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Fala tu acompanha a rotina de três rappers

 

Difícil separar as metrópoles de suas consagradas ou propagadas imagens no cinema. “É como se nos atraísse algo de um espelhamento recíproco entre os dois fenômenos, as novas ordenações da sociedade e os processos de reprodução da imagem”, escreve Rubens Machado Jr, professor do curso de Audiovisual na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e curador da mostra “Imagens da metrópole na França e no Brasil”, em cartaz a partir desta segunda no Cinusp e de quarta no Museu da Imagem e do Som (MIS). Paralelamente à exibição dos filmes, estudiosos franceses e brasileiros participam de seminário sobre o mesmo tema (veja matéria abaixo). A mostra reúne 11 longas e 17 curtas nacionais e 11 longas franceses, desde os anos 30 até títulos que sequer entraram em cartaz, com as pré-estréias dos brasileiros Contra todos e Aqui favela, o rap representa. Na lista dos nacionais, os documentários são maioria. Já os franceses exibidos são todos de ficção, unindo cineastas como Jean-Luc Godard, Robert Bresson, Jean Renoir e Leos Carax.

E como também é difícil retratar as grandes cidades sem tratar da violência, é isso que muitos dos filmes escolhidos abordam. Se em Ônibus 174 (2002), de José Padilha, o Rio de Janeiro aparece através de um personagem marginalizado, que seqüestrou um ônibus e foi morto pela polícia depois de ampla cobertura pela imprensa, em Edifício Master (2002), de Eduardo Coutinho, o público pode conferir as histórias íntimas dos moradores do prédio em Copacabana. A violência na capital fluminense é ainda vista em Notícias de uma guerra particular (1997-98), de João Moreira Salles e Kátia Lund, que denuncia uma verdadeira guerra entre policiais, traficantes e moradores de favela. Uma alternativa a essa violência aparece em Fala tu (2004), de Guilherme Coelho, através de três personagens que sonham em conseguir sobreviver do rap, e também no inédito Aqui favela – O rap representa (2003), de Júnia Torres e Rodrigo Siqueira, que mostra o movimento hip hop em São Paulo e Belo Horizonte, com seus artistas menos e mais conhecidos.

Outra pré-estréia é a de Contra todos (2004), de Roberto Moreira, que narra os problemas de uma família paulistana de classe média. A cidade ainda é tema ou cenário de vários longas da mostra. São Paulo – Sinfonia e cacofonia (1994), de Jean-Claude Bernardet, remete a diversos filmes feitos sobre e na cidade, construindo uma dialética com essas imagens e os sentimentos de amor e ódio que a capital provoca em sua população. Uma das referências do filme são as cenas feitas por Luiz Sérgio Person na ficção São Paulo S.A. (1965), que também será exibida, sobre o rompimento com a vida burguesa e com a própria cidade.


Ficções francesas

O batedor de carteiras (1959), obra-prima de Robert Bresson, é sobre a redenção de um jovem que bate carteiras por hobby. Em Sangue ruim (1986), de Leos Carax, futuro e presente se mesclam nas imagens de Paris. Na ficção científica com toques noir, uma estranha doença é transmitida sexualmente, mas somente através do sexo sem compromisso. Um punk e seu comparsa tentam roubar a fórmula do remédio e, ao mesmo tempo, se vêem envolvidos com a mesma mulher, interpretada por Juliette Binoche. De Godard, Uma mulher é uma mulher (1961) é sobre a vida triste de uma stripper ignorada pelo marido e que sonha em ter um filho. São exibidos ainda O ódio (1995), de Mathieu Kassovitz; Mundo cão (1989), de Eric Rochant; A discreta intimidade de uma mulher (1990), de Christian Vincent; Louise (1998), de Siegfried; Por ternura também se mata (1956), de René Clair; Instituto de beleza Vênus (1999), de Toni Marshall; O crime do Sr. Lange (1936), de Jean Renoir; e Place Vendôme (1999), de Nicole Garcia.

A programação desta semana traz no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, Favo 4 das Colméias, tel. 3091-3540), às 16h: Ônibus 174 (segunda), Mundo cão (terça), O invasor (quarta), Sangue ruim (quinta) e Edifício Master (sexta); e às 19h: Place Vendôme (segunda), São Paulo S.A. (terça), A discreta intimidade de uma mulher (quarta), Aqui favela, o rap representa (quinta) e Louise (sexta). As sessões no MIS (av. Europa, 158, tel. 3062-9197) acontecem às 18h e 20h. Algumas sessões incluem curtas integrantes da mostra. Entrada gratuita.





Violência urbana em Ônibus 174

Estudiosos franceses e brasileiros em colóquio

O colóquio paralelo à mostra acontece nos dias 1°, 2 e 3 de setembro na Escola de Comunicações e Artes (ECA), dividido em diversas mesas de debate. Os professores da USP Ismail Xavier e Rubens Machado Jr. e Michel Marie, da Universidade de Paris, discutem “Passagens e recuos: do moderno ao contemporâneo na metrópole cinematográfica”, que será debatido em outra mesa com professores da UFRJ e UFF. Outra discussão será “A imagem da cidade como uma experiência de criação”, com Henri Gervasieu e Maria Dora Mourão (ambos da USP) e Consuelo Lins (UFRJ). Na mesa “A sedimentação contemporânea do urbano no cinema”, estão Philippe Dubois (Paris), Lúcia Nagib (Unicamp) e Esther Hamburger (USP). E o último debate será “Lugares de se ver: os centros de exibição da metrópole”, com André Parente (UFRJ) e Laurent Creton (Paris).

 

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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