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A riqueza da diversidade: o papel do ensino superior na promoção do desenvolvimento e do diálogo foi o tema da 12a Conferência Geral da Associação Internacional de Universidades (IAU, sigla em inglês). Representantes de cerca de 400 universidades de 90 países se reuniram entre os dias 25 e 29 de julho no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, para refletir e debater a posição da academia no mundo globalizado.

O resultado da programação, com workshops e seminários paralelos, deverá, em breve, ser reunido em uma publicação que ficará disponível para as universidades e demais interessados. Foi a primeira vez que o Brasil sediou o evento, organizado pela USP, em parceria com a Unesp, Unicamp e as Federais de São Paulo e de São Carlos. O programa foi aberto no dia 25 com uma cerimônia e coquetel no Memorial da América Latina e prosseguiu até o dia 29 no Centro de Convenções Rebouças. Satisfeito com a participação de universidades de todo o mundo, o reitor Adolpho José Melphi lembrou a trajetória da USP que, com os seus 70 anos, ainda é muito jovem diante das instituições de ensino da Europa e dos Estados Unidos.

“Dessa forma, sediar o maior e mais importante evento da IAU é, para nós, motivo de muito orgulho, pois representa o reconhecimento da comunidade universitária internacional pela posição que ocupamos na liderança acadêmica científica.” O presidente da IAU, Hans Van Ginkel, disse que a realização da Conferência Geral em São Paulo tem uma importância muito grande diante da situação que as universidades públicas estaduais estavam enfrentando naquele momento, com a paralisação dos estudantes, funcionários e professores.

“Com uma maior mistura de históricos sociais, étnicos e Emolo educacionais e um grupo de pessoas de idades diversas, hoje o corpo estudantil gera novas necessidades e expectativas”, observou. “O que é ensinado e como é ensinado, tudo isso está mudando e novos métodos de ensino estão surgindo para atender às múltiplas demandas que as instituições de ensino vêm enfrentando.” Segundo o presidente da IAU, a maioria das instituições de ensino superior e sistemas nacionais de ensino superior é obrigada a mostrar suas habilidades, preparo e eficiência, que vão ao encontro das expectativas da sociedade em nível local, nacional e internacional.

“Desenvolvimentos regionais, tais como o Processo de Bolonha, na Europa, enfatizam a transparência das qualificações e maior coerência nas estruturas para facilitar a mobilidade internacional. Assim como cresce o ensino transnacional, também são necessários sistemas que tenham credibilidade e garantia de qualidade.” O contexto geral das dimensões da diversidade foi abordado na primeira sessão plenária. Os reitores e pesquisadores examinaram o tema no mundo físico e natural em termos geográficos e no ensino superior. A diversidade, segundo análise dos integrantes da IAU, oferece à humanidade um riquíssimo potencial.

Entretanto, como a complexidade dos resultados relacionados às diferentes maneiras de fazer as coisas não é considerada em nome da eficiência, tal diversidade está sob ameaça. “Os palestrantes procuraram expor o caso da diversidade e mostrar as lições para o mundo do ensino superior, em que a variedade institucional, pedagógica e lingüística está ameaçada”, afirmou Ginkel. Para a IAU, as expectativas que o ensino superior enfrenta são variadas e crescentes.

Mas as universidades são a chave para a competitividade nacional e o seu papel é essencial para a emergenteemergente sociedade do conhecimento e para um desenvolvimento que pode direcionar a um mundo melhor, mais saudável e seguro para todos, especialmente para as futuras gerações. Nesse contexto, a USP, segundo destacou Melfi durante a abertura da conferência, cumpre a sua função, desenvolvendo atividades de ensino, pesquisa e extensão em todas as áreas do conhecimento.

O papel da universidade – Para o reitor da USP, a universidade é o campo onde todos essas possibilidades podem reunir-se e frutificar, gerando novos entendimentos sobre a vida, o mundo e os seres humanos. “Vale ressaltar, contudo, que a complexidade crescente da vida sobre o planeta tem trazido novos desafios. A pauperização de grandes contingentes populacionais indica a péssima qualidade de vida que o momento histórico presente oferece.”

Qual o papel da universidade na superação da miséria e na promoção do bem-estar para todos? Quais os novos instrumentos de caráter interdisciplinar de que dispõe a comunidade científica para lidar com as complexas interações entre aspectos econômicos, sociais, culturais, ambientais e de saúde, que geram problemas a afligir os seres humanos? Como oferecer contribuição que permita atingir tanto as questões locais como aquelas que afligem o planeta como um todo? Que interação pode haver entre movimentos sociais nacionais e internacionais de proteção ao meio ambiente e a universidade, por exemplo? Essas foram algumas das questões apresentadas à IAU pela USP.

“É importante também lembrar que, por muito tempo, o fato de a humanidade encontrarse espalhada pelo planeta significava que problemas de cada grupo humano ali eram resolvidos e encaminhados. Contudo, guerras e perseguições marcaram a história, fosse nas relações entre grupos locais, ou comunidades, fosse na formação de nações.” Melfi considerou que novos sistemas políticos de organização internacional foram idealizados e construídos – entre os quais as Nações Unidas e a Unesco –, buscando construir melhor qualidade de vida para toda a humanidade, superando problemas de sistemas econômicos que geraram novos dramas, ligados à miséria e ao sofrimento pela exclusão, em diferentes manifestações.

“Ainda, como é sabido, ao movimento de globalização econômica tem correspondido uma relativa homogeneização de padrões de consumo. Contudo, a resposta econômica das populações extrapola, gerando valores e práticas, muitas vezes em desacerto ou até flagrante confronto com as identidades locais. Como lidar com esse problema?”, questionou o reitor da USP.

“Além disso, a presença de conflitos sangrentos por motivos étnicos e religiosos, enquanto o terrorismo parece recrudescer, em diferentes pontos do planeta, apresenta novas questões à ordem política mundial.” Melfi destacou as ações da USP em favor da paz e da tolerância no mundo. “Instituímos em 2000 o Prêmio USP de Direitos Humanos, outorgado anualmente a uma personalidade e a uma instituição que se destaquem nesse setor, e em 2003 criamos a Comissão Permanente de Direitos Humanos, a terceira do mundo. É preciso mencionar ainda o Laboratório de Estudos sobre a Intolerância, criado no Departamento de História, que conta com pesquisadores nacionais e estrangeiros.”

Contestar e participar

Por que e como definir prioridades de pesquisa e metodologias de ensino, além de preservar a diversidade cultural dos povos, são decisões políticas que devem contar sobretudo com a participação das sociedades civis. As universidades são o elo entre as esferas de poder e as comunidades.

Sendo assim, são instituições que têm a responsabilidade de vigiar a vida política das sociedades, constituindo um espaço não só de convergência de idéias mas também de contestação, defendeu a filósofa grega Katérina Stenou, diretora da Divisão de Políticas Culturais e Diálogos Interculturais da Unesco.

No segundo dia do 12o. encontro da IAU, Káterina disse ao Jornal da USP que existe uma certa tendência a simplificar a questão da promoção do diálogo nas universidades. “Ao contrário, precisamos sofisticar e tornar mais complexo esse debate para que a academia possa entender as reais dimensões do problema. O que tenhodefendido é que o diálogo nacional deve estar entrelaçado à missão teórica e ética da universidade.

Esta, por sua vez, não deve ser apenas um local de convergência ou divergência de idéias, ou onde se transmite conhecimento. Deve ser um lugar de contestação e vigilância. Éisso o que nos permite observar e analisar o que ocorre na sociedade para que não sejamos instrumentalizados por políticos, religiões ou outras forças sociais.” Katérina trabalha no escritório francês da Unesco e lamentou o fato de poder passar apenas um dia na capital paulista, aonde veio especialmente para participar da plenária temática “O Papel das Universidades na Promoção do Diálogo”.

Participaram da mesma discussão o presidente da Universidade de Teerã, Reza Faraji-Dana, o diretor do Instituto de Estudos Africanos da School of International and Public Affairs da Columbia (EUA), Mahmood Mandani, além do professor Paolo Blasi, ex-reitor da Universidade de Florença, na Itália. Para Katérina, as universidades devem fazer a diferença em termos de cultura, civilização e religião. “Temos a obrigação de informar criticamente os políticos e formar opiniões da forma mais objetiva e ética possível”, disse.

 

  ir para o topo da página O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP. [EXPEDIENTE] [EMAIL]