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Grevistas
em frente à Reitoria da USP |
reunião
do Cruesp com o Fórum das Seis |
Num
debate realizado em junho na Assembléia Legislativa, o professor
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH)
da USP Oswaldo Coggiola lembrou que metade de toda a pesquisa nacional
está vinculada às universidades estaduais paulistas
(USP, Unesp e Unicamp). Discutir, portanto, o destino destas
três universidades é discutir o destino da pesquisa
no Brasil; o destino de entidades que são referência
não apenas aqui, mas em toda a América Latina,
afirmou Coggiola, que é vice-presidente da Associação
Nacional dos Docentes das Entidades de Ensino Superior (Andes-Sindicato).
Das três instituições, a USP é a maior
e, talvez exatamente por isso, a que se vê mais contingenciada
pelas pressões oriundas das enormes desigualdades sociais
do Brasil. De acordo com dados de 2002, a USP possui cerca de 42
mil alunos na graduação e 24 mil na pós-graduação
(na qual responde pela formação de 14,4% dos mestres
e 30,2% dos doutores do País). Entretanto, mesmo esses números
expressivos da maior universidade brasileira, somados aos da Unicamp
e da Unesp, não são suficientes para atender mais
do que 1,8% da população paulista entre 18 e 24 anos
de idade, segundo informações da Seade (Fundação
Sistema Estadual de Análise de Dados, ligada à Secretaria
de Economia e Planejamento de São Paulo). Incluídas
as instituições privadas, freqüentam o ensino
superior no Estado 17,9% dos jovens nessa faixa etária.
Porcentual
mantido
Encontrar
soluções para esses problemas é uma busca tão
antiga quanto o debate sobre o financiamento do ensino público.
No caso paulista, a Constituição Estadual de 1989
estipulou em 30% a parcela de recursos do Tesouro destinada à
educação, em todos os níveis. A implantação
do atual modelo de autonomia universitária, também
de 89, destinou o equivalente a 9,57% da arrecadação
do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) para o financiamento das três universidades estaduais.
Desse total, 5,2% ficam com a USP; 2,3% com a Unesp e 2,1% com a
Unicamp. Neste ano, o valor deve ultrapassar os R$ 3 bilhões.
De janeiro a julho, segundo dados divulgados pelo Conselho de Reitores
das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), o total repassado
já era de R$ 1, 838 bilhão.
Uma perspectiva de aumento nas verbas destinadas ao financiamento
do ensino superior público foi derrubada na terça-feira
13, com a aprovação do relatório da Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) encaminhado pela Comissão
de Finanças e Orçamento da Assembléia Legislativa.
O Fórum das Seis, que integra os sindicatos de professores
e funcionários das três universidades, e entidades
representativas dos estudantes pressionaram os deputados pela inclusão
no texto de uma emenda que aumentasse o porcentual para 11,6%, destinando
também 2,1% para o Centro Paula Souza, responsável
pelas Faculdades de Tecnologia do Estado (Fatecs).
A bancada de oposição na Assembléia não
conseguiu as assinaturas necessárias para a apresentação
da emenda, e por isso a reivindicação não foi
contemplada. Durante a sessão, espectadores que acompanhavam
os trabalhos nas galerias na maioria estudantes das universidades
estaduais e das Fatecs invadiram o plenário, causando
tumulto e inclusive agredindo alguns deputados. A deputada Célia
Leão (PSDB) quase foi derrubada de sua cadeira de rodas.
Foi necessária a ação da Polícia Militar
para retirar os manifestantes do plenário. Retomada a votação,
a LDO foi aprovada por 49 votos a favor e 34 contrários.
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confusão
na Assembléia durante votação da LDO |
encontro
do reitor com diretores de unidade |
Arrecadação
Desde o início das negociações sobre o reajuste
salarial na data-base dos servidores, no começo de maio,
o Cruesp tem reafirmado aos representantes do Fórum das Seis
que a queda na arrecadação do ICMS inviabiliza a concessão
de um aumento agora. A justificativa é de que o freio na
atividade econômica provocou também diminuição
na arrecadação do imposto, e por isso o comprometimento
orçamentário com a folha de pagamento ficaria acima
da capacidade das instituições. Um aumento na arrecadação
vem sendo verificado nos últimos meses, mas, segundo o presidente
do Cruesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, é preciso esperar
mais algum tempo para se ter certeza de que essa tendência
vai se consolidar.
De acordo com a última planilha divulgada pelo Cruesp, no
momento os salários consomem 91,53% do orçamento na
Unesp; 92,60% na Unicamp e 86,12% na USP (média de 88,93%).
Para Brito Cruz, que é também reitor da Unicamp, um
dos problemas na atual negociação salarial é
o fato de que, no ano passado, o reajuste na data-base foi de 14,45%,
concedido pelo pico da inflação e considerando uma
estimativa de arrecadação que posteriormente não
se confirmou situação cujos reflexos se fizeram
sentir no primeiro semestre de 2004. Nos últimos oito anos,
o comprometimento com a folha, na média das três universidades,
é de 87%.
A USP tem conseguido manter, nos últimos exercícios,
uma média de 85% para a folha de pagamento e 15% para custeio
e investimento. Num dos encontros realizados entre a Reitoria e
os diretores de unidades e institutos durante o período de
greve dos servidores iniciada na USP no dia 27 de maio ,
o reitor Adolpho José Melfi admitiu que, em função
desse quadro, a Universidade teria uma certa folga orçamentária
para conceder um reajuste salarial imediato aos seus cerca de 14.500
funcionários e 4.900 professores tomando por base, por exemplo,
a inflação medida pela Fipe, em torno de 4%. Na USP,
a situação das aposentadorias está estabilizada
e, considerando-se apenas a rubrica Pessoal, 73% das verbas se destinam
à remuneração dos ativos e 27% aos aposentados.
Entretanto, dada a isonomia entre as três instituições,
a Universidade não pode conceder reajuste isoladamente.
Fórmula O Cruesp e o Fórum das Seis concordam
que é injusto o desconto de 5% dos salários dos professores
e dos funcionários autárquicos que vem sendo revertido
para o Instituto de Aposentadorias e Pensões do Servidor
Público (Ipesp), implementado após a reforma da Previdência.
Os recursos vão para o Ipesp, porém são as
universidades que arcam com as aposentadorias. As duas representações
têm trabalhado para reverter essa situação.
De sua parte, como medida que pode tomar sem prejuízo da
isonomia, a USP já anunciou que implantará o auxílio-alimentação
de R$ 100,00 para todos os funcionários com jornada de 30
horas ou mais, extensivo aos professores em regime de dedicação
integral, além da criação de uma gratificação
para docentes coordenadores de cursos e da implantação
de um plano de carreira que elevará cerca de 3.700 funcionários
da faixa I para as faixas II e III. Todos esses processos serão
encaminhados após o final do movimento grevista.
Uma fórmula para reajuste em outubro, com possível
resíduo em janeiro de 2005, vem sendo discutida entre o Cruesp
e o Fórum das Seis, mas a não concessão de
um aumento agora constitui o centro de um impasse que tem levado
à radicalização do movimento grevista e à
postura do Cruesp de só voltar a negociar quando for liberado
o acesso a prédios interditados por piquetes, como o da Reitoria
da USP. Até o fechamento desta edição, não
havia rodada de negociações marcada entre o Cruesp
e o Fórum das Seis.
Maioria
estuda em cursos privados
Dados divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais (Inep), ligado ao Ministério
da Educação (MEC), mostram que apenas 7,3% dos
brasileiros acima dos 25 anos de idade têm curso superior.
A maioria dos que estudam nessa faixa etária ainda
está no ensino básico. Países como
a Argentina e o Chile têm de três a quatro vezes
mais jovens matriculados no ensino superior que o Brasil,
lamentou o presidente do Inep, Eliezer Pacheco, em entrevista
à Agência Brasil.
Atualmente, 80% das vagas no ensino superior do Brasil estão
em faculdades particulares. Nos cursos noturnos, das cerca
de 1,6 milhão de vagas, somente cerca de 300 mil estão
em instituições públicas de ensino. Em
São Paulo, segundo o Inep, 90% dos alunos estão
matriculados em cursos privados ou municipais, e apenas 10%
em instituições públicas estaduais ou
federais. Com esses índices tão baixos
de matrículas não se pode dizer que há
cursos superiores demais no Brasil. O que se tem é
curso público de menos. É isso que é
preciso mudar, diz Pacheco. O professor reconhece que
programas do MEC como o Universidade para Todos e o
projeto que prevê reserva de 50% das vagas para alunos
da rede pública nas universidades mantidas pelos governos
são medidas emergenciais.
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