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Taxi Kamikaze,
de Harada Masato
O Mar Silencioso Daquele Verão, de Takeshi Kitano

A revelação do cinema japonês é seguramente o acontecimento cinematográfico mais considerável, desde o neo-realismo italiano... País de cultura antiga e de fortes tradições, o Japão parece ter assimilado o cinema com tanta facilidade quanto todas as técnicas ocidentais (trechos do livro O Cinema da Crueldade, de André Bazin, principal crítico francês do pós-guerra). O cinema japonês moderno e contemporâneo é o tema da próxima mostra do Cinusp, que vai exibir mais de 20 filmes de diretores como Akira Kurosawa, Yasujiro Ozu, Kenji Mizoguchi, entre outros. No início de maio, de 6 a 8, será realizado o seminário “O Cinema Japonês”, ministrado por João Luiz Vieira, professor do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense (autor de Cinema Novo and Beyond – New York: The Museum of Modern Art e Câmera-faca: o cinema de Sérgio Bianchi – Santa Maria da Feira, Portugal), que também assina a curadoria da mostra. E ainda no dia 6, acontece um debate entre o professor Vieira, Eduardo Valente (diretor do curta Um Sol Alaranjado) e Jo Takahashi (Fundação Japão).

Na mostra, há preciosidades como a primeira produção do pós-guerra Pai e Filha (1949), colaboração de Yasujiro Ozu e o roteirista Kogo Noda, e que se tornou um protótipo das obras de Ozu nos anos 50 e 60, cristalizando normas formais e temáticas: no filme, as cenas são autônomas e cada personagem se desenvolve de forma independente do enredo. Ou Oharu – A Vida de uma Cortesã (1952), de Kenji Mizoguchi, que ganhou o Leão de Prata no Festival de Veneza de 1952, dando forte impulso à divulgação do cinema japonês no Ocidente, e é inspirado no romance A Vida de Uma Mulher Sensual, de Saikaky Ihara, obra clássica que examina criticamente as relações entre os sexos no Japão feudal. E ainda Juventude sem Arrependimentos (1946), de Akira Kurosawa, que extraiu matéria dramática de dois incidentes reais para evocar um obscuro período da história japonesa. O roteiro de Hisaita Hijiro, dramaturgo proletário que estava proibido de escrever durante a guerra, mostra como o exército japonês invade, em 1933, a Manchúria, procurando controlar o povo para levar adiante seus projetos expansionistas.

Várias obras baseadas em livros, peças, contos e romances integram a mostra. É o caso de Contos da Lua Vaga Depois da Chuva (1953), filme célebre de Kenji Mizoguchi, livremente inspirado em dois contos fantásticos de Akinari Ueda: ambientado na guerra civil japonesa de 1583, traz a história de um pobre oleiro, que é seduzido por uma dama aristocrática. Em Vida de Casado (1951), da obra inacabada da escritora Fumiko Hayashi, a composição dramática do roteiro e a descrição precisa dos sentimentos de uma mulher são os elementos centrais dos estudos psicológicos típicos do diretor Mikio Naruse. Inspirado no romance de Ogai Mori que adaptou o conto popular conhecido como “Anju e Zushio”, O Intendente Sansho (1954), de Kenji Mizoguchi, faz uma descrição realista do sistema feudal e da escravidão no período medieval japonês. Ainda de Mizoguchi, Os Amantes Crucificados (1954), da peça teatral de Monzaemon Chikamatsu, conta uma história de amor que tem como pano de fundo as relações econômicas e políticas da sociedade feudal em declínio e da burguesia nascente. Castelo de Areia (1974), de Nomura Yoshitaro, é baseado no livro de Matsumoto Seicho e tem uma estrutura de cenas sincronizadas entre uma investigação policial e a performance de uma composição orquestrada. O diretor Kon Ichikawa mostra um mundo de beleza ao retratar o estilo de vida de uma família abastada antes da guerra em As Irmãs Makioka (1983), baseado no romance de Juníchiro Tanizaki. Também de Ichikawa, Tsugumi (1990) foi adaptado do best seller de Banana Yoshimoto, o que talvez tenha contribuído para o sucesso do filme no Japão, além da estrela Riho Makise ter atuado no papel-título.

Cartaz de
Juventude sem Arrependimentos,
de Akira Kurosawa

E há outras obras que falam sobre a guerra e o pós-guerra. Época de Garoto (1990), de Masahiro Shinoda, mostra o sokai, evacuação em massa das cidades ocorrida na Segunda Guerra Mundial, ocasionando o encontro da cultura rural com a urbana. O período de grande desemprego e depressão econômica vivido pelo Japão é retratado em O Filho Único (1936), que se inclui no espírito das obras dos anos 20 e 30, em que Yasujiro Ozu se dedicava à crítica incessante das falhas e promessas da era Meiji. O diretor Kohei Oguri traça, através do drama doméstico O Ferrão da Morte (1990), um retrato realista do caráter do povo japonês no pós-guerra, conquistando no mesmo ano o prêmio de crítica no Festival de Cannes. Ainda serão exibidos os filmes: Harakiri (1962), de Kobayashi Masaki, que recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes; De Onde se Avistam as Chaminés (1953), de Heinosuke Gosho; O Mar Silencioso Daquele Verão (1991), Sonatina (1993) e Kids Return (1996), todos de Takeshi Kitano; Sumô, Suor e Peleja (1992), de Masayuki Suo; Cintilação (1992), de Matsuoka Joji; A Mudança (1993) e Ah, Primavera (1998), ambos de Shinji Somai; Escola Mal-Assombrada (1995), de Hirayama Hideyuki; e Taxi Kamikaze (1995), de Harada Masato.

Sessões às 16h e 19h, com entrada franca, no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias, Cidade Universitária, tel. 3091-3540). As inscrições para o seminário são gratuitas e podem ser feitas de 22 de abril a 2 de maio, das 14h às 18h, na Administração do Cinusp (favo 37). Informações pelo tel. 3091-3364.

 

 

 

 

Programação da semana*

Segunda-feira
16h – Pai e Filha, de Yasujiro Ozu
19h – Contos da Lua Vaga Depois da Chuva, de Kenji Mizoguchi

Terça-feira
16h – Contos da Lua Vaga Depois da Chuva
19h – Juventude sem Arrependimentos, de Akira Kurosawa

Quarta-feira
16h – Juventude sem Arrependimentos
19h – Pai e Filha

Quinta-feira
16h – Pai e Filha
19h – Contos da Lua Vaga Depois da Chuva

 

*Acompanhe semanalmente os títulos e horários na Agenda

 




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