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Em
nome do pai sobre uma família |
Era
uma vez o melhor lugar do mundo para se morar... O filme Casa de
Cachorro (27 min.), de Thiago Villas Boas, retrata os moradores
de uma favela na beira da Marginal, que trabalham construindo casas
de cachorro. É um documentário sobre aqueles que moram
debaixo do viaduto da Ceagesp. Um lugar insalubre, sujo, uma grande
favela, mas que para seus moradores é o melhor lugar do mundo
porque ali eles encontram trabalho. Um ponto de vista contraditório,
mas no caso deles, a maioria nordestinos que vieram para São
Paulo em busca de dignidade, é o sonho realizado: trabalhar.
É um lugar auto-sustentável, eles possuem uma mini-marcenaria,
com serra e todo material necessário para a construção
das casas: pregos, lixa e até tinta. A madeira, eles compram
ali mesmo de caminhões que passam pela Marginal. É
também ali que funciona a “loja”. Vencedor do
Nascente em 2001, o filme é sobre o cotidiano desses moradores,
que falam sobre suas vidas e o que construíram debaixo da
ponte.
A
ficção Em Nome do Pai (18 min.), de Júlio Pessoa,
foi o vencedor do ano passado e traz no elenco Elias Andreatto,
Denise Weinberg (do Grupo Tapa) e Leonardo Midiori (o Rodrigo da
novela global “Mulheres Apaixonadas”). Conta a história
de uma família – pai, mãe, dois filhos e um
cachorro – de um subúrbio paulistano, e um perverso
desejo que muda a vida de todos. As filmagens foram realizadas em
quatro locações diferentes em várias regiões
de São Paulo e em estúdio. Mas não foi um trabalho
fácil. O diretor, que também assina o roteiro, é
meticuloso. Foram 18 tratamentos de roteiro, que duraram seis meses,
mais quatro meses para a pré-produção (locações,
patrocínios) e ainda foi realizada durante um mês a
decupagem com fotógrafo e sonoplasta para que as tomadas,
em sua maioria, fossem feitas de primeira, ou seja, em primeiro
plano. Para a finalização, mais um ano e meio. Mas
valeu a pena. O filme já ganhou diversos prêmios depois
do Nascente e já foi vendido para a França e Alemanha.
Outra
ficção, o curta 5 Minutos, que tem a duração
exata do título, traz um argumento inspirado no professor
Ludovico das histórias em quadrinhos do Walt Disney. No enredo,
a história principal é a de um ator que vai dar uma
saída de carro e fala para a mulher que estará de
volta em cinco minutos, mas demora o dia inteiro; na volta, “dá
os cinco minutos” na mulher, que o mata. “É uma
brincadeira”, diz o diretor Luiz Adriano Daminello, explicando
que o tempo é relativo já que pode durar o dia inteiro
ou apenas instantes. Há ainda um recorte de imagens, tendo
como influência Ilha das Flores, de Jorge Furtado. São
ilustrações da narrativa científica que trazem
curiosidades como, por exemplo, aonde chega a luz do Sol ou um avião
em cinco minutos. Tudo pesquisado em revistas e livros.
Outros
filmes da mostra – A seleção ainda inclui mais
sete filmes. Tom Zé ou quem irá colocar uma dinamite
na cabeça do século (48 min.), de Carla Gallo, é
um documentário sobre o cantor e compositor Tom Zé,
que busca mapear seu processo de criação. As pichações
em São Paulo são o tema de outro documentário,
A Letra e o Muro (2002, 35 min.), de Lucas Pitombo Fretin, que procura
desvendar o que normalmente é tido como mera sujeira e vandalismo,
mas que por trás esconde uma imensa rede de sociabilidade
entre jovens de periferias da cidade, como mostram os depoimentos
de pichadores. Um projeto de oito documentários, Outras Palavras
(1999, 30 min.), de Luiz Fernando Marques, lança um olhar
instigante sobre palavras pertencentes ao cotidiano, explorando
significados, desvendando signos, revelando impressões, ampliando
conceitos. Haiku (1991, 10 min.), de Renato Yutaka Yoshio Watanabe,
também é sobre linguagem, neste caso, que combine
tradicionais formas de expressão orientais com uma visão
do mundo atual.
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Moradores
debaixo de um viaduto em Casa de Cachorro |
Inspirado
em um poema de Pablo Neruda, Walking Around (1998, 5 min.), de Daniel
Uribe, traz um homem cansado, que caminha carregando uma mala pelas
ruas de uma turbulenta cidade. Uma adaptação do poema
do Nobel Octávio Paz, Blanco (1993, 15 min.), de Gustavo
Guimarães, foi transcrito para o português por Haroldo
de Campos, que converge do próprio título com duplo
sentido em espanhol: alvo (a ser atingido) e a cor branca (luz,
iluminação, silêncio). Há ainda a ficção
Necro Concreto #1 (1996, 4 min.), com direção e animação
de Carlos Eduardo Nogueira, sobre a relação entre
a sexy robô Foxy e um traficante de drogas, nascendo daí
uma divertida crítica à arte contemporânea.
Os
filmes estão divididos em dois programas, com sessões
de segunda a sexta, sempre às 16h, com entrada franca, no
Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias, Cidade
Universitária, tel. 3091-3540). Ainda continua em cartaz
a mostra "Seleção dos Festivais Europeus —
Filmes em Competição entre 1990 e 2001", que
vai trazer nesta semana, no horário das 19h, os filmes Bem-Vindos,
de Lukas Moodysson, e Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-Wai.
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