Alunos
do campus da USP em Bauru: compromisso com a sociedade
Quando
se decidiu sobre que vestibular prestaria, a hoje professora e pesquisadora
Régia Luzia Zanata não imaginava que dedicaria 14
anos de estudos ininterruptos na USP. Foi a decisão
certa, frisa. Sempre pela Faculdade de Odontologia de Bauru
(FOB) da USP, Régia concluiu a graduação em
Odontologia e aperfeiçoamento, mestrado e doutorado em Dentística.
O resultado não está apenas disponível em bibliotecas
especializadas. A pesquisa da pós-graduação
deve ter aplicabilidade, defende. Dessa forma, Régia
criou e conduz até hoje um programa público municipal
de saúde bucal voltado às gestantes carentes de Bauru
extensão direta de seu doutorado, iniciado em 1997,
para o qual foram pesquisadas 81 grávidas na primeira gestação,
de 12 a 32 anos, que apresentavam péssima condição
bucal média de 14 dentes careados cada.
Desde o ano 2000, o Programa de Saúde Bucal da Gestante
resultado prático da tese já beneficiou 1.300
gestantes com prevenção e tratamento atraumático
(técnica que dispensa anestesia, respeitando o limite da
sensação dolorosa de cada paciente). A efetividade
da pesquisa destaque cinco vezes no Brasil e Estados Unidos,
inclusive com o Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia
para o Sistema Único de Saúde, em 2002, e Prêmio
da Associação Internacional de Pesquisa Odontológica,
nos Estados Unidos, em 2000 foi comprovada após 30
meses de trabalho, quando Régia concluiu que há correlação
significativa entre a atividade de cárie materna e a incidência
da doença em seus filhos. Nada disso seria viabilizado
em prol da sociedade se não tivesse recebido uma sólida
formação em pós-graduação como
a que encontrei na USP, destaca.
Orientada em seu mestrado pela diretora da FOB, professora Maria
Fidela de Lima Navarro, Régia Zanata foi uma das participantes
dos eventos integrados do campus da USP de Bauru durante visita
da pró-reitora de Pós-Graduação da Universidade,
professora Suely Vilela, no dia 13 de setembro passado. Na ocasião,
Suely Vilela proferiu palestra no salão nobre da FOB, avaliou
painéis científicos da faculdade e do Hospital de
Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP
o popular Centrinho e descerrou placa alusiva ao Laboratório
de Informática Pró-Aluno, já em funcionamento
no hospital, onde encerrou a visita como espectadora de uma peça
de teatro no setor de Recreação. Paródia de
uma circunstância cômica em sala de aula, a apresentação
envolveu pais, pacientes e funcionários e emocionou a pró-reitora.
A decisão de estreitar a relação com o interior
integra as comemorações pelos 35 anos da pós-graduação
da USP, instituída em 1969, e prossegue até novembro
em todos os campi fora da capital. Depois de Bauru, que abriu a
seqüência, a professora esteve em Piracicaba (leia matéria
na página ao lado). Em outubro, vai a Ribeirão Preto
e Pirassununga. Em novembro, a São Carlos. Paralelamente,
fala sobre os desafios da pós-graduação em
eventos no campus de São Paulo.
A intenção da pró-reitora não é
só divulgar a pós-graduação, mas incentivar
a reflexão sobre sua trajetória, suas lacunas e seu
futuro. Respondemos por 16% do total de mestres e 36% do total
de doutores formados no Brasil, destaca. Em números
absolutos: 21.294 alunos matriculados nos cursos de pós-graduação
até março deste ano, 37.665 mestres titulados e 22.234
doutores em 219 programas de pós-graduação.
Só de Bauru FOB e Centrinho são mais
de 1.600 alunos que já concluíram a pós-graduação
(leia o texto abaixo). Este é o momento para ressaltar
os nossos pioneiros e convidar as novas gerações a
refletir sobre a pós-graduação e seu papel
na sociedade, diz Suely Vilela. Vivemos em um aprender
constante, que deve ser exercitado com senso crítico e criatividade
para que possamos acompanhar as mudanças do mundo e atender
às demandas da sociedade.
Suely Vilela, ao lado do Tio Gastão: "Vivemos
um aprender constante"
Cumpre
renovar
Também em tom de reconhecimento aos pesquisadores do
passado, a presidente da Comissão de Pós-Graduação
do Centrinho, professora Inge Elly Kiemle Trindade, lembrou que
o hospital se dedicava à pesquisa antes mesmo da implantação
formal dos programas de pós em distúrbios da comunicação
humana e fissuras orofaciais, a partir do final da década
de 90. A nossa vocação sempre foi multidisciplinar,
pontua. Por isso, os recursos humanos que formamos saem daqui
com uma firme disposição para o trabalho em equipe
e o espírito de colaboração. A representante
discente da FOB, a aluna do segundo ano de mestrado em Odontopediatria
Ana Carolina Magalhães, acrescenta que a junção
de programas da pós é, de fato, uma necessidade
bem vista pelos estudantes. Quanto mais tivermos aulas em
outras salas, com outros professores e turmas, melhor.
Já o presidente da Comissão de Pós-Graduação
da FOB, professor José Carlos Pereira, citou Rui Barbosa
Cumpre renovar para dizer que mudar
não é destruir o que já existe, mas sim trazer
novos métodos àquilo que já funciona bem.
E completou: Não devemos ficar na mesmice. Não
podemos nos acomodar. Sem dúvida, a pós-graduação
deve ser sempre dinâmica e com foco voltado à qualidade
de vida da população. É o caso, por exemplo,
do Programa Extramuros do Centrinho e Funcraf (Fundação
para o Estudo e Tratamento das Deformidades Craniofaciais), que
leva prevenção odontológica a dezenas de entidades
assistenciais, asilos e institutos de recuperação
de jovens em Bauru. Vamos a campo para identificar necessidades
e viabilizar soluções, diz a coordenadora do
trabalho, cirurgiã-dentista Renata Pernambuco. Reverter
para a comunidade o fruto da nossa capacitação, na
forma de prestação de serviços, é o
nosso compromisso histórico, emenda o superintendente
do Centrinho, José Alberto de Souza Freitas (Tio Gastão).
Nesse sentido, o ex-aluno da pós-graduação
da FOB hoje professor universitário no Rio Grande
do Sul Adair Busato é enfático: Precisamos
passar a extensão de serviços à comunidade
para o topo da lista que, tradicionalmente, tem ensino e pesquisa
como figuras centrais. Em sua avaliação, o mestrado
deve formar professores e o doutorado, líderes de grupos
de pesquisa. Mãos hábeis não são
mais suficientes. Precisamos de mentes brilhantes, disse.
A pós deve, enfim, formar pessoas que disseminem conhecimento
com engajamento social e ética. Bem-humorado, Busato,
um ex-lavrador que hoje vive da docência, diz questionar alguns
pontos de vista de seus mestres da época de pós-graduando.
E sabe por quê? Porque eles me ensinaram a questionar.
E arremata: Podem até não gostar do meu jeito,
mas, quando digo que sou formado há quase duas décadas
pela USP de Bauru, ninguém questiona minha capacidade científica.
O entusiasmo dos mais experientes contagia quem está na linha
de largada da pós. Trixy Cristina Alves entrou, em agosto,
no Programa de Doutorado em Distúrbios da Comunicação
do Centrinho. Fonoaudióloga formada pela FOB, ela confirma
que a pós-graduação da USP é rigorosa.
Exige dedicação e prática clínica.
Isso ajuda a moldar o nosso perfil, também rigoroso e crítico
em relação a tudo o que aprendemos. Aluna do
mestrado em fissuras orofaciais, também do Centrinho, a cirurgiã-dentista
Mônica Moraes Waldemarin Lopes concorda: O curso é
puxado, o que é positivo porque a exigência dos professores
é que vai definir a qualidade da nossa formação.
A
pesquisadora Régia: sólida formação
dada pela pós-graduação da USP
A
realidade de Bauru
A
Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP já titulou
1.190 alunos 853 com dissertações de
mestrado e 337 em teses de doutorado , em 34 anos de
pós-graduação. A instituição
oferece programas stricto sensu em nove áreas de concentração,
com mestrado e doutorado em Dentística, Dentística/opção
em Materiais Dentários, Endodontia, Estomatologia,
Odontopediatria, Ortodontia, Ortodontia/opção
em Saúde Coletiva (oferecida apenas em nível
de mestrado), Patologia Bucal, Reabilitação
Oral e o curso de Biologia Oral, aprovado no ano passado.
O programa de pós-graduação stricto sensu
do curso de Fonoaudiologia está em fase de credenciamento
na Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior). Já a pós-graduação
lato sensu envolve cursos de especialização
em nove áreas odontológicas, enquanto a Fonoaudiologia
oferece cursos de especialização nas áreas
de Audiologia, Linguagem e Voz.
No caso do Centrinho, já foram formados 40 mestres,
18 doutores e 437 especialistas. O programa contempla Ciências
da Reabilitação em duas áreas de concentração:
Distúrbios da Comunicação Humana (mestrado
e doutorado) e Fissuras Orofaciais (mestrado em curso e doutorado
a partir de 2005). Antes, desde 1996, já eram oferecidos
pela USP, gratuitamente, cursos de especialização
(lato sensu) em 13 áreas da saúde. A gratuidade
permanece. Há, ainda, o curso de aprimoramento profissional
(Reabilitação em Anomalias Congênitas
do Centrinho) em seis áreas, além de residência
médica em Otorrinolaringologia). Mais detalhes: www.centrinho.usp.br
e www.fob.usp.br.
(Colaborou Marianne Ramalho)
|
|