Se as guerras nascem na mente dos homens,
é na mente dos homens que devem ser erguidas as defesas da
paz, Convenção das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco),
1945
Mais
uma valiosa contribuição à luta pela justiça
e pelo desenvolvimento social será dada pela Universidade
de São Paulo. Nesta quinta-feira, dia 30, a Comissão
de Direitos Humanos da USP fará a entrega do CD-ROM Direitos
humanos Textos nacionais e internacionais às escolas
da rede pública municipal de São Paulo. No CD, endereçado
às crianças, estão contidos documentos que
serviram de base para a elaboração de políticas
públicas, diretrizes e leis relacionadas aos direitos humanos
em diversas nações.
O Salão Nobre da Faculdade de Direito, no Largo São
Francisco, sediará o evento, às 9 horas. Uma mesa
bem decorada será ocupada por vários convidados ilustres,
entre eles a secretária municipal da Educação,
Maria Aparecida Perez. No auditório, estarão presentes
os professores que receberão os CDs. São os responsáveis
pelas salas de leitura de cada uma das 470 escolas públicas
da cidade. O desembargador do Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo, Enrique Ricardo Lewandowski, também
membro da Comissão de Direitos Humanos, abrirá os
discursos contando a história dos direitos humanos. Em seguida,
a professora Maria Luiza Marcílio, presidente da Comissão
de Direitos Humanos da USP, abordará a luta histórica
pelos direitos da criança. E quem encerra é Fábio
Bezerra de Brito, professor da Escola de Aplicação
da Faculdade de Educação da USP, falando sobre a importância
pedagógica dos textos que compõem o CD-ROM.
Nele estão contidos todos os tratados e pactos sobre
desenvolvimento humano, cartas e declarações universais
relativas aos direitos do apátrida, do refugiado, da terra
e do índio, entre muitos outros, informa a professora
Maria Luiza. Também contém desde documentos históricos
anteriores à criação das Nações
Unidas como a Doutrina Monroe, com sua eloqüente defesa
da América para os Americanos, a Magna Carta
de 1215, assinada pelo então rei da Inglaterra João
Sem-Terra, e textos brasileiros, como a Lei Áurea, declarando
extinta a escravidão no Brasil até
a imprescindível Declaração Universal dos Direitos
Humanos da ONU. Esta última, conforme destaca a professora,
um dos mais importantes documentos escritos pelo homem.
Espírito
de tolerância
Tudo isso já estava disponível na Biblioteca Virtual
de Direitos Humanos da USP, no endereço www.di reitoshumanos.usp.br,
que costuma registrar entre 200 e 300 acessos diários. O
site ainda possui um livro de visitas recheado de elogios e parabenizações
pelo trabalho realizado por todos que cooperaram na sua construção.
Abraços de um companheiro da luta pelo respeito e pela eficácia
dos direitos humanos, manifestou um visitante do site, Messias
Moreira Basques. Graças a Deus ainda há socorro
nos estudiosos, escreveu Urbano Félix do Bomfim Neto.
A biblioteca é atualizada constantemente por uma pequena
e eficiente equipe.
Entretanto, mesmo com os textos facilmente acessíveis via
Internet, era preciso disponibilizá-los às escolas
em CD, afirma Maria Luiza. Ela lembra que não são
todas as escolas que estão conectadas à Internet,
sem contar a carência de máquinas suficientes para
que todos os alunos possam utilizar a biblioteca ao mesmo tempo.
Isso tudo é suprido com o CD-ROM, e os educadores têm
a possibilidade de imprimir os textos. Imprimir os textos
também já era possível, bastando que o professor
copiasse o material num programa de editor de textos do computador
e, em seguida, o imprimisse o que poderia ser feito num telecentro,
se a escola não tivesse acesso à rede. Assim, o CD-ROM
apenas facilitou a operação.
Queremos fazer com que os educadores sintam o peso da responsabilidade
de transmitir esse conhecimento aos alunos, afirma Maria Luiza,
explicando a presença dos professores da rede municipal de
ensino na cerimônia, no dia 30. O impacto do CD nas
crianças dependerá de como eles lhes estimulam a reflexão.
Eu diria que esses conceitos são fundamentais não
só para as crianças, mas para toda a sociedade. É
uma luta que deveria se estender a todas as pessoas, complementa
Iara Brasil, da Secretaria Municipal de Educação,
com quem a USP travou contato para realizar o ato. Coordenadora
de vários grupos da Secretaria entre eles o Projeto
Vida, que tem a finalidade de prevenir a violência nas escolas
, Iara observa que o contato com essas idéias despertará
na criança um sentimento de protagonista na construção
da sua própria história. Se pretendemos vislumbrar
um mundo pautado em valores mais humanistas, sem a intolerância,
então é na infância que começamos a incutir
esse pensamento. Portanto, significa muito mais que apenas a entrega
de um CD-ROM. É, antes de tudo, um pensar sobre a prática
pedagógica e até sobre a influência das universidades
em suas comunidades. E representa nossa busca por uma educação
mais ética e igualitária, observa. A professora
Maria Luiza subscreve: Nosso objetivo é alimentar o
espírito de solidariedade e de tolerância nas crianças.
Elas precisam saber que, a partir do Estatuto da Criança
e do Adolescente, passam a ser um sujeito de direitos. Precisam
saber que há direitos para todo homem e para o homem todo.
Teoria
e prática
Militante das lutas sociais desde a época em que integrou
a Juventude Universitária Católica, enquanto estudava
filosofia no antigo prédio da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras, na rua Maria Antonia, Maria Luiza volta a ocupar outra
cadeira no mesmo endereço, desta vez a de presidente da Comissão
de Direitos Humanos da USP, que tem sede na Maria Antonia. Naquele
tempo, havia muito mais engajamento entre os jovens, não
havia esse consumismo de hoje, recorda. Mas, se esse retorno
ao palco de velhas batalhas foi obra do acaso, já não
se pode dizer que o desejo de fazer algo pelas crianças surgiu
do nada. Há 20 anos, ela dedica seus estudos e trabalhos
à história da infância e ao abandono dos menores.
Chegou a se tornar assessora da Secretaria Estadual da Criança,
em 1996, quando esteve em contato direto com a Febem.
Maria Luiza reconhece que, entre todos os preceitos humanistas impressos
no papel e a prática no mundo concreto, há uma dolorosa
lacuna que ela luta para transpor. A respeito da Febem que
conhece tão bem , por exemplo, ela afirma: É
uma situação dramática. Os jovens ali ficam
completamente ociosos, trancafiados. Não há nenhum
projeto pedagógico, é tudo sempre pontual e imediatista.
Mudam toda hora os diretores, e esses não têm a menor
idéia de como tratar aqueles jovens. Ocupam cargos políticos,
acertados. Lá tem assistente social, psicólogo, sociólogo
etc., mas ficam todos isolados na parte administrativa, sem contato
com os meninos. A entrega do CD Direitos humanos às
escolas da cidade, ela acredita, é uma forma de lutar contra
situações injustas como essa.
Inscrições
para o Prêmio USP vão até dia 30
Encerram-se
no dia 30 deste mês as inscrições para
o 5o Prêmio USP de Direitos Humanos, que irá
consagrar a instituição e pessoa física
que, por suas atividades exemplares, tenham contribuído
significativamente para a difusão, disseminação
e divulgação dos direitos humanos no Brasil.
O prêmio, um troféu e diploma, é dividido
em duas modalidades: individual (destinado à pessoa
que tem se destacado por pesquisas ou ações
concretas desenvolvidas na defesa e na divulgação
dos direitos humanos, da paz, tolerância e justiça
social) e institucional (destinado à entidade ou grupo
de pessoas que tenha realizado ou esteja desenvolvendo pesquisas
ou atividades nesse âmbito). O regulamento do prêmio
e mais informações podem ser obtidos na página
eletrônica da Comissão de Direitos
Humanos da USP (www.direitoshumanos.usp.br).
Os telefones da comissão são (11) 3255-5538
e 3255-7182, ramal 48.
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