se
episódios de grande impacto histórico. Colombo teria
perdido sua frota na Jamaica por ter sido carcomida pelos perfuradores
de madeira; o mesmo teria acontecido com a Invencível Armada
Espanhola, formada por navios pequenos e rápidos, cujos cascos
enfraquecidos não resistiram às manobras exigidas
pela estratégia da batalha, e se quebraram. Segundo o professor,
existem 70 moluscos e dez crustáceos conhecidos que perfuram
madeira no mar, além de vários outros organismos marinhos
que também atuam na deterioração deste tipo
de material. “O manguezal é um dos ambientes mais representativos
desse tipo de fauna. Só por isso já valeria a pena
preservá-lo. Sem eles e sua capacidade de digerir celulose
a madeira não se decomporia na água nem retornaria
ao ciclo de nutrientes.”
Com
um GPS (aparelho que indica a posição de qualquer
ponto ou objeto com ajuda de satélites artificiais) na mão,
Cláudio Tiago localiza a poça da praia lodosa onde
os jovens do Cebimar procuram exemplares do peixe amboré:
23º 48’ 45’’S/ 45º 24’ 35’’W
(latitude: 23 graus 48 minutos 45 segundos sul/longitude: 45 graus
24 minutos 35 segundos oeste).
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