PROCURAR POR
 NESTA EDIÇÃO
  
 

Utilizando imagens, mostraremos um pouco do que aprendemos sobre a estrutura, a aparência e as características da vida dessa que começou com uma pequena igreja, transformou-se depois em vila, cidade, metrópole e é hoje centro de um dos maiores sistemas metropolitanos do mundo. Trata-se da cidade de São Paulo, que no dia 25 de janeiro completará 450 anos. O trecho acima foi escrito pelo arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP Nestor Goulart Reis, que lançará, no dia 25, o livro São Paulo: vila, cidade e metrópole, sobre os mais de quatro séculos da capital paulista. Financiada pelo Banco de Boston e apoiada pela Prefeitura de São Paulo, a obra será o “brilho oficial para os visitantes da cidade”, nas palavras do professor.

O livro se divide em grandes períodos vividos pela cidade de São Paulo. O primeiro capítulo é dedicado ao surgimento da vila de São Paulo, a partir da construção, encabeçada pelo padre Manuel da Nóbrega, em 1553, de uma pequena igreja de palha e de uma escola para meninos nas proximidades de uma aldeia de indígenas. O segundo capítulo fala do crescimento da vila até se elevar ao grau de cidade, em 1711. No terceiro, fechando o período colonial, vê-se a evolução de São Paulo até 1822, quando da Independência do País. Até aqui, o autor se utiliza de plantas e desenhos, muitas vezes produzidos por estrangeiros.

Foto aérea do rio Tietê, em 1940, com a Ponte Grande, onde hoje fica a Ponte das Bandeiras, e o curso natural do rio, que depois seria desviado

No quarto capítulo já entram as fotos, a partir de 1862, como forma de documentação e comprovação da evolução histórica da cidade. Esse capítulo fala sobre as influências européias até a Proclamação da República, em 1889. O quinto capítulo mostra o surgimento e a derrocada da produção do café. O sexto capítulo expõe como São Paulo se tornou uma metrópole industrial até 1960 e o sétimo capítulo fala dos últimos 40 anos da capital paulista. Em anexo, o livro traz ainda a análise técnica de 37 plantas para pesquisadores interessados.

Coleção de imagens – Produzir uma obra que conta os 450 anos de São Paulo não foi tarefa fácil. Durante mais de dez anos, Goulart Reis e uma numerosa equipe buscaram, em arquivos nacionais e estrangeiros, plantas, esboços, desenhos e fotos antigas da cidade. A essa extensa coleção de imagens o professor reuniu informações obtidas nos seus mais de 40 anos de estudos sobre a história do urbanismo, incluindo dados como datas de inaugurações de logradouros, desapropriações de terrenos e a construção de túneis e pontes. Muitas das imagens só podem ser reconhecidas graças ao cruzamento de informações. “Consigo saber a data de uma foto do Vale do Anhangabaú pelo tamanho das árvores”, comenta. Um trabalho árduo e sofisticado, que revela desde a evolução da arquitetura na cidade até o modo de vida da população.

Ponte sobre o rio Anhangabaú, destruída duas vezes por forte correnteza e reconstruída, em imagem de 1817

Em 1954, por ocasião do seu quarto centenário, São Paulo organizou uma coleção de plantas da cidade. Nessa coleção, porém, não havia nenhum material datado de antes do século 19. Já na pesquisa feita para São Paulo: vila, cidade e metrópole, a equipe de Goulart Reis encontrou 12 desenhos do período colonial, alguns inéditos. “Com eles, podemos ter noção de como São Paulo era desde sua fundação. Em 1954 achamos que isso seria impossível”, afirma o arquiteto. Como a maior parte dos desenhos não é datada e nem ao menos assinada, ela precisa ser interpretada. Uma das imagens, certamente de entre 1608 e 1616, mostra as igrejas que formavam a vila. Outra oferece uma visão da vila a partir de onde é hoje a ladeira General Carneiro. A pintura mostra São Paulo com uma igreja e poucas construções, toda cercada por muros – e assim foi até 1592.

Estudando as imagens, Goulart Reis detectou o último vestígio, íntegro, do urbanismo dos tempos da fundação de São Paulo. Ele é o beco do colégio, que hoje fica no início da rua Roberto Simonsen, ao lado da casa que pertenceu, muito depois, à Marquesa de Santos. Esse pequeno beco ligava o Pátio do Colégio ao Rio Tamanduateí, onde se buscava boa parte da água utilizada na vila. “Esse rio, que passava onde hoje está a rua 25 de Março, teve seu o canal afastado para o centro da Várzea do Carmo no século 19.”

Vila de São Paulo, vista da ladeira General Carneiro, 1592

Datado de 1817, um desenho mostra uma ponte sobre o rio Anhangabaú, com muitos bancos em suas laterais, para que a população pudesse descansar sobre ela. Construída em 1788, essa ponte tem uma história peculiar. Em 1806, foi destruída por uma tromba d’água. Dois anos depois, foi reconstruída. Em 1850, outra vez foi levada pela força das águas e, logo depois, refeita. Hoje já não se vê o rio porque foi canalizado sob o vale do Anhangabaú, este último alvo de projeto paisagístico em 1911 e intensivamente retratado por fotógrafos nos séculos 19 e 20. Publicada em 1881 por Jules Martin, uma planta mostra como era a São Paulo e seus subúrbios no final do século 19. A cidade era praticamente o centro atual. Seus limites eram o cemitério da Consolação, o Bom Retiro, a Mooca, a Luz e o bairro do Bexiga.

O Clube Paulistano – São Paulo: vila, cidade e metrópole ensina também que o primeiro campo de futebol da cidade foi construído pelo Clube Atlético Paulistano, que ficava na região da rua da Consolação. Uma foto de 1904 mostra suas pequenas arquibancadas e os trajes antigos dos jogadores. Uma curiosidade do livro são as fotografias aéreas do final da década de 20 até a década de 50, que revelam os bairros da cidade. Um exemplo é a imagem, feita em 1940, da várzea do rio Tietê, na altura do Anhembi atual. Onde hoje fica a Ponte das Bandeiras estava a Ponte Grande, feita de ferro, a primeira a cruzar para a outra margem do rio, que naquela época era pouco habitada. Através da foto, é possível conhecer a curva natural que o rio fazia, formando uma ilha, área agora ocupada pelo Terminal Rodoviário do Tietê.

Para contar o modo de vida dos paulistanos, Goulart Reis publica no livro muitos anúncios das épocas retratadas. Um deles, do começo do século 18, oferecia os chuveiros Miguel Coiro & Irmãos, que em nada lembram os aparelhos utilizados hoje nos banheiros modernos. “Eles bombeavam água nas chácaras para os chuveiros funcionarem”, conta o arquiteto. Já no começo do 20, os anúncios e as ainda incipientes vitrines denunciavam as influências européias no consumo brasileiro.

Anúncio de chuveiro do século 18

São Paulo: vila, cidade e metrópole será publicado também em inglês e terá tiragem inicial de 3 mil exemplares. Parte da edição será distribuída pela Prefeitura na festa de aniversário de São Paulo, em 25 de janeiro, para os representantes de mais de 400 cidades do mundo convidados para o evento. Outra parte da tiragem será distribuída pelo Banco de Boston.

Goulart Reis pretende ainda fazer uma exposição, ao longo do ano, com as fotos do livro e com maquetes que reproduzem as várias etapas do processo urbanístico da capital paulista. Para que a mostra seja realizada, o arquiteto está buscando recursos. Há ainda um projeto de uma edição comercial do livro, a fim de que a população possa ter acesso a esse verdadeiro patrimônio cultural em forma de imagens.

Leia mais sobre os 450 anos de São Paulo na página 10 desta edição.

 

Primeiro campo de futebol, construído pelo Clube Atlético Paulistana, na região da Consolação, em foto de 1904

 

 

A Paulicéia em debate

Em uma parceria inédita do Canal Universitário de São Paulo (CNU) com a TV Globo, acontece no dia 22 de janeiro, no Anfiteatro Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária, o quinto debate do ciclo “São Paulo 450: A Paulicéia em Debate”, com o tema Educação.

Com produção da TV USP, do CNU, TV Globo e apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) e Centro de Computação Eletrônica (CCE), o debate será transmitido ao vivo pelo Canal Universitário, das 20h às 22h e também pela Internet. Com mediação dos jornalistas Marcello Rollemberg e Sonia Bridi, os debatedores serão Sonia Penin (pró-reitora de Graduação da USP), Nélio Bizzo (vice-diretor da Faculdade de Educação da USP), Mario Sergio Cortella (PUC-SP) e Roberto Romano (Unicamp), que tratarão de temas relativos à história da educação em São Paulo, ensino fundamental e médio, ensino profissionalizante e universitário e tecnologia.

Desde setembro do ano passado, o Canal Universitário e as nove TVs que o integram estão realizando, com o Programa Globo e Universidade e a Central Globo de Comunicação (TV Globo São Paulo), este ciclo relativo aos 450 anos de São Paulo. Já aconteceram debates sobre História da Cidade (PUC), Economia (Uniban), Etnias e Culturas (Unicsul) e Saúde (Unifesp). Depois do debate na USP, ainda serão realizados outros programas, sobre Arquitetura (Mackenzie), Segurança (Unip), Cultura (São Judas) e Meio Ambiente (Unisa).

Além do público presente ao debate no Camargo Guarnieri, que poderá participar formulando perguntas aos convidados, os telespectadores também poderão enviar questões, por e-mail e telefone. A TV USP já está recebendo perguntas prévias ao debate pelo e-mail tvusp@edu.usp.br e, na próxima semana, divulgará em seu site os telefones, número de fax e novo endereço de e-mail para o envio de questões, inclusive ao vivo, durante o debate. Podem participar professores, alunos e demais interessados no tema, além da comunidade em geral. Mais informações nos sites www.usp.br/tv ou www.cnu.org.br.

Planta de São Paulo em 1881: a cidade era praticamente o centro atual

 

 




ir para o topo da página


O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[EXPEDIENTE] [EMAIL]