Ciclistas no campus: por enquanto, só aos sábados,
das 5 às 14 horas
A prática de ciclismo na Cidade Universitária
continua restrita ao período das 5 às 14 horas dos
sábados, conforme determinação da Prefeitura
do campus. Isso apesar das tentativas de acordo entre o governo
estadual, as associações de ciclistas-atletas e a
Universidade, feitas ao longo da semana passada.
Até o fechamento desta edição, a Prefeitura
do campus, a Reitoria e os supervisores da Guarda Universitária
ainda não haviam recebido um documento da Secretaria de Estado
da Juventude, Esporte e Lazer apontando as propostas dos ciclistas
para regulamentar o uso e acesso ao campus. Numa reunião
na Secretaria da Juventude foram discutidas várias propostas,
com todos os interessados presentes. Quando recebermos o documento,
avaliaremos o que convém à Universidade, afirma
o prefeito Wanderley Messias da Costa.
Um pedido informal do governador Geraldo Alckmin encarregou o secretário
Lars Grael de intermediar a questão. A justificativa seria
a de que os atletas usuários do campus, não tendo
onde pedalar, acabariam se arriscando nas vias públicas e
rodovias de São Paulo. Procurados pelo Jornal da USP, o governador
e o secretário não se manifestaram a respeito.
Teremos graves acidentes ou óbitos, acredita
o empresário e preparador físico José Rubens
DElia, que, entre outros famosos, é treinador de Robert
Scheidt e Christian Fittipaldi. Já o empresário e
ex-atleta olímpico Fernando Nabuco de Abreu, que pedala na
USP há 25 anos, diz que recentemente perdeu dois amigos que
se arriscaram a treinar nas Marginais.
Para Renata Falzoni, apresentadora de programas sobre ciclismo no
canal a cabo ESPN, diretora do Night Bikers Club e usuária
do campus, pedalar nas vias públicas não é
adequado porque a cidade apresenta sérios riscos a essa prática.
Não falta só estrutura, mas educação
no trânsito e acima de tudo autoridades voltadas à
defesa do pedestre e do ciclista, afirma.
Fernando Abreu acrescenta: Vejo esse problema como uma conseqüência
da estrutura urbana. Antes a convivência era tranqüila,
pedalávamos sem conflitos. Mas agora é imenso o número
de carros e ciclistas atravessando o campus. Nos anos 80, havia
20 ou 30 ciclistas, cerca de 3 mil carros e um número menor
de alunos. Acredito que chegou a 1 mil o número de ciclistas
que freqüentavam o campus diariamente em horários distintos.
A Guarda Universitária não possui dados estatísticos
sobre a freqüência de ciclistas, mas, ao longo dos anos
em que trabalha no departamento, o coordenador Oswaldo Loula afirma
que observou o aumento dos atropelamentos e acidentes pessoais envolvendo
aqueles atletas. Acho positivo eles terem se organizado e
demonstrado interesse em apresentar propostas para regular o acesso,
porque a situação estava insuportável,
define Loula.
"Não
temos estrutura suficiente", alega a Prefeitura do campus
Missão
O prefeito Messias da Costa lembra que, em reunião no dia
3 de maio, o Conselho do Campus reiterou sua posição
por unanimidade. Ou seja, ciclistas-atletas dentro da Cidade
Universitária só aos sábados, das 5 às
14 horas, e nos dias de competições esportivas autorizadas
pela Prefeitura. A missão da Universidade é
gerar ensino, pesquisa e extensão de qualidade. A minha missão
é zelar pelo patrimônio e pela segurança da
Universidade e não cuidar de ciclistas. Não temos
estrutura nem condições para fiscalizar tudo,
diz o prefeito.
Não tiro as razões da Universidade, pois realmente
sua função é gerar conhecimento e pesquisa.
No entanto, não se pode estender o problema a todos os usuários.
Acho possível chegarmos a um termo. Minha preocupação
é com o ciclista que usa a bicicleta como meio de transporte.
Se não forem aceitos no campus, isso é passível
de queixa no Ministério Público, diz Renata
Falzoni.
Sobre as restrições impostas a ciclistas-atletas em
detrimento de veículos motorizados, Messias explica: Seria
um irrealismo atroz não permitir a circulação
de carros com os problemas de transportes coletivos que temos na
cidade. Segundo o prefeito, ainda neste semestre a Prefeitura
deverá apresentar um plano para sistematizar ou restringir
o acesso de veículos que utilizam a USP como passagem.
Cadastramento
Na reunião da Secretaria de Estado da Juventude, Esporte
e Lazer, os dirigentes das Confederações Paulista
e Brasileira de Ciclismo, Triathlon e Atletismo, entre outros interessados,
discutiram a possibilidade de criar um cadastramento para os ciclistas-atletas
e uma identificação especial facilmente visível.
Mesmo assim, essas medidas não prescindiriam de fiscalização
e não temos estrutura, diz o coordenador da Guarda
Universitária Oswaldo Loula, que participou da reunião.
Cogitaram providenciar apoio para a vigilância. A pergunta
é: como? Com PMs? Com segurança privada? Com recursos
para a Prefeitura cuidar disso?, questiona Messias.
A reativação do Velódromo da USP poderia ser
uma saída, já que o local possui infra-estrutura adequada,
como pista e banheiros, segundo sugeriram alguns participantes da
reunião. No entanto, essa proposta esbarra na questão
do financiamento da reforma do local. Sou a favor. Mas há
20 anos já se falava em reformar o Velódromo e naquela
época o custo para isso era de US$ 5 milhões,
diz Messias.
Secretaria
quer incentivar transporte sustentável
Enquanto
Paris transforma quilômetros de vias públicas
em ciclovias e 40% dos deslocamentos em Amsterdã são
feitos com bicicletas, Londres cobra pedágio para carros
nas regiões críticas do centro. As políticas
de incentivo de sistemas de transportes sustentáveis
tornaram-se tendência no mundo. Na contramão
da história, um projeto de construção
de ciclo-redes para a cidade de São Paulo continua
no papel desde 1983. Sucessivamente rejeitado pelas administrações
municipais, é possível que finalmente esse sonho
de alguns visionários comece a ser concretizado.
O secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Eduardo
Jorge, vem encabeçando desde janeiro um projeto de
implantação de uma política de incentivo
de sistemas de transportes sustentáveis na cidade de
São Paulo. Entre outras medidas e com outros órgãos
públicos, Jorge pretende construir ciclovias e ciclofaixas
em ruas ou avenidas estratégicas e criar bicicletários
em prédios públicos, terminais de ônibus
e estações de metrô.
Segundo o secretário, o Banco Mundial deverá
investir inicialmente US$ 95 mil num estudo do perfil do usuário
de bicicleta. Esse valor poderá estar liberado
até o segundo semestre. Em 2006, a previsão
é que o Banco Mundial invista até US$ 12 milhões
na política de transportes sustentáveis da cidade,
afirma.
Dos ofícios encaminhados à Prefeitura de São
Paulo, ao governo do Estado, à Companhia de Engenharia
de Tráfego (CET), à Companhia do Metropolitano
de São Paulo e outros órgãos, Eduardo
Jorge já conseguiu um vislumbre de colaboração.
Os técnicos do Metrô já estudam
esse assunto. É provável que autorizem a circulação
de bicicletas desmontadas no último vagão, em
determinados horários, diz.
Levantamento da Federação Paulista de Ciclismo,
concluído em 2000, mostrou que 250 mil paulistanos
utilizam diariamente a magrela como meio de transporte e que
para cada dois moradores existe uma bicicleta. Além
de desafogar o trânsito e melhorar a qualidade do ar,
estaremos promovendo a prática de atividade física.
Incentivo todo mundo a andar de bicicleta e eu já faço
isso desde janeiro, no trajeto de ida e volta do trabalho,
diz o secretário.
Porém, praticar esse esporte nas ruas de São
Paulo pode ser um tanto arriscado, na visão de experientes
atletas. Eu não aconselharia minha filha a sair
pedalando pela cidade, diz Marcos Mazzaron, empresário
e diretor da Federação Paulista de Ciclismo.
Se algumas regras forem respeitadas, é possível
pedalar com segurança em trajetos alternativos,
acredita Arturo Alcorta, artista plástico que pedala
nas ruas de São Paulo há 27 anos.
Idealizador dos projetos de ciclo-redes que Eduardo Jorge
vem encampando, Alcorta concorda que a falta de parques e
locais seguros para a prática do ciclismo tem pressionado
espaços que não têm como papel principal
suprir lazer aos cidadãos. Práticas como
as do Pelotão da Morte, que são grandes grupos
de ciclistas treinando velocidade, foram um dos motivos para
a freada da USP e não tiro as razões da Universidade.
A cidade precisa de mais espaços com uma topografia
privilegiada para treinamentos, diz.
Segundo o secretário Eduardo Jorge, o plano diretor
da cidade prevê, até 2012, a criação
de 190 parques lineares. Já arborizamos uma série
de parques e estamos expandindo o Parque do Trote, na Vila
Maria. Pretendemos transformar a Área de Proteção
Ambiental do Carmo em Parque Natural Permanente e, na cratera
do Parelheiros, vamos criar uma área de proteção
ambiental. Existem diversas ações no sentido
de expandir as áreas de parques e lazer, afirma.
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