O volume de papel, papelão, jornais e revistas
descartados na Cidade Universitária, em São Paulo,
compõe 70% de todo o lixo produzido no campus. A cada mês,
em média 15 mil toneladas desses materiais são recolhidas
e vendidas por R$ 2.400,00, suficientes para pagar dois dos três
funcionários que separam esses resíduos. Essas são
algumas das conquistas do USP Recicla, que neste ano celebra dez
anos de existência. O calendário comemorativo vai além
de palestras e workshops e deverá incluir a própria
expansão do programa, a partir de junho.
Nossa meta, até o início do próximo semestre,
é estender o trabalho para outros materiais recicláveis,
além do papel. Até agora só existem iniciativas
isoladas em algumas unidades, mas não propriamente uma coleta
seletiva esquematizada no campus, afirma Elisabete Teixeira
Lima, educadora do programa, que é ligado à Coordenadoria
Executiva de Cooperação Universitária e de
Atividades Especiais (Cecae) da USP.
A abertura das comemorações dos dez anos de implantação
do projeto acontece nesta terça-feira, 30 de março,
a partir das 16h30, no auditório Professor Paulo Ribeiro
de Arruda, no prédio da Engenharia Elétrica da Escola
Politécnica da USP. O evento é aberto a todos os interessados
e deverá mostrar um panorama sobre as conquistas e dificuldades
do programa, bem como as ações comemorativas que deverão
se estender por todo o semestre. Na ocasião acontecerá
ainda a formatura de 44 funcionários do segundo Curso de
Especialização de Agentes Locais de Sustentabilidade
Socioambiental promovido pela Cecae e pela Faculdade de Saúde
Pública da USP , além do lançamento da
segunda edição do catálogo Tudo sobre o lixo.
Na Semana do Meio Ambiente, de 1o a 6 de junho, a Cecae promoverá
as Feiras da Sucata e da Barganha, nos campi do interior, e conferências
temáticas no campus da capital. Também neste dia 30,
a partir das 14 horas, no Centro de Práticas Esportivas da
USP (Cepeusp), a Cecae fará uma campanha em favor da substituição
do copo descartável pelo durável.
O diálogo com os diversos setores da comunidade uspiana tem
sido uma busca constante dos responsáveis pelo programa,
desde o seu início. Vamos aos poucos quebrando barreiras
e conquistando espaços em comissões e unidades que
ainda não estavam integradas. Mudar hábitos é
nosso maior desafio, diz a coordenadora-executiva do USP Recicla,
Regina Carvalho, festejando a recente adesão da Escola de
Comunicações e Artes (ECA).
Certamente estamos atingindo um dos principais objetivos,
que é educar os uspianos para criar a consciência sobre
a redução do uso dos materiais e a importância
da reciclagem, embora o programa ainda não tenha sido efetivamente
implementado em algumas unidades, acrescenta o professor Ruy
Laurenti, da Faculdade de Saúde Pública, coordenador-acadêmico
do USP Recicla.
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Regina:
desafio é mudar hábitos |
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Laurenti:
educar os uspianos |
Os
três erres
Constituir
valores e contribuir para a revisão de hábitos, apoiando-se
no princípio dos três erres (redução,
reutilização e reciclagem) para um ambiente sustentável,
tem sido uma das missões mais bem-sucedidas do programa.
Muitos representantes de comissões do USP Recicla destacam
não só a redução do volume de papel
descartado, mas também a utilização da frente
e do verso da folha para impressão.
Notamos que aumentou muito o volume de papel reutilizado dos
dois lados. Promovemos oficinas para disseminar a cultura dos três
erres e o significado de minimizar resíduos. Ensinamos em
workshops a confecção de uma série de objetos
com papel e papelão reciclados e muita gente aprendeu a fazer
porta-recados, porta-trecos, prendedor de papel e outros. As pessoas
demonstram muito interesse pelo tema, diz Maria Helena Pereira,
coordenadora da comissão interna do USP Recicla da Escola
de Enfermagem. O material que iria para lixões está
sendo reaproveitado, o que é bom para a natureza, diz
José Lindelson de Souza Nascimento, o Maguila,
funcionário responsável pela separação
dos papéis no galpão do USP Recicla e agente do programa
desde o seu início, em 1994.
A coleta seletiva de materiais, com as prefeituras municipais trabalhando
em sintonia com as prefeituras universitárias, por enquanto
só funciona nos campi de Bauru, Pirassununga e Ribeirão
Preto. Ficamos todo o ano passado negociando com a Prefeitura
de São Paulo, mas não obtivemos sucesso. Fato é
que essa etapa está prevista para ser implantada a partir
de junho, especialmente nos campi de São Paulo, Piracicaba
e São Carlos. Isso deverá acontecer mesmo que tivermos
que trabalhar em parceria com alguma cooperativa ou empresa coletora,
afirma Elisabete.
Agentes
ambientais
Os dez anos do USP Recicla são data apropriada para festejar
a diminuição média de 50% no peso do lixo da
Universidade, assim como a criação de 14 composteiras
nos seis campi, que transformam restos de comida e serragens em
adubo para plantas. Mas é através dos programas educativos
para a comunidade que o USP Recicla busca atingir seu maior intento:
estimular novas atitudes por meio da disseminação
de práticas que contribuam para a sustentabilidade ambiental.
Com uma verba própria de R$ 118 mil por ano, alocada pela
Comissão de Orçamento e Patrimônio (COP), o
programa conseguiu, só no ano passado, levar sua mensagem
a 12.435 pessoas através de 132 eventos, entre cursos, palestras
e oficinas.
Realizado desde o ano passado, o curso de especialização
Formação de Agentes Locais de Sustentabilidade Socioambiental
é outra bem-sucedida atividade da Cecae. O curso visa a capacitar
pessoas para identificar problemas ambientais e propor soluções.
Está dividido em quatro módulos e tem aulas ministradas
na Faculdade de Educação.
Poucos são os que reclamam. As pessoas estão
mais abertas a mudanças, diz Silvio Siqueira Ferreira,
bolsista do USP Recicla em São Carlos, que encabeçou
a campanha para adoção de canecas permanentes no restaurante
daquele campus. Responsável pelo projeto de Minimização
de Resíduos, Silvio é um dos cinco bolsistas que ganham
um salário mínimo para colaborar no USP Recicla.
Entre outras mudanças de hábitos detectadas pelos
agentes, destacam-se a diminuição no tamanho de papéis
para recados, a suspensão de compra de blocos para rascunho,
a adoção de envelopes contínuos (vai-e-vem)
que podem ser reutilizados cerca de 40 vezes e a substituição
de copos plásticos descartáveis por copos e xícaras
duráveis (o consumo médio era de dez unidades por
funcionário ao dia, segundo dados da Cecae), além
da adoção de outros utensílios duráveis,
como guardanapos e coadores de pano, talheres de metal, pratos de
louça, toalhas de pano individuais em substituição
às de papel e aquisição de secadores de ar
quente, entre outras.
Materiais
perigosos
O chamado lixo branco, ou perigoso, ainda provoca
polêmicas na Universidade. Grande parte dos laboratórios
ligados às áreas fármaco-bioquímicas
disponibiliza contêineres especialmente para o descarte de
material perigoso, que, posteriormente, é coletado por empresas
contratadas. Mas ainda há casos de hábitos inadequados.
Para a bióloga Luci Deise Navarro, funcionária do
Instituto de Química e responsável pela comissão
interna do USP Recicla naquela unidade, a comunidade tem demonstrado
maior interesse nos temas ligados ao ambiente. O diálogo
entre diferentes setores e níveis hierárquicos está
apenas começando. Não se consegue mudar atitudes de
um dia para outro, mas vamos conseguir, diz. Luci foi uma
das agentes que fez o curso de especialização oferecido
pela Cecae e pela Faculdade de Saúde Pública. Meu
trabalho de conclusão está justamente voltado a práticas
educativas dentro da minha unidade, afirma.
O Instituto de Química possui a Central de Tratamento de
Resíduos Químicos e Solventes, que recicla produtos
como etanol, metanol, acetona, hexano e éter etílico,
além de mercúrio metálico. Damos suporte
informal para outras unidades sobre os procedimentos em relação
a certas substâncias. Em alguns casos também oferecemos
tratamento desses materiais, diz a responsável pela
central, Patrícia Busko Di Vitta. São conquistas que
só se tornaram realidade graças ao contínuo
e persistente trabalho de dez anos do USP Recicla em favor de um
ambiente melhor.
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