O
reaquecimento da economia brasileira, que segundo projeções
otimistas pode começar a se tornar realidade neste ano, será
bem-vindo também para as atividades da USP. Como os valores
destinados para a Universidade são determinados por alíquotas
fixas a partir dos recursos gerados pela arrecadação
do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços), quanto maior o movimento na economia, maiores
os repasses do governo estadual.
O orçamento
total previsto para 2004 na USP será de R$ 1,764 bilhão.
Desse total, a dotação de transferências do
Tesouro do Estado para uso geral da Universidade representa um aumendo
de 9,8% em relação a 2003. A grande novidade na proposta
orçamentária é a verba de R$ 54,2 milhões
para o programa de expansão do ensino superior público
do Estado – R$ 48,3 milhões se destinam à primeira
etapa das obras do novo campus da zona leste paulistana.
Cobertor
curto – A elaboração de um orçamento
que contemple todas as demandas de uma instituição
tão grande, complexa e multifacetada é igualmente
trabalhosa e recheada de aspectos que não podem ser esquecidos.
Eles englobam desde a construção de novos prédios
e manutenção dos já existentes até a
aquisição de materiais que vão de sofisticados
equipamentos de laboratório e informática aos itens
de limpeza e higiene. O presidente da Comissão de Orçamento
e Patrimônio (COP) da USP – formada por seis membros
docentes e um representante discente –, professor Joaquim
José de Camargo Engler, lembra que vale também para
a Universidade a velha máxima do “cobertor curto”.
O exemplo é a folha de pagamento, que deve ser 18,3% maior
neste ano em relação a 2003. “Um item que cresce
nessa proporção acaba retirando recursos de outras
esferas”, comenta.
Para
dar conta da complexidade do trabalho, o orçamento começou
a ser elaborado já em abril, quando cada unidade foi solicitada
a enviar análises, críticas e sugestões às
diretrizes orçamentárias. A discussão e votação
de uma proposta preliminar ocorreram no início de setembro,
e até o final daquele mês foram recebidas novas observações.
A apresentação da proposta ao Conselho Universitário
se deu no início de novembro. No dia 16 de dezembro, o relatório,
que segue as diretrizes orçamentárias para o Estado
de São Paulo, foi aprovado no Conselho. Ao longo do ano,
esses números podem ser alterados. Em 2003, por exemplo,
o orçamento inicial era de R$ 1,472 bilhão, mas o
efetivamente executado chegou a R$ 1,509 bilhão.
Do
total de R$ 1,764 bilhão do orçamento geral, R$ 1,575
bilhão são de transferências do Tesouro Estadual
para uso geral da USP, incluindo a parcela de R$ 49,9 milhões
da chamada Lei Kandir – repasse da União referente
à compensação ao Estado pela desoneração
do ICMS das exportações e investimentos. Os outros
itens são os seguintes: R$ 40,6 milhões destinados
ao pagamento de precatórios; R$ 54,2 milhões para
o programa de expansão; e R$ 564 mil de transferência
de recursos vinculados federais para ensino de graduação.
Outros R$ 92,9 milhões serão oriundos de recursos
próprios, gerados, entre outros, por heranças vacantes,
doações, prestação de serviços
ao SUS ou taxas cobradas pelas unidades – ingressos no Museu
Paulista, por exemplo. Esses valores são administrados autonomamente
por cada unidade.
Pessoal
– Da dotação orçamentária geral
estimada para 2004, as despesas com folha de pagamento vão
corresponder a 87,6% (64% com os ativos e 23,6% com aposentados).
Considerada apenas a rubrica “Pessoal” – que chega
a R$ 1,415 bilhão –, 73% se destinam à remuneração
dos ativos e 27% aos aposentados. O professor Engler acredita que
não haverá alterações substanciais nesses
números, mesmo com novos pedidos de aposentadoria eventualmente
motivados pela reforma da Previdência. “O que tinha
que acontecer já aconteceu”, diz. Entretanto, não
foi mantido o percentual dos últimos anos, com a proporção
de 85% para folha de pagamento e 15% para outras despesas de custeio.
“Estamos iniciando 2004 com a diretriz de que o crescimento
da economia produza um eventual acréscimo de receita para
o Estado e recomponha os percentuais tradicionais”, espera
Engler.
A rubrica
“Outros Custeios e Investimentos” soma quase R$ 201
milhões, ou 12,4% das transferências do Tesouro Estadual.
Esse é o total dividido entre as unidades para a sua manutenção.
O relatório aprovado pelo Conselho Universitário explica
que as atuais restrições orçamentárias
obrigam a que os valores alocados permaneçam os mesmos de
2003, com algumas exceções. Em relação
ao espaço físico, por exemplo, não será
iniciada nenhuma obra nova, a não ser aquelas da USP Leste,
que têm dotação própria. Será
dada continuidade aos projetos e obras já em andamento, como
o USP Legal – para a eliminação de barreiras
arquitetônicas a pessoas portadoras de deficiência –,
além de reformas e manutenção.
Em
2004, a USP oferecerá 216 vagas a mais, 135 delas em novos
cursos e habilitações. Passarão a funcionar
os cursos de Engenharia de Alimentos (na Faculdade de Zootecnia
e Engenharia de Alimentos, em Pirassununga), Bacharelado em Matemática
Aplicada a Negócios (na Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Ribeirão Preto) e Licenciatura em Geociências
e Educação Ambiental (no Instituto de Geociências,
em São Paulo). As prefeituras dos campi devem receber recursos
da Reserva para Novos Cursos de Graduação e Ampliação
de Vagas, que visa a atender às necessidades decorrentes
desse crescimento. Aliás, a quantidade de vagas e cursos
na USP vem aumentando continuamente desde 1989, quando foi implantada
a autonomia universitária. Basta lembrar que naquele ano
eram 129 os cursos na Universidade e, em 2005, com o início
das atividades na USP Leste, serão 206. É um aumento
de praticamente 60% – mais um número a refletir uma
atuação e uma presença cada vez maiores no
cenário da educação no Brasil.
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Engler:
orçamento começou
a ser discutido em abril |
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