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Eles são tão animados quanto os calouros. Querem aprender, conhecer coisas diferentes, fazer novos amigos. Quem são eles? Os participantes do projeto Universidade Aberta à Terceira Idade, que já existe há 11 anos, sob a coordenação da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, e que tem como objetivo integrar o idoso à comunidade acadêmica e conscientizá-lo da importância de seu papel na sociedade. “O avanço da idade acarreta perdas, mas o idoso tem um bem precioso, que é sua memória, sua história, seu saber. Isso ninguém tira dele”, afirma a professora Ecléa Bosi, coordenadora acadêmica do projeto. “Queremos trazer essas pessoas cada vez mais para nossas salas de aula. Todos os professores dizem que o nível da classe sobe muito com a presença dos alunos da terceira idade.” É por isso que, mais uma vez, a USP abre suas portas para esse público tão especial e realiza, entre os dias 26 de fevereiro e 5 de março (enquanto houver vaga), as inscrições para as disciplinas regulares do projeto.

Para participar, o interessado deve ter mais de 60 anos. A inscrição é feita diretamente na unidade que oferece a disciplina desejada. Vale a pena destacar que algumas unidades têm datas diferenciadas, por isso é importante consultar o catálogo de disciplinas regulares e atividades complementares que está sendo distribuído pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária. Aprovado pelo Conselho de Cultura e Extensão Universitária, o programa ainda tem mais algumas regras: os alunos vinculados ao projeto têm direito a atestado de participação, emitido pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, e disciplinas muito específicas podem requerer exame prévio do currículo e entrevista com o professor responsável. A maioria das disciplinas oferecidas, no entanto, não tem pré-requisito.

Sonhos realizados – Regina Célia Weigert Rocha está feliz por completar 60 anos. Finalmente ela pode se inscrever como aluna regular da Universidade Aberta à Terceira Idade. E já decidiu tudo o que quer fazer: “Preciso de um dia de 48 horas”, brinca. “Já montei uma agenda para ter certeza de que os horários não vão coincidir. Mesmo assim vou ter que deixar algumas coisas para fazer no semestre que vem.” Tanta animação não é de agora: desde 1998 ela participa de atividades do programa, como ouvinte. “Eu vim para a USP realizar um sonho de toda a vida: ser jornalista.”

Regina conta que o desejo de escrever foi interrompido aos 19 anos. “Meus pais não queriam, depois casei, vieram os filhos”, lembra. “Agora os filhos cresceram, os netos também estão grandes, posso fazer o que sempre quis.” Quando soube do projeto Universidade Aberta, foi até a Escola de Comunicações e Artes (ECA) conversar com o professor Manuel Chaparro, responsável pelo curso A Aventura de Fazer um Jornal. Começou a participar da equipe do projeto Jornal Reproposta, formada apenas por alunos da terceira idade. “Disse para o professor que não sabia usar máquina de escrever”, rememora, sorrindo. “Ele riu e me disse que eu precisava era aprender a usar computador.”

Regina Célia (ao lado) e alunos do projeto Universidade Aberta
à Terceira Idade durante aula no Museu de Arte Contemporânea (acima): novos horizontes

Regina não perdeu tempo e foi fazer um curso de computação no Instituto de Matemática e Estatística (IME). Logo depois tornou-se aluna da disciplina Narrativas da Contemporaneidade, do Fórum Permanente Interdisciplinar da ECA. “Aí outro sonho se realizou: tornei-me escritora.” Uma das propostas da disciplina é a criação coletiva de um livro sobre algum tema relacionado à cidade de São Paulo. “E descobri que não é só sentar e escrever: é preciso muita pesquisa, muita entrevista, muito trabalho.”

Durante as pesquisas para um dos livros – Sagas do Espigão, 90 anos de Medicina e Vida, 24º volume da coleção São Paulo de Perfil –, Regina entrevistou alguns médicos da Faculdade de Medicina e descobriu outras atividades que a interessavam. “Comecei a participar dos ciclos de palestras que eles oferecem.”

Mais do que realizar sonhos, Regina fez amigos. “Abri meus horizontes”, ela diz. “Quem entra não quer sair mais. Então formamos uma turma de amigos que hoje vai além da Universidade.” Eles se encontram fora do período de aulas, organizam caronas coletivas, fazem trabalhos a quatro mãos. “No final do ano, o pessoal da Medicina organizou uma festa de confraternização. Teve café da manhã, apresentação de coral, um encontro delicioso.” E a relação com os colegas mais jovens? “É ótima. No início tive um pouco de receio. Mas acaba existindo uma troca. Eles nos ajudam, e também nos perguntam coisas.”

Para todos os gostos – Neste primeiro semestre, opções não faltam para os interessados em se inscrever no projeto Universidade Aberta à Terceira Idade, tanto na capital como nos campi do interior. Em São Paulo, a ECA – com inscrições entre os dias 1º e 5 de março – oferece vagas nos cursos de História do Teatro, Prática de Gravura, História e Estética da Fotografia e Cultura Brasileira, entre outros. Na Escola de Educação Física e Esporte, há vagas em cursos como Educação Física na Terceira Idade, Pedagogia do Esporte e Socorros de Urgência.

Algumas disciplinas, por serem muito específicas, exigem pré-requisitos. As três vagas disponíveis em Tratamento e Uso de Esgotos, oferecida pelo Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica, por exemplo, estão disponíveis apenas para engenheiros. Já na Faculdade de Ciências Farmacêuticas, o curso de Microbiologia Clínica pode ser freqüentado por farmacêuticos e por médicos.

Aqueles que gostam de assuntos variados vão fazer a festa com as disciplinas dos vários departamentos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH): Dimensões Evolutivas do Comportamento Cultural, Literatura Infantil e Juvenil: Linguagens do Imaginário, Cultura Árabe, Cultura Armênia, Cultura Judaica, Política Comparada e Introdução à Sociologia da Religião, só para citar algumas. Já para aqueles mais ligados às coisas do céu e da Terra, o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) oferece vagas nos cursos de Introdução à Astronomia e Introdução às Ciências Atmosféricas. E no Instituto de Geociências é possível se inscrever nas disciplinas de Geologia Geral, Geoquímica e Paleontologia Geral, entre outras.

Quem não quer um curso semestral também tem a opção de se inscrever nas várias atividades complementares didático-culturais. Estão previstas para este semestre visitas monitoradas ao Centro de Biologia Marinha (Cebimar), em São Sebastião (SP), oficina de canto coral, visitas à Estação Ciência, curso de difusão sobre o Estatuto do Idoso e meditação dirigida, entre outras atividades. Outros cursos de curta duração programados são: A Arte Brasileira pelo Olhar de Mário de Andrade, Apresentação do Cinema Italiano: 1945-2000 e Computação Instrumental para a Terceira Idade – Word Básico. Já as atividades complementares físico-esportivas oferecem, neste primeiro semestre, cursos de Bioenergia e Autocura, Dança Espontânea e Danças Circulares Curativas.

 

O catálogo da Universidade Aberta à Terceira Idade pode ser encontrado no Centro de Visitantes da USP (praça Reynaldo Porchat, 110, portão principal da Cidade Universitária) ou no Centro Universitário Maria Antonia (rua Maria Antonia, 294). Mais informações pelo telefone 3091-3348, das 9h às 12h e das 14h às 17h30, e na página eletrônica www.usp.br/prc/3idade.

 

 

 

Sabedoria e história

Não são apenas os alunos do projeto Universidade Aberta à Terceira Idade que têm histórias para contar. O catálogo de disciplinas e atividades deste semestre também merece uma menção à parte: especialmente a foto da capa. “Ela foi escolhida por representar toda a sabedoria que uma pessoa acumula ao longo dos anos”, conta a professora Ecléa Bosi. “É a foto de um velho sábio, que sofreu muito, perdeu todos os bens materiais, a família, os amigos, mas não perdeu a sabedoria e a vontade de aprender.”

Quando estava na França no ano passado, a professora Ecléa se surpreendeu com a beleza pungente da fotografia do iraniano Reza, exposta em uma grade de um jardim público de Paris. Foi conversar com o fotógrafo-poeta, que lhe contou a história por trás da imagem. “Quando todas as famílias de uma aldeia no Afeganistão resolveram fugir da guerra, o velho sábio se recusou a deixar sua terra. Instalou-se num estrado, com o Alcorão e um livro de poesia”, lembra Ecléa. “E ali ficou, na fronteira com o Paquistão, aconselhando os que o procuravam. Na fronteira entre o exílio e a guerra.”

A beleza pungente da fotografia que ilustra a capa do catálogo do projeto: entre o exílio e a guerra

 

 




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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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