Entregue no dia 25 de novembro, o 20o Prêmio Jovem
Cientista - concedido pelo CNPq - contemplou pesquisas diretamente
voltadas para o interesse da população brasileira.
Desta vez, o prêmio teve como tema "Produção
de alimentos - Busca de soluções para a fome".
Na categoria Graduados, a vencedora foi Florência Cladera
Oliveira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, autora da
pesquisa "Produção de uma bacteriocina por uma bactéria
isolada de peixe da bacia amazônica e aplicação
como bioconservante de alimentos". Florência conseguiu identificar
uma bactéria extraída do intestino do peixe chamado
piau com pinta, capaz de produzir uma substância conhecida
como bacteriocina, que pode se tornar um bioconservante para alimentos.
Por ser de natureza protéica, traz vantagens do ponto de
vista toxicológico, em comparação com os conservantes
químicos.
Ainda na categoria Graduados, o segundo lugar foi conferido a uma
aluna de doutorado do Departamento de Engenharia Química
da Escola Politécnica da USP, Cynthia Ditchfield. Ela concorreu
com a pesquisa "Produção de purê de banana de
alta qualidade a partir de frutas rejeitadas para comercialização",
uma técnica para o aproveitamento de bananas maduras .
O terceiro lugar ficou com Priscila Nascimento Rangel, da Universidade
Federal de Goiás. Sua pesquisa, "Oryza glumaepatula: espécies
silvestres brasileiras com grande potencial para o aumento da produção
de grãos de arroz cultivado no Brasil", obteve uma nova linhagem
de arroz, capaz de fornecer duas safras consecutivas. A pesquisadora
utilizou técnicas de biotecnologia para monitorar todo o
processo. Conseguiu o aumento da variabilidade genética do
arroz, além da maior produção e a introdução
de características favoráveis, como o aumento do vigor
da planta e a capacidade de brotar novamente.
A USP conquistou o Prêmio Jovem Cientista na categoria Mérito
Institucional, prêmio destinado à instituição
de pesquisa com maior número de inscrições
e trabalhos científicos, recebendo R$ 30 mil. O CNPq concedeu
o prêmio também na categoria Estudantes, obtido por
Marcela Chiumarelli, da Universidade Estadual de Campinas (primeiro
lugar), Danielle Vieira Lima, da Universidade Federal de Viçosa,
em Minas Gerais (segundo lugar), e Pollyanna Ibrahim Silva, também
da Federal de Viçosa (terceiro lugar). O 20o Prêmio
Jovem Cientista recebeu 303 inscrições de pesquisas
de todo o Brasil - 209 na categoria Graduados e 94 na categoria
Estudantes.
Qualidade
elevada - Para o professor Franco Maria Lajolo - docente do Departamento
de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade
de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP e presidente
da comissão julgadora do 20o Prêmio Jovem Cientista
-, o tema proposto pelo CNPq gerou trabalhos de elevada qualidade.
"Foram inscritos 303 trabalhos que cobriam ampla área temática
e envolviam diferentes disciplinas e áreas do conhecimento.
Alguns foram frutos de dissertações ou teses, outros
desenvolvidos no bojo de linhas de pesquisa individuais ou institucionais
de longo prazo", comemorou.
Segundo o presidente do CNPq, professor Erney Felício Plessmann
de Camargo, os temas do prêmio são sempre de interesse
direto da população brasileira. "Foi com esse espírito
que o CNPq e seus parceiros no prêmio - Gerdau, Eletrobrás/Procel
e Fundação Roberto Marinho - decidiram convocar os
jovens cientistas brasileiros para darem suas contribuições",
explicou. "Foi visível, nas pesquisas apresentadas, a ênfase
na área da produção pelo pequeno produtor rural,
dos novos modelos agroindustriais e de tecnologia e de produtos
regionais. Mas houve também estudos de ponta, como os da
biologia molecular." Para Camargo, as pesquisas premiadas podem
ser utilizadas em todo o País, principalmente em projetos
já existentes, como o de Agricultura Familiar.
Camargo chama a atenção para o fato de que, pela primeira
vez, o prêmio foi concedido só a mulheres. O presidente
do CNPq afirma que, desde a década de 50, a mulher vem ocupando
espaços no mercado de trabalho e não poderia ser diferente
na área da pesquisa científica. No CNPq, elas representam
hoje 47% dos bolsistas, sendo que, nas grandes áreas do conhecimento,
são maioria nas ciências biológicas (58%), humanas
(61%), sociais aplicadas (53%), saúde (64%) e em lingüística,
letras e artes (67%). São minoria nas engenharias (29%),
ciências agrárias (43%) e nas ciências exatas
e da terra (35%). "Há pouco mais de duas décadas,
elas representavam cerca de 30% dos bolsistas."
O 21o Prêmio Jovem Cientista, em 2005, terá como tema
"Sangue: fluidos da vida", com vários subtemas envolvendo
pesquisas com células-tronco, doenças relacionadas
a Aids, leucemia e outras moléstias.
Cynthia: purê de banana contra o elevado
desperdício da fruta no Brasil
Um purê para evitar perda de bananas
A
pesquisa com que Cynthia Ditchfield obteve o segundo lugar
no Prêmio Jovem Cientista pode ser uma solução
para o desperdício de bananas no Brasil. Aluna de doutorado
do Departamento de Engenharia Química da Escola Politécnica
da USP, ela foi orientada pela professora Carmen Cecília
Tadini no estudo "Produção de purê de
banana de alta qualidade a partir de frutas rejeitadas para
comercialização".
Cynthia explica que a pesquisa foi dedicada ao desenvolvimento
de uma técnica para o aproveitamento de bananas maduras,
que mantivesse a cor clara da fruta depois de esquentada.
"Conseguimos obter um purê de banana da cor exata da
fruta, ao contrário do tom avermelhado da banana depois
de cozida, sem contar que o sabor também não
se altera. Esse purê pode ser consumido ou utilizado
para a confecção de pudim, bolo, iogurte, papinha
de bebê e bolacha, por exemplo."
Depois de lavadas, descascadas e trituradas, as bananas são
passadas na peneira, para a retirada das sementes, e colocadas
em um tanque. Ao purê são adicionados ácidos
orgânicos (vitamina C e ácido cítrico
em pó), que impedem o escurecimento. Ele é bombeado
para dentro de um tubo, que possui na parte exterior um sistema
de aquecimento, como se fosse uma serpentina com água
quente pressurizada. "Num dos trechos da tubulação,
depois do aquecimento o purê passa rapidamente pelo
processo de resfriamento, o que denominamos de pasteurização.
É esse processo contínuo de aquecimento e resfriamento
que mantém as características de cor
e sabor da fruta", esclarece Cynthia.
A opção pela banana se deve ao fato de haver
grande perda em sua produção no País
- segundo maior produtor mundial da fruta - e no Estado de
São Paulo, o maior produtor no Brasil.
A pesquisadora afirma que o equipamento produz 10 litros de
purê por hora, utilizando três quilos de banana
para cada litro. "Mesmo possuindo pequena capacidade, o equipamento
é versátil e pode ser encontrado em indústrias
alimentícias", diz.
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