Abuso
no campus, na semana retrasada: a 140 quilômetros por hora,
veículo atinge cinco carros antes de se espatifar na rua
do Matão.
Alguns
pontos da administração que são comuns a todos
os campi da USP, tanto na capital como no interior, agora terão
tratamento conjunto, conforme deliberação tomada em
reunião de prefeitos e diretores de unidades, institutos
e órgãos centrais, realizada no dia 1o de outubro,
sexta-feira, na Prefeitura da Cidade Universitária, em São
Paulo. De acordo com o prefeito Wanderley Messias da Costa, que
teve a iniciativa do encontro, trata-se de obter soluções
para assuntos que dependem não de medidas isoladas e localizadas,
mas da ação conjunta da Universidade. Eu pretendia
levantar alguns temas que considero polêmicos, mas que precisam
ser debatidos nas câmaras técnicas e, em seguida, deliberados
para se tornarem normas, diz Messias da Costa, ao justificar
o convite que fez aos colegas do interior e destacar a presença
nesse encontro do procurador-geral da Universidade, professor João
Del Nero. Importante, segundo ele, porque todos os assuntos levantados
envolvem alguma interpretação jurídica. E os
assuntos deliberados são a proibição do fumo
(cigarro, cachimbo, charuto) em ambiente público, proibição
do consumo de bebidas com alto teor alcoólico, a regulamentação
de festas na Universidade e maior rigor no trânsito.
A questão do uso de cigarro (e outras formas de fumo) não
apresenta possibilidade de dúvidas jurídicas, pois
uma lei federal (número 9.294, de 15 de julho de 1996) proíbe
expressamente fumar em ambiente público, coletivo fechado,
valendo não apenas para a administração pública,
mas também para locais fechados particulares, como cinemas,
teatros, restaurantes e shopping centers. E não há
exceções. A dúvida do prefeito era sobre a
exigência, ou não, de fumódromo, ou sala especial
para fumantes. Não é obrigatório, apenas recomendável,
conforme entende a Consultoria-Geral. Por isso, quem não
resistir à tentação da fumaça terá
de procurar o pátio. Além da regulamentação
federal, existem ainda decreto estadual e lei municipal no mesmo
sentido, mas nos dois casos os acréscimos visam sempre a
tornar a proibição do fumo mais rigorosa. Nos lugares
vetados ao fumo foram incluídos estabelecimentos de ensino,
universidades, hospitais e órgãos de administração
pública em geral. Também está proibida nesses
ambientes a comercialização do cigarro.
Portanto, não há nenhuma dúvida,
observa Messias da Costa. Tanto que eu ia pedir um parecer
ao procurador-geral e ele disse que não o faria, pois não
cabe nenhuma interpretação diferente: a lei é
claríssima e a Universidade precisa cumpri-la. Na próxima
reunião do Conselho do Campus da Capital, em outubro ou novembro,
o prefeito encaminhará recomendação ao reitor
Adolpho José Melfi para que baixe portaria determinando que
todos os órgãos da Universidade zelem pelo cumprimento
da lei. Em caso de desobediência, a lei prescreve, além
de multa, medidas disciplinares, iniciando-se por advertência.
Antes disso, a Prefeitura, em parceria com a Coordenadoria de Comunicação
Social (CCS), dará início a uma campanha de caráter
informativo e educativo, lembrando que, para os fumantes dispostos
a abandonar o vício, há na Universidade serviços
de apoio psicológico e clínico.
O prefeito se irrita ao lembrar que há na Universidade professores
que dão aulas fumando: Do meu ponto de vista, esse
professor está cometendo duas infrações graves.
Uma de ordem legal e outra de ordem educativa, moral e ética.
A primeira, porque infringe a lei e, mais ainda, em público;
a segunda, porque dá mau exemplo, passa uma péssima
mensagem aos jovens.
"A autonomia universitária não
pode ser usada para desculpar infrações, crimes e
ilegalidade", afirma o prefeito da Cidade Universitária,
Wanderley Messias da Costa
Álcool
Em relação ao álcool, Messias da Costa admite
um problema: a mesma lei federal número 9.294 diz no caput
que tratará de fumo e de álcool, mas praticamente
se limita ao cigarro. No caso do álcool, diz que são
consideradas bebidas alcoólicas, para efeito da regulamentação,
as com teor alcoólico superior a 13 graus. Isso exclui a
cerveja. Então, no caso da Universidade, não
se trata de simplesmente aplicar a lei, conclui o prefeito
do campus. A recomendação da Consultoria Jurídica
é que os prefeitos encaminhem aos conselhos dos campi e sugiram
ao reitor medidas no sentido de que façam cumprir os contratos
de concessão de lanchonetes e restaurantes, que já
prevêem a proibição de venda de bebida alcoólica.
Agora, é inten sificar a fiscalização. Isto
a Prefeitura vai fazer com a Guarda Universitária e, se necessário,
com apoio da PM, adverte o prefeito. Se flagrarmos um
estabelecimento comercial que tem contrato de concessão,
não importa se com um órgão da administração
central ou com uma unidade, vamos adverti-lo e em caso de reincidência
sugerir seu fechamento. Outra forma de entrada de álcool
no campus, segundo Messias da Costa, é pelos vendedores clandestinos,
que estacionam carros em determinados lugares. Outra advertência:
Aí eu não vou consultar nenhuma lei nem ninguém.
Simplesmente darei um aviso a esse sujeito e vou convidá-lo
a se retirar. Baseio-me no poder que tem a Prefeitura de regulamentar
o comércio aqui dentro.
Há ainda uma terceira fonte de entrada de bebida alcoólica.
São os centros acadêmicos (CAs). O prefeito quer reunir-se
com o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e, se necessário,
conversar com cada centro. Porque, segundo o professor, alguns CAs
estocam bebidas para festas e depois vendem as sobras no campus.
Isso não deixa de ser comércio clandestino de
bebida alcoólica, sobretudo quando realizado durante as aulas.
Nesse ponto, o prefeito fica bravo: Considero um absoluto
escárnio com as finalidades da Universidade que se revenda
bebida alcoólica durante as aulas.
Festas
Este é outro tema que o prefeito do campus quer destacar,
pois não é um problema apenas ligado ao consumo de
álcool. Sua posição: primeiro, deve-se permitir
a realização de festas na Universidade; segundo, os
diretores e as Prefeituras devem apoiar a realização
de eventos na medida do possível, em termos de logística
e de apoio material; terceiro, se há festa, há necessidade
de normas para a sua realização, visando principalmente
a proteger os próprios participantes. As pessoas se
esquecem disso, diz Messias da Costa. Já tivemos
óbitos. O diretor do Hospital Universitário (HU) já
me relatou inúmeros casos de pessoas que chegam em coma alcoólico,
lá pelas 4 ou 5 horas da manhã. E muitas vezes misturaram
álcool e drogas todos sabemos que isso é comum.
Portanto, corremos riscos, não só de acidentes, afogamentos
ou causas semelhantes. Jovens com 17, 18, 20 anos correm risco de
vida por causa de uma festa. Também ocorrem casos de
violência nesses ambientes, muitas vezes envolvendo convidados
de fora da Universidade, pois os convites são veiculados
de forma pública, inclusive em rádios da capital.
Acontece ainda, segundo o prefeito, que uma festa planejada para
300 pessoas acaba recebendo 2 mil, o que pode levar a atos de violência
e de depredação de patrimônio.
Mas o professor reconhece que hoje em dia a maior parte dos organizadores
de festas costuma procurar o diretor da unidade, que envia para
a Prefeitura informações sobre a natureza da festa
e o seu lugar. Também costumam contratar seguranças
particulares, prever estacionamentos, pensar em iluminação
adequada. Teoricamente, a responsabilidade por tudo o que acontece
na festa é do diretor da unidade, mas a Prefeitura prefere
trabalhar em parceria, dando apoio por meio da Guarda. Aliás,
a Guarda Universitária tem limites de atuação.
Age preventivamente (por exemplo, vistoriando previamente os locais
de festas); quando solicitada pelo diretor da unidade; e em situações
de conflito, violência física, de depredação
do patrimônio público. A ajuda da PM pode ser pedida.
Não tenho nenhum problema com isso, afirma Messias
da Costa. Usar ou não usar a PM não é
um drama para mim. Se necessário, uso. Trata-se de uma instituição
da sociedade democrática para fazer valer direitos, inclusive
o direito da Universidade de ser preservada na sua imagem, que deve
ser límpida e exemplar.
A recomendação do prefeito aos alunos é que
nas festas a bebida seja limitada à cerveja ou a um vinho
leve. Nada contra uma taça de vinho, por exemplo, em casos
de comemoração de defesas de tese, recepção
de autoridades. Isso é prática universal nas universidades.
O que o professor não aceita mesmo é que estudantes
confundam autonomia com soberania: Autonomia é o direito
dos estudantes de se organizar, ter suas atividades culturais, políticas,
de lazer, nos seus espaços. Fui estudante, lutei por isso
e respeito isso. Mas usar a autonomia para atos ilícitos,
a Universidade não pode tolerar. Os abusos devem ser
coibidos. Messias da Costa disse que já viu convite dizendo
que dava direito a determinadas doses de vodca. É o
fim da picada, desfaçatez, escárnio com a Universidade
e com a sociedade que a sustenta uma festa de estudante privilegiado
de universidade gratuita para encher a cara às nossas custas.
Tráfego
de automóveis no Portão 1 da Cidade Universitária:
campus tem 7 quilômetros de vias, atravessadas diariamente
por 7 mil carros
Trânsito,
agora vai
Em
relação ao trânsito nos campi da USP e,
em especial, na Cidade Universitária, Messias da Costa
diz que há resistência por parte dos órgãos
responsáveis pela fiscalização. Considera
até irônico que seja o Departamento de Operação
do Sistema Viário (DSV) a falar de autonomia da Universidade,
e não mais a própria USP. Eu repito,
diz. A autonomia não deve ser usada para isso,
para desculpar infrações, crimes e ilegalidades.
É o caso típico da Cidade Universitária,
que tem 7 quilômetros de vias e é atravessada
por 7 mil veículos todo dia.
O prefeito estranha as alegações, mesmo porque
já teve várias reuniões com autoridades
municipais de trânsito e possui um termo de ajuste de
conduta assinado conjuntamente pela Prefeitura da USP, DSV
e Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), por exigência
do Ministério Público. Por esse termo, a Universidade
tinha 60 dias para implantar um sistema de fiscalização
do trânsito, mas ele não foi implantado por resistência
do DSV. Então, o que fiz?, acrescenta o
professor. Dei um passo adiante e fui buscar um parecer
do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em
Brasília. Recebi o parecer e nele está claro
que podemos e devemos firmar o convênio a fim de executar
a fiscalização. Vou esperar passar o prazo das
eleições e, se o DSV continuar com esse tipo
de resistência, vou tomar medidas uspianas. Isto é,
eu mesmo vou comprar os semáforos, os radares eletrônicos,
vou instalar aqui com apoio da PM que já está
no campus o destacamento vai sendo aumentado
e treinar parte da Guarda Universitária para isso.
Colocarei o endereço da Portaria Principal, e o sujeito
que estiver correndo, por exemplo, nesta avenida da Prefeitura,
autuo e mando a multa para o Detran. Alguma coisa vamos fazer.
Parados é que não vamos ficar.
Mas o que ainda resta fazer para que o sistema possa ser instalado?
O prefeito responde que falta educação, no
País inteiro e em particular na USP. Diz que
todo dia observa jovens, gente de meia-idade, idosos, correndo
demais, passando por meio de pedestres, invadindo faixas;
conflitos entre carros e motos, entre carros e bicicletas.
Não faltam problemas aqui dentro, inclusive colisões
horríveis como aquela da semana passada (retrasada),
quando um carro desceu a rua do Matão a 140 quilômetros
por hora e se espatifou próximo do prédio da
Administração da Filosofia, antes destruindo
cinco outros automóveis.
Na opinião do prefeito do campus, faltava uma orientação
legal. Não falta mais. A pressão que faltava
sobre a Universidade veio através do Ministério
Público. A multa para os infratores está
prevista, mas é só um detalhe. E a idéia
é que uma parte dos recursos assim arrecadados volte
para a Universidade. Dois mecanismos são possíveis:
pelo primeiro, a Universidade implanta o sistema e fica com
toda a arrecadação, servindo esses valores como
forma de ressarcimento pelos investimentos; pelo outro, divide-se
a arrecadação entre a Universidade e o DSV.
Maratonas
A Prefeitura do campus decidiu proibir a realização
de maratonas ou outros eventos com grande afluxo de
pessoas na Cidade Universitária. O motivo são
os inconvenientes e prejuízos que trazem. Um relatório
da Guarda Universitária relaciona alguns dos problemas
causados pela maratona de revezamento realizada dia 26 de
setembro, que reuniu mais de 40 mil pessoas. Entre outros,
som muito alto que incomodou os bolsistas do Crusp; estacionamento
de veículos em lugares gramados; indicação
errada de ruas e criação de mão dupla
sem sinalização correta; tumulto nos corredores
do HU; barracas de vendedores instaladas irregularmente; lixo
em profusão; professores que tinham atividades previstas
nas suas unidades ficaram sem lugar para deixar seus veículos.
Elogio mesmo só para o trabalho da CET, que, no entanto,
não foi suficiente para coibir todos os abusos.
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