PROCURAR POR
 NESTA EDIÇÃO
  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Com ambiente repleto de cineastas e críticos – diretores da retomada como Alain Fresnot, de Desmundo (2002) e Joel Pizzini, de 500 Almas (ainda não lançado em circuito) trocavam idéias com a cineasta e produtora do filme De Passagem (Ricardo Elias, 2003), Assunção Hernandes, e com a atriz de O bandido da luz vermelha (Rogério Sganzerla, 1968), Helena Ignez, que foi casada com Glauber Rocha, só para citar alguns –, e uma discussão que gerou muitas réplicas e se estendeu até o início da madrugada (porque foi interrompida). Esse foi o cenário do debate que aconteceu no relançamento da Revista Sinopse, acompanhado do lançamento de uma coletânea de Glauber Rocha (veja matéria a baixo).

Este mesmo ambiente dinâmico de discussão é refletido dentro das páginas da revista que, criada a partir de abril de 1999, fez uma pausa e volta agora em sua 10a edição. Publicada pelo Departamento de Cinema, Rádio e TV da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, pelo Cinusp Paulo Emílio e pela FICs (Fábrica de Idéias Cinemáticas), Sinopse retorna com novo projeto gráfico e periodicidade semestral, mas mantém a mesma linha editorial. “A revista procura fazer um balanço estético do cinema brasileiro através de uma série de artigos e, ao mesmo tempo, dar sua opinião e interferir nos debates que estão em pauta no meio cinematográfico em geral, na grande imprensa ou nos encontros entre os cineastas”, diz Ismail Xavier, professor da ECA/USP e presidente do Conselho Editorial da publicação, que mediou o debate.

Tanto no caloroso lançamento quanto nas páginas da revista, a retomada do cinema brasileiro nos últimos 10 anos é assunto principal. A Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual), a produção independente, as influências e exigências do mercado, a construção de uma cinematografia nacional forte (desejo que vem desde o início do século 20), a discussão acerca dos filmes que tratam de questões sociopolíticas ou de temas estéticos; tudo objeto de opiniões e críticas no que se tornou um verdadeiro encontro entre cineastas. E também são pauta para Sinopse, como comentou Ismail Xavier. A jornalista e crítica de cinema, Maria do Rosário Caetano, presente no evento, fez questão de frisar a importância da USP na reflexão do cinema brasileiro: “é um trabalho que vem de Paulo Emílio e que passa por Antonio Candido, por Ismail Xavier, por Jean-Claude Bernardet e chega ao grupo da revista Sinopse, que hoje, historicamente, está ocupando espaço dentro da máquina do Estado para discutir, para pensar numa política cinematográfica do País”.

Conteúdo

A revista é dividida em diversas seções. Na 1a Fila, Ismail Xavier assina um artigo onde analisa e compara diversos filmes brasileiros atuais. Coloca Orfeu (Cacá Diegues, 1999) e Cidade de Deus (Fernando Meirelles e Katia Lund, 2002) na mesma posição, pois ambos mostram a arte como fuga à violência do ambiente onde vivem: nos dois casos, a favela. Buscapé e Orfeu, assim como o personagem Pacu de Abril Despedaçado (Walter Salles, 2001) – que morre no lugar do irmão mais velho quebrando assim a ‘cadeia das vinganças’ –, são chamados por Ismail como os “humanizadores do inevitável”, expressão que dá nome ao seu artigo. As tentativas de humanização também acontecem em filmes que tratam da temática da instituição falida, como o presídio, que aparece em Carandiru (Hector Babenco, 2003) “em direção ao melodrama”, ou em O prisioneiro da grade de ferro (Paulo Sacramento, 2003) que insere as filmagens no cotidiano dos presos.

A seção Via Brasil traz o roteirista e pesquisador Newton Cannito e o jornalista Sílvio Crespo falando sobre o programa bem-sucedido DocTV (Programa de Fomento à Produção e Difusão do Documentário Brasileiro), uma política que viabilizou a produção regional de documentários e sua exibição nacional através de emissoras públicas do país. Levando em consideração este tipo de política, que ainda engatinha no Brasil, e a regulamentação que existe nos países mais desenvolvidos para fomentar as produções menores, o pesquisador Alex Patez Galvão discute a quase inexistente presença das produções independentes dentro da programação das emissoras de TV brasileiras. Estas, apesar de serem concessões públicas, limitam a programação a produções próprias. Galvão também reflete sobre a posição omissa da sociedade (que muitas vezes nem sabe do direito das produções independentes) e as possibilidades futuras de regulamentação, principalmente através da Ancinav.

Aliás, a Ancinav é tratada no editorial da revista com uma posição clara de apoio ao projeto apresentado em agosto deste ano pelo Ministério da Cultura. O editorial fala da polarização entre produtores independentes e as grandes empresas do cinema. Segundo a revista, as grandes empresas alegam intervenção estatal na área de audiovisual, e conseqüente ameaça à liberdade de expressão, pois na verdade são contra as medidas que visam a dividir os incentivos democraticamente entre as produções nacionais e não só dirigí-los a poucos eleitos. E há muito mais, como o Dossiê, com vários pontos de vista da relação entre cinema e violência ou a seção Olho Crítico sobre Lavoura arcaica, Separações e Houve uma vez dois verões, além de um ensaio sobre o documentário sociológico. “Sinopse não é uma revista acadêmica no sentido pleno da palavra, ela é uma revista a ser colocada em circulação para todo cinéfilo e todo cidadão interessado no debate cinematográfico atual. A função da Sinopse tem sido esta e este número 10 reafirma esta posição”.

A Revista Sinopse (107 páginas, R$ 10,00) pode ser encontrada em livrarias e bancas especial izadas da capital. Para outras cidades, entrar em contato com: assinaturas@revis tasinopse.org.br / (11) 3105-0695. Para conhecer mais acesse www.revistasinopse. org.br.


Revivendo o Cinema Novo

“Como a temporada estrangeira prometia ser extensa resolveu devolver o apartamento alugado. Essa operação implicava dar um destino aos seus arquivos, extensa papelada que fora acumulando ao longo dos anos.” Glauber Rocha tinha acabado de lançar o filme A idade da Terra (seu último longa), em 1980, e partia para o Festival de Veneza, para o qual fora convidado a participar. Do apartamento a ser esvaziado, os manuscritos, correspondência, entrevistas, poemas inéditos, projetos de filme contavam parte da vida do cineasta que até hoje é lembrado pela mudança radical que gerou, junto com os colegas, no cinema nacional das décadas de 60 e 70. Todo este material acabou reunido no livro Revolução do Cinema Novo, publicado em 1981, quando Glauber ainda estava vivo. Ele viria a morrer dali a três meses.

Vinte e três anos depois, a Editora CosacNaify relança o mesmo livro, Revolução do Cinema Novo (520 págs., R$ 69,00), incluindo novos textos e muitas fotos. Entre eles, um prefácio inédito escrito pelo próprio Glauber, um texto de Cacá Diegues escrito na época do cinema novo e um prefácio de Ismail Xavier que consegue retratar o contexto da renovação e a angústia que começava a assolar Glauber, sempre em busca da criação de uma cinematografia forte. Ao lado dos artigos e entrevistas do arquivo pessoal, a trajetória do cinema novo, as críticas que o cineasta faz aos colegas e as confissões sobre as figuras da vida cultural da época. Esse é o segundo livro da coleção Glauberiana que ainda terá mais três volumes, um deles, O século do cinema, previsto para o primeiro semestre de 2005.

 

ir para o topo da página


O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[EXPEDIENTE] [EMAIL]