As
conseqüências da morte do líder palestino Yasser
Arafat, aos 75 anos ocorrida no dia 11 passado , ainda
são um tanto incertas, segundo especialistas da USP. Para
o professor Peter Demant, do Departamento de História da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH)
da USP, a única certeza é que a morte dele causará
um vácuo de poder entre os palestinos, e provavelmente haverá
uma luta pelo poder.
O professor Rafael Villa, do Departamento de Ciência Política
da FFLCH, diz que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) não
teve uma renovação que pudesse produzir outras lideranças
à altura de Arafat, em boa parte por conta de impedimentos
causados por ele mesmo. Segundo os professores, a incerteza
quanto aos rumos das negociações de paz entre israelenses
e palestinos é causada principalmente pela indefinição
sobre quem será seu sucessor.
Segundo Demant, existem basicamente quatro fatores que devem ser
levados em conta nas especulações sobre o futuro da
questão palestina. O primeiro são os políticos
ligados à ANP, vários dos quais, segundo ele, são
pessoas razoáveis, que querem obter a paz com Israel.
Fazem parte desse grupo Mahmoud Abbas e Ahmed Qorei (conhecidos
também por Abu Mazen e Abu Ala, respectivamente), mas nenhum
deles possui apoio popular e institucional suficiente para controlar
a situação.
O segundo fator a ser considerado são os grupos de segurança
de Arafat, que já competiam internamente por liderança.
Porém, a influência deles é muito localizada,
e poderia acontecer de algum deles tomar o poder regionalmente,
tornando a situação ainda mais caótica.
O terceiro fator são os grupos radicais que não reconhecem
a ANP, como o Hamas, a Jihad Islâmica e a Frente Popular de
Libertação da Palestina. Esses grupos, que são
os principais responsáveis pelos atentados terroristas em
território israelense, reivindicam que sejam incluídos
nas decisões sobre os destinos da Palestina. Sobre eles,
Demant diz que até seria possível realizar um
acordo entre os palestinos, mas seria preciso incluir grupos tão
radicais que impossibilitariam as negociações com
Israel.
Além disso, há também a questão de como
Israel conduzirá sua política de assentamentos. Segundo
Demant, as recentes iniciativas de Sharon de remover assentamentos
de colonos judeus não passam de propaganda política.
As remoções estariam sendo feitas apenas na Faixa
de Gaza, onde o contingente de israelenses (cerca de 6 mil) é
muito pequeno quando comparado ao de palestinos (cerca de 1,4 milhão).
Sharon quer deixar os palestinos em sua própria sopa
de miséria e violência em Gaza para melhor consolidar
o controle israelense sobre a Cisjordânia, que tem maior significado
ideológico para Israel e onde há muito mais assentamentos,
afirma ele.
Autoridade
curinga
Demant aponta ainda uma autoridade curinga, Marwan Barghouti,
líder da Intifada e, segundo o professor, uma das únicas
pessoas que podem concretizar um acordo de paz, por conta do crédito
popular de que dispõe. Barghouti está na prisão
em Israel e, apesar de não representar as parcelas mais radicais
dos palestinos, dificilmente Sharon concederia liberdade a ele,
pois não é de seu interesse uma figura tão
forte nas negociações.
De qualquer maneira, tanto Demant quanto Villa reconhecem que as
perspectivas para a situação na região não
são muito favoráveis. Para a paz ocorrer, seria
necessário repensar as posições dos dois lados.
Ambos estão congelados em suas posições, são
nações muito cabeçudas, analisa Demant.
O problema principal é qual o limite das concessões
que palestinos e israelenses estão dispostos a fazer sobre
a questão territorial, os refugiados e a questão de
Jerusalém. Então, dependendo da flexibilidade das
negociações em torno desses pontos, um acordo de paz
terá futuro ou não, conclui Villa.
Internado no Hospital Militar Percy, em Paris, no dia 29 de outubro,
Arafat padeceu de uma doença desconhecida. Na noite de 9
de novembro (horário de Brasília), foi divulgada a
informação de que ele entrara em coma profundo, desmentindo
a notícia de que já estaria morto. Diversas informações
contraditórias foram divulgadas por fontes não-oficiais,
e ninguém tinha certeza de seu real estado de saúde,
até que, no dia 11, o hospital divulgou oficialmente a mor-te
do líder.
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