O ensino de engenharia diferencia-se das áreas
menos técnicas nisto: é muito prático e geralmente
tem aplicabilidade imediata. Por isso mesmo, interessa sobremaneira
às empresas e a todos os segmentos que transformam o conhecimento
em produtos, ou os aperfeiçoam, concorrendo para o desenvolvimento
do País. Pelo menos assim é na Escola de Engenharia
de São Carlos, unidade que, há 51 anos, iniciou as
atividades da USP naquele município e deu origem a outros
três - Institutos de Física, de Química e de
Ciências Matemáticas e Computação. Trinta
e cinco anos depois da criação do novo perfil do ensino
superior no Brasil, com a introdução do mestrado e
do doutorado em substituição do modelo baseado no
doutoramento e na cátedra, vigente até 1969, a presidente
da Comissão de Pós-Graduação da Escola
de Engenharia, professora Maria do Carmo Calijuri, faz um balanço
do período e destaca o conceito de excelência dado
pela Capes à quase totalidade dos programas da pós
de São Carlos.
Os programas são nove: Arquitetura e Urbanismo, Geotecnia,
Engenharia Elétrica, Engenharia Civil (Engenharia de Estruturas),
Engenharia Mecânica, Engenharia de Transportes, Engenharia
Hidráulica e Saneamento, Ciências de Engenharia Ambiental
e Engenharia de Produção. A escola também participa
de atividades de áreas interunidades, em Bioengenharia, juntamente
com a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e o Instituto
de Química; na área de Ciência e Engenharia
de Materiais, junto com o Instituto de Física.
Nos nove programas, sem contar os dois das áreas interunidades,
estão matriculados 925 alunos regulares de pós-graduação,
e mais 584 alunos especiais (aqueles que cursam determinadas disciplinas,
vindos de outras universidades ou de empresas), totalizando 1.509.
Maria do Carmo faz as contas: quando a pós-graduação
começou efetivamente em São Carlos, em 1970, havia
quatro defesas de tese; de 1970 até agosto de 2004, o total
de defesas, entre mestrado e doutorado, subiu para 3.598.
Excelência
Segundo a presidente da Comissão de Pós-Graduação,
em nível de conceituação na Capes, a maioria
dos programas tem nota 5 (sobre o máximo de 7), um tem nota
6 e dois nota 4. Explica-se: estes tiveram o doutorado aprovado
pela Capes apenas no ano passado; antes era só mestrado.
"Estamos esperando nova avaliação ainda em setembro",
informa a professora. No conjunto, a conceituação
significa ensino de excelência.
Outro esclarecimento: por ser a engenharia uma área tecnológica,
a escola tem sua atenção voltada para os egressos
dos programas de pós-graduação e trabalha em
contato estreito com as empresas, campo onde ainda há muito
a fazer. Grandes organizações da iniciativa privada
e da pública investem na formação de recursos
humanos. "Hoje temos vários alunos de empresas cursando
pós-graduação em São Carlos. Embora
essas pessoas, que trabalham e estudam simultaneamente, aumentem
um pouco o tempo de titulação - e isso conta na avaliação
da Capes - é extremamente importante que se formem e ajudem
a elevar o nível de excelência nas empresas",
afirma, lembrando que alunos nessa situação não
podem se beneficiar de bolsas de estudo, uma vez que as agências
financiadoras exigem dedicação integral. Então,
o alongamento do tempo de titulação de certa forma
prejudica os programas de pós-graduação, rebaixando
o conceito atribuído pela Capes; mesmo assim, a presença
do aluno de empresa é considerado pela Escola de Engenharia
"extremamente positivo, porque o estudante já está
no mercado de trabalho, leva conhecimento, desenvolve tecnologia".
Em alguns dos programas, o número desses alunos é
elevado e Maria do Carmo tem boa explicação para isso:
"Aqui é diferente de uma área de ciência
básica. Na Biologia, por exemplo, o aluno faz graduação,
não vê perspectiva de emprego e ingressa na pós
com bolsa de estudo; aqui, o engenheiro se forma e quer trabalhar
imediatamente em grandes empresas, sabendo que elas também
estão interessadas nele".
Alguns resultados eminentemente práticos dos programas podem
ser lembrados. É o caso do motor a álcool, que foi
desenvolvido na Escola de Engenharia de São Carlos, depois
aprimorado, revelando-se tão importante para o transporte
nacional e a economia do País. Na área do saneamento,
destaca-se a contribuição de professores do Departamento
de Hidráulica e Saneamento na construção de
modelos de estações de tratamento de esgoto, em especial
nos municípios que constituem o Consórcio de Bacias
dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. A nova tecnologia,
já com forte demanda nacional, está para ser aplicada
em projeto de tratamento de esgoto da cidade de São Carlos
e já foi usada na implantação da estação
do próprio campus de São Carlos.
Ainda no campus, outro exemplo de tecnologia aplicada: o túnel
de vento, que simula condições de vôo, performance
de automóveis ou a influência de ventos sobre edifícios.
Dotado de motor elétrico de alta potência, o túnel
provoca ventos de até 180 km. Paulo Celso Greco, professor
de Engenharia Aeronáutica, trabalha nele e explica que empresas
como a Embraer e fabricantes de carros costumam encomendar pesquisas.
Internacionalização
A professora Maria do Carmo - que é formada em Ciências
Biológicas, fez mestrado em Ecologia e Recursos Naturais,
tem doutorado em Engenharia Hidráulica e Saneamento, livre-docência
na mesma área e fez concurso para professor titular em Saneamento
Ambiental - diz que, em razão de os programas terem nível
de excelência, incentiva-se a internacionalização
da pós-graduação, com total apoio da Pró-Reitoria
de Pós-Graduação. Isso significa basicamente
intercâmbio de professores com outras universidades e apoio
a doutorandos no exterior, com auxílio de bolsas da Capes,
CNPq e da Fapesp. Essa política vem crescendo desde 2002.
Entre os países mais procurados estão Bélgica,
Itália, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e França.
Quanto aos alunos, chegam de vários países da América
Latina. No âmbito nacional, vêm de todos os Estados.
Os países sobressaem em diferentes campos do saber e por
esse critério são escolhidos pelos alunos da Escola
de Engenharia.
A Pós-Graduação tem procurado, segundo a professora
Maria do Carmo, disponibilizar na biblioteca digital o acervo de
dissertações e teses concluídas para maior
divulgação das pesquisas.
Um
pouco de cada um
Algumas
linhas de pesquisa desenvolvidas em cada programa da pós-graduação
da Escola de Engenharia de São Carlos.
Arquitetura
e Urbanismo
Mestrado criado em 1970 e doutorado credenciado em 2002, com
a primeira turma ingressando em 2003. Contribuiu decisivamente
para o aprofundamento da pesquisa nas duas áreas. Produziu
trabalhos sobre o modernismo arquitetônico e urbanístico
brasileiros. Nas pesquisas em tecnologia, destacam-se avanços
alcançados no emprego de madeira e argamassa armada
nas construções, assim como estudos e descobertas
em relação ao desenvolvimento de novos materiais
e sistemas construtivos.
Ciência
da Engenharia Ambiental
Início da pós-graduação em !989.
Com caráter interdisciplinar, o programa forma recursos
humanos para desenvolver pesquisas, orientar e gerenciar projetos
no campo ambiental. As perspectivas em relação
às grandes áreas de desenvolvimento científico
e tecnológico estão vinculadas ao controle,
gerenciamento e recuperação de ecossistemas,
considerados nos diversos aspectos biogeofísicos, econômicos
e sociais.
Engenharia
Hidráulica e Saneamento
Criado em nível de pós-graduação
em 1970, tem conceito 6 da Capes. Oferece toda a infra-estrutura
para desenvolvimento de pesquisas, reconhecidas nacionalmente
e no exterior por sua qualidade. Possui dez laboratórios:
saneamento, processos biológicos, tratamento avançado
e reúso de águas, processos aeróbios,
resíduos sólidos, biotoxicologia em águas
continentais e efluentes, simulação computacional,
sistemas de informações geográficas,
fenômenos de transporte e hidráulica; além
de laboratório de informática para alunos e
oficina mecânica de apoio à construção
de equipamentos experimentais.
Engenharia
de Estruturas
Iniciado em 1970, as linhas de pesquisa englobaram sistemas
estruturais e comportamento dos materiais empregados. Destaca-se
a formulação de modelos constitutivos para aço,
concreto, argamassa armada, madeira e materiais compostos.
Mais recentemente, as atividades de pesquisa passaram a incorporar
à linha experimental os concretos de alta resistência
e com fibras, bem como pesquisas na área de recuperação
e reforço de estruturas e alvenaria, temas de grande
importância para a atualidade.
Engenharia
de Produção
Criado em 1996, com nível de doutorado a partir de
2003, possui infra-estrutura para o desenvolvimento de pesquisas
composta por cinco laboratórios com recursos de informática:
administração e economia, gestão de processos,
pesquisa operacional e sistemas de apoio à decisão,
simulação e jogos, otimização
de processos de fabricação. Possui duas salas
equipadas com recursos audiovisuais.
Engenharia
de Transportes
A pós-graduação data de 1973. O programa
é considerado pela Capes como um dos melhores do Brasil.
Fundamenta-se em duas grandes áreas de pesquisa: infra-estrutura
de transportes e planejamento e operação de
transportes. No primeiro caso, pesquisam-se formas mais econômicas
e eficientes de projeto, construção, manutenção
e reabilitação de vias de transporte; na área
de planejamento e operação de transportes estudam-se
formas mais eficientes e econômicas para o planejamento,
gerenciamento e operação de sistemas de transporte
de carga e pessoas.
Engenharia
Elétrica
O programa de pós-graduação data de 1975
(mestrado) e 1997 (doutorado). As pesquisas fazem-se em torno
de cinco vertentes: Engenharia de Reabilitação
(desenvolvimento e aplicação de instrumentação
biomédica); Processamento de Sinais e Instrumentação
(técnicas computacionais e instrumentação
para sensoriamento, incluindo imagens médicas, tratamento
de sinais de voz); Sistemas Dinâmicos (análise,
projeto e dimensionamento de sistemas de controle empregando
técnicas de inteligência artificial); Sistemas
Elétricos de Potência (geração,
transmissão, distribuição e utilização
eficiente de energia elétrica); e Telecomunicações
(componentes e redes, com ênfase em sistemas óticos).
Engenharia
Mecânica
Mestrado a partir de 1970, doutorado de 1976. Programa composto
de sub-áreas de concentração: Aeronáutica
(aerodinâmica básica e aplicada, dinâmica
e controle de vôo, aeroservoelasticidade e magneto dinâmica);
Dinâmica de Máquinas e Sistemas (dinâmica
e controle de máquinas, dinâmica veicular, análise
modal de estruturas e análise vibroacústica
de sistemas mecânicos; robótica, automação
industrial); Manufatura (processos, integração,
planejamento e controle de sistemas de manufatura); Materiais
(diversos tipos de materiais, com ênfase na caracterização
das propriedades mecânicas e microestrutura); Projeto
Mecânico (tópicos de projeto convencional, de
precisão e estudo de mecânica dimensional e metrologia
de máquinas ferramentas); Térmica e Fluidos
(energia e poluição, escoamentos multifásicos,
motores de combustão interna, refriogeração
e ar condicionado).
Geotecnia
Pós-graduação implantada em 1977. As
linhas de pesquisa contemplam as três subáreas
que constituem a base da geotecnia: Geotecnia de Engenharia,
Mecânica dos Solos e Mecânica das Rochas, incorporando,
a partir de 1995, linhas de pesquisa como Geotecnia Ambiental,
Melhoria dos Solos e Geossintéticos. Merece destaque
a atuação em pesquisas realizadas em campo experimental
de fundações instalado no campus de São
Carlos.
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