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Dantas: "tendência irreversível"

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


G
raduar-se em uma universidade pública, via Internet, pode parecer, num primeiro momento, filme de ficção científica. Com as novas tecnologias de informação crescendo e se ampliando, essa realidade está cada vez mais palpável. Até 2006, a USP abrirá o primeiro curso de graduação não presencial, Licenciatura em Ciências. O objetivo é formar professores da rede pública, já em atividade, no ensino superior.

O que define um curso de educação a distância é o fato de ele ser desenvolvido via Internet, a rede mundial de computadores, tendo como característica principal a separação física entre professores e alunos, ou seja, quem ensina não precisa estar no mesmo lugar de quem aprende. O conteúdo das aulas é passado e discutido através de correio eletrônico, videoconferências, chats, fóruns e até mesmo pelo telefone.

Segundo o professor Carlos Alberto Barbosa Dantas, presidente do Grupo de Trabalho em Educação a Distância da USP, o curso pretende formar professores para atuar especificamente da 5a à 8a série, procurando trabalhar uma formação interdisciplinar. “Ainda estamos discutindo e elaborando esse curso, por isso não temos informações precisas sobre inscrição, custo, pré-requisito etc. A implementação está prevista para o início de 2006. O cronograma mostra que temos que estar com quase tudo legalmente pronto em meados de 2005 para lançá-lo no vestibular do ano seguinte.”

Esforço

Ainda em processo de discussão, a idéia é que o curso seja um projeto piloto que atenda aos alunos do curso noturno, com o intuito de minimizar o enorme esforço despendido para estudar à noite na USP. “Normalmente, os alunos do noturno trabalham o dia inteiro e levam uma ou duas horas para chegar na Cidade Universitária. Acreditamos que, nesse caso, a educação a distância vai facilitar para quem precisa se locomover por longas distâncias. O aluno vai receber todo o conteúdo do curso em casa, se tiver computador, ou num centro específico de informática, podendo trabalhar no horário definido por ele mesmo”, diz Dantas. O professor ressalta que não será uma alternativa totalmente aberta. “Haverá prazos de entrega de material de avaliação. O que facilita é que o curso não será feito em horário rígido, mas organizado pelo próprio aluno. Ele vai alocar o seu tempo de acordo com sua disponibilidade.”

Uma das preocupações de Dantas é cumprir a meta do Ministério da Educação que exige que cursos de educação a distância tenham 20% da grade curricular de aulas presenciais. “Quando se pensa num curso com essa estrutura virtual, procura-se estudar a melhor maneira para atender às necessidades existentes. Essa proposta de educação a distância, com certeza, trará uma grande democratização do ensino e a idéia é que seja um curso de nível tão bom quanto os presenciais existentes hoje na Universidade, procurando sempre manter o padrão USP”, reflete.

Outra questão ainda em discussão é a preparação do material didático, que segundo Dantas é a parte mais complicada. “Numa nova mídia, o material tem um tratamento diferente de quando se dá aula presencial, que o professor prepara, expõe oralmente e discute. A educação a distância é pura transmissão virtual. Nesse caso, é preciso pensar como acontece a recepção da aula e levar em conta que se está em outro ambiente. Isso exige muita reflexão e trabalho. Para isso, o centro terá um grupo de especialistas que vai dar assessoria para os professores prepararem os seus cursos e conteúdos.”

Para Dantas, essa nova tecnologia na área de educação oferece uma série de ferramentas para o professor ampliar o horizonte de suas aulas. “A Internet abre possibilidades muito grandes, como uma vasta bibliografia disponível em qualquer língua, fórum de debates e salas de discussão”, afirma. “Todos esses aspectos são ganhos do ponto de vista do ensino, que podem ser incorporados também no ensino presencial. Muitas vezes, no ensino presencial, o aluno inibido não faz perguntas, mas num fórum virtual ele se sente à vontade para estabelecer um mecanismo de discussão.”

A educação a distância é uma tendência “inegável e irreversível”, acredita Dantas. “Nós, professores, estaremos muito atrasados se não aprendermos esse novo caminho. Há vários alunos que já usam a Internet para as atividades acadêmicas. O papel do professor vem mudando. Ele não é mais o dono do saber, apenas um expositor do conhecimento, mas sim um orientador que auxilia o aluno nas suas descobertas.”

Passo decisivo

A USP tem uma ampla experiência em educação a distância em cursos de pós-graduação lato sensu – a chamada especialização, que não forma mestres e doutores – e de extensão universitária. Para fazer um mapeamento dessas atividades é que o reitor Adolpho José Melfi nomeou, em 2003, o grupo de trabalho dirigido por Dantas. A primeira tarefa do grupo foi conseguir o credenciamento, no Ministério da Educação, dos cursos que já estavam sendo ministrados há dez anos. Dantas ressalta que o credenciamento dos cursos lato sensu, ocorrido em março, tem validade retroativa, ou seja, todos os cursos de pós-graduação on-line da USP já em andamento e os que vierem a ser criados estão regularizados pelo MEC. Isso dá validade nacional para todos eles.

Sendo São Paulo a principal metrópole do País, é difícil entender por que ainda não possui nenhum curso de formação universitária a distância. Para Dantas, a explicação é simples. “É fácil entender por que a Universidade ainda não entrou ‘de cabeça’ no desenvolvimento da educação a distância para todos os seus cursos: somos uma universidade bastante crítica para dar um passo tão decisivo. Preferimos nos certificar qual é a direção correta a ser seguida.”

Dantas explica que existem algumas peculiaridades que precisam ser bem trabalhadas antes de inserir um sistema novo de educação. “Estamos tendo o cuidado de trocar idéias com todas as unidades e procurar uma linguagem comum. Como não havia uma centralização, cada unidade tem uma idéia diferente do que seja educação a distância eficiente”, diz.

Estrutura complexa

Ao nomear a comissão, o reitor expressou o desejo de que ela se voltasse para o desenvolvimento de cursos de graduação. A estrutura de um curso de graduação é muito complexa. Quando se pensa em educação a distância, na realidade cria-se uma estrutura paralela, que tem que estar bem entrosada, ao mesmo tempo, com a estrutura presencial vigente, diz o professor.

Dantas lembra que muito dos especialistas da Universidade alegam que educação a distância já não é uma expressão adequada para exprimir o que seja esse novo mecanismo de educação e preferem o termo “ensino distribuído” ou “ensino aberto”. “Hoje, com as facilidades de comunicação, é possível transmitir para a Amazônia ou para a Europa, simultaneamente, o mesmo conteúdo dado na sala de aula. Com isso, o conceito de distância fica relativizado”, afirma. “O que importa é ter uma tecnologia específica para transmitir e, aí sim, fazer o uso em área remotas, que não têm condições de contar com a presença dos alunos. No campus da USP, podemos usar a mesma tecnologia para transmitir de um prédio para outro. Isso é um grande avanço.”

O Grupo de Trabalho em Educação a Distância está constituído de três comissões. À primeira cabe desenvolver ferramentas de gerenciamento e produção de material para o uso na educação a distância. Já existem algumas ferramentas (programas de computador para a criação de curso a distância) desenvolvidas na USP, como é o caso do COL, da Escola Politécnica, o Panda, do Instituto de Matemática e Estatística (IME), e um programa da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), todos com a mesma finalidade. Nesse caso, a comissão tem o objetivo de unir as três idéias numa única ferramenta para ser disponibilizada para todas as unidades da USP.

Vale ressaltar que a Fapesp está financiando grupos de pesquisa que desenvolvem ferramentas de ensino a distância. “O nosso projeto está, de certa maneira, inserido na proposta da Fapesp. Há uma boa complementaridade entre todas as ferramentas desenvolvidas nas unidades. Estamos procurando sanar os conflitos e aproveitar o que é complementar”, lembra Wilson Rudgiero, professor da Escola Politécnica e coordenador da comissão.

Uma outra comissão do Grupo de Trabalho está encarregada de propor a criação de um centro de apoio às atividades de ensino a distância. “Como está surgindo um novo paradigma na educação devido às novas tecnologias, é preciso dar apoio aos docentes que queiram desenvolver cursos em educação a distância. É preciso investir numa frente de apoio para que professores com dificuldade possam contar com uma estrutura adequada.
Esse centro vai dar apoio de equipamento e orientação pedagógica. Terá webdesigner e pessoal especializado para assessorar o professor na criação do seu curso”, afirma Dantas. “Queremos agregar todos que já tenham experiências na área de ensino a distância, especialistas que desenvolvam instrumental e material didático para, depois de criado um anteprojeto, colocá-lo em discussão.” A terceira comissão está encarregada de propor o curso a distância de Licenciatura em Ciência. Ela é coordenada pelo professor José Cipolla Neto, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB).

 

 




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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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