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az 50 anos que Getúlio Vargas se suicidou “para entrar na história”, como ele próprio disse em carta. E para mostrar o que foi a era Vargas aos olhos do cinema, acontece a partir deste sábado a mostra “Getúlio: 50 anos de luto?”, no Centro Cultural São Paulo. Todos os filmes (só ficaram de fora dois títulos), da cinematografia brasileira estão presentes, permitindo uma reflexão sobre o que foi o seu governo. Não é um julgamento, mas sim um panorama de como os cineastas reproduziram parte da história nas telonas. Estão reunidas produções sobre a Revolução de 30, o tenentismo, a Intentona Comunista e ficções de personagens, entre eles Luís Carlos Prestes e Pagu, que viveram a mesma época, além de sátiras que remetem a fatos políticos como o populismo ou a política de boa vizinhança. Há ainda dois debates, com mediação de Antonio Pedro Tota, curador da mostra: o primeiro, também neste sábado, vai abordar a criação da Petrobras, em 1953, que surgiu a partir da campanha de nacionalização do petróleo de Getúlio Vargas, com o slogan “o petróleo é nosso”, com os debatedores Ildo Sauer e José Augusto Ribeiro; e o segundo, no dia 25 de agosto, com Oliveiro S. Ferreira e Francisco de Oliveira, discutindo o colapso do populismo.

Da Revolução de 30, o destaque é a trilogia de Eduardo Escorel sobre o governo getulista. O primeiro, que inclusive abre a mostra, é 1930, tempo de revolução (1990) sobre movimentos anteriores à revolução, como o do Forte de Copacabana, em 1922, e o tenentismo, em 1924; 32 – A guerra civil (1992) apresenta o movimento constitucionalista de 1932, desde sua origem logo após a revolução à Promulgação da Constituição de 1934, incluindo imagens raras da época e depoimentos de Antonio Candido, Boris Fausto e Paulo Sérgio Pinheiro; e 35 – O assalto ao poder (2002), com os três levantes militares liderados por membros do Partido Comunista que tentaram derrubar o governo Vargas. Outros filmes sobre essa temática são Revolução de 30 (1980), de Sylvio Back, que une trechos de documentários e de filmes de ficção da década de 20, anunciando a revolução; e O país dos tenentes (1987), com direção e roteiro de João Batista de Andrade, em que um velho general da reserva, próximo da morte, recorda sua participação em momentos históricos, como as revoluções, a Coluna Prestes e o Golpe Militar de 64.

 


Nem Sansão, nem Dalila, de Carlos Manga, sátira ao governo getulista


Outro bloco temático mostra a política de boa vizinhança adotada por Getúlio Vargas na década de 40, quando o Brasil deixa de consumir produtos da Europa, principalmente da França e Alemanha, e passa a negociar com os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Quatro filmes representam essa fase: os documentários Tudo é Brasil (1997), direção e roteiro de Rogério Sganzerla, com cenas inéditas e imagens de bastidores do filme It´s all true, rodado no Brasil e dirigido por Orson Welles, em 1942; e o próprio longa de Welles; além de Você já foi à Bahia? (1944), de Norman Ferguson, que mostra bem essa política adotada entre os EUA e a América Latina, trazendo um olhar exótico através de aventuras de um personagem de desenho animado, o Pato Donald; e por fim, a troca, com a “importação” de Carmem Miranda para os EUA em Copacabana (1947), de Alfred E. Green, com a cantora no elenco da história sobre um empresário que consegue arrumar dois empregos para sua única cliente em um mesmo lugar, um night club.

Ainda há filmes de personagens, retratando o próprio Getúlio Vargas, como Getúlio, glória e drama de um povo (1956), direção de Alfredo Palácios, sobre sua morte, com cenas raras do estadista; e Getúlio Vargas (1974), de Ana Carolina, que mostra o Brasil dos anos 30 a 50, com fatos marcantes como o suicídio de Vargas e a participação da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial; e outros que passam por Vargas, entre eles O velho – a história de Luís Carlos Prestes (1997), de Toni Venturi, que retrata a trajetória do líder comunista, mostrando grandes acontecimentos como o governo Getúlio Vargas, o Regime Militar e a abertura política de 1980; e Eternamente Pagu (1988), de Norma Bengell, uma biografia da musa do Modernismo que formou um triângulo amoroso com Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, a revolucionária Patrícia Galvão, presa e torturada durante o Estado Novo.



No destaque, cena de 35 - O assalto ao poder, da trilogia de Eduardo Escorel, Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos, e Oscarito em Tudo é Brasil, de Rogério Sganzerla



Mas também não faltam sátiras, como a chanchada Nem Sansão, nem Dalila (1954), de Carlos Manga, em que um barbeiro, após um insólito acidente, vai parar em Gaza, onde conhece Sansão e descobre que sua força vem da peruca; trocando-a por um isqueiro, torna-se um homem forte e poderoso e passa a reinar como um ditador bonachão; ou filmes baseados em obras de escritores, como Memórias do cárcere (1984), roteiro e direção de Nelson Pereira dos Santos, a partir da autobiografia de Graciliano Ramos, que se passa nos anos 30, quando o escritor é preso e enviado a uma colônia penal em Ilha Grande. A programação inclui dois dos 16 episódios da série televisiva “Agosto”, de 1994, baseada na obra homônima de Ruben Fonseca, com direção geral de Walter Carvalho, que se passa em 1954, quando acontecem crimes estarrecedores, manifestações e atentados políticos na luta pelo poder. Ainda são exibidos Os herdeiros (1970), de Cacá Diegues, O caso dos irmãos Naves (1967), reconstituição de um caso verídico feita por Luiz Sérgio Person; Doramundo (1978), de João Batista de Andrade; Aleluia Gretchen (1974), de Sylvio Back; O descobrimento do Brasil (1937), de Humberto Mauro, e Diário da província (1979), de Roberto Palmari. Tudo para que se possa refletir sobre o que foi a era Vargas e talvez chegar à resposta da pergunta do título: 50 anos de luto?

A mostra “Getúlio: 50 anos de luto? acontece até 28 de agosto, com sessões às 14h, 16h e 18h, no Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel. 3277-3611). Os ingressos são gratuitos. Programação completa no site www.pro dam.sp.gov.br/ccsp.

 




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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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