O início das discussões, na Assembléia
Legislativa, sobre o veto do governador Geraldo Alckmin ao artigo
da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que aumenta
os recursos para a educação, na noite da quarta-feira
da semana passada (dia 14), foi marcado por tumulto e enfrentamentos
entre policiais militares e manifestantes que queriam acompanhar
os debates no plenário. Mais de mil pessoas, entre estudantes,
professores e funcionários das universidades estaduais e
do Centro Paula Souza que mantém as Faculdades de
Tecnologia do Estado (Fatecs) , realizaram uma passeata que
partiu do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na avenida Paulista,
e se dirigiu até a Assembléia.
Por orientação da presidência da Casa, os PMs
que faziam a segurança do prédio permitiram a entrada
de cerca de 300 pessoas, que após revista foram liberadas
em grupos de dez e se acomodaram nas galerias do plenário
Juscelino Kubitschek, o principal da Assembléia. Os demais
manifestantes ficaram do lado de fora e entraram em confronto com
a polícia ao tentar bloquear o trânsito na avenida
Pedro Álvares Cabral como forma de pressionar pela liberação
do acesso ao prédio.
A PM usou bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral
para impedir o fechamento da avenida, e o confronto se estendeu
para as ruas ao redor e na direção da avenida Brigadeiro
Luis Antônio. Os estudantes afirmam que cinco pessoas ficaram
feridas. Alguns estudantes foram autuados por dano ao patrimônio
no 78º Distrito Policial (nos Jardins) e liberados em seguida.
Silêncio
Quando a informação sobre os conflitos chegou ao plenário,
a deputada Maria Lúcia Prandi (PT), que ocupava a tribuna,
decidiu permanecer em silêncio
durante o tempo de que ainda dispunha (mais de vinte minutos), em
solidariedade aos manifestantes. Maria Lúcia era a segunda
oradora da sessão extraordinária marcada pelo presidente
da Assembléia, Rodrigo Garcia (PFL), para debater o veto.
A convocação de sessões extraordinárias
foi a saída encontrada pelo Colégio de Líderes
para colocar a matéria em discussão, pois nas sessões
normais a bancada do governo já utilizou a estratégia
de se retirar do plenário para não dar quórum
ao prosseguimento dos trabalhos.
O governador vetou o artigo 4 da LDO de 2006 aprovada na Assembléia,
que prevê aumento do repasse das verbas totais do Estado para
o ensino fundamental e médio de 30% para 31%, a vinculação
de 1% do ICMS para o Centro Paula Souza e o aumento da destinação
para as universidades estaduais de 9,57% para 10% do ICMS. Estima-se
que isso representaria cerca de R$ 300 milhões a mais anualmente
para USP, Unesp e Unicamp.
A LDO foi publicada no Diário Oficial no dia 4 de agosto
e a Assembléia tinha 30 dias para derrubar o veto. A derrubada
exige o voto de 48 dos 94 deputados. Como a matéria não
foi votada, entrou automaticamente na ordem do dia ocupava,
até a quinta-feira (15), a posição nº
180 da pauta. Para que passasse a ser o primeiro item da lista,
seria necessário aprovar uma inversão da pauta, o
que a oposição não tem conseguido.
Com a convocação da sessão extraordinária
exclusiva para o veto, teve início o prazo de doze horas
para discussão do assunto. O regimento da Casa prevê
que a matéria deve ser votada depois do esgotamento desse
prazo. Na sessão da quarta-feira, dois oradores se manifestaram
no tempo regimental de trinta minutos, e mais dois deputados se
pronunciaram na sessão extraordinária convocada para
a noite de quinta-feira (15) ou seja, transcorreram apenas
duas horas das doze estipuladas para a discussão. A outra
possibilidade para a votação da derrubada é
um acordo entre os líderes das bancadas, o que ainda não
foi alcançado. A tramitação do veto deve ser,
novamente, assunto da reunião do Colégio de Líderes
desta terça-feira (20).
Após o encerramento da sessão extraordinária
da quinta-feira à noite, cerca de 200 manifestantes que estavam
acampados desde o dia anterior nas galerias do plenário
JK deixaram a Assembléia e saíram em passeata com
outros grupos em direção à avenida Paulista.
Colégio
de Líderes
Na terça-feira (13), o Conselho de Reitores das Universidades
Estaduais Paulistas (Cruesp) e os integrantes do Fórum das
Seis, que congrega os sindicatos de docentes e funcionários
das universidades e do Centro Paula Souza, participaram da reunião
do Colégio de Líderes da Assembléia. Os objetivos
do encontro eram expor os argumentos dos representantes das instituições
aos parlamentares e buscar um acordo para votação
da matéria em plenário.
A preocupação, tanto dos dirigentes quanto dos servidores,
é que o Projeto de Lei Orçamentária Anual seja
enviado pelo Executivo à Assembléia tendo como base
o texto atual da LDO, que pela primeira vez desde a autonomia universitária,
em 1989, não define porcentual de repasse às instituições.
O prazo constitucional para a chegada da peça orçamentária
à Assembléia é o dia 30 de setembro, e os debates
em torno dela costumam estender-se até o final do ano, o
que tiraria do foco a apreciação do veto.
Se o veto for mantido, o orçamento do Estado, pela
primeira vez, começará a ser discutido sem uma vinculação
de verbas para a educação, disse na reunião
o coordenador do Fórum das Seis, professor Milton Vieira
do Prado Junior. O coordenador afirmou que há uma demanda
histórica por maiores recursos para a área e solicitou
aos líderes das bancadas a coerência desta Casa,
que aprovou a emenda (de aumento de verbas) na LDO.
O presidente do Cruesp, Marcos Macari, reitor da Unesp, lembrou
o incentivo dado pelo Executivo ao ensino superior nos últimos
anos com os novos projetos de expansão de vagas e unidades.
Esse espírito deve continuar, considerando ainda a
diferenciação de qualidade entre as universidades
estaduais paulistas e as outras instituições, públicas
e privadas, de todo o País, disse. A demanda
de professores cresceu. Como consolidar a expansão dentro
desse quadro?, perguntou.
Macari também apresentou aos parlamentares cópia de
ofício encaminhado ao governador, no qual o Cruesp pleiteia
que uma cota-parte de 9,93% do ICMS seria o patamar necessário
para a manutenção das instituições.
Os reitores defendem a adoção desse índice
em lei, para que não se precise ano a ano determinar um porcentual
na LDO, como ocorre atualmente. No encontro, o reitor da USP, Adolpho
José Melfi, foi representado pelo chefe de gabinete da Reitoria,
professor Celso de Barros Gomes.
Obstrução
Para o deputado Renato Simões, líder da bancada do
PT, que defende a derrubada do veto, a convocação
das sessões extraordinárias representa uma conquista
parcial. Não conseguimos um acordo para votação
nominal em plenário sem obstrução mas
o governo também não conseguiu evitar a discussão
específica do veto, disse. Para Simões, a
reunião do Colégio de Líderes (do dia 13) mostrou
que existe uma vontade unânime das universidades de contar
com os recursos adicionais destinados pela Assembléia.
O deputado petista lembrou que a obstrução das votações
é uma manobra regimental, porém estaria sendo utilizada
de forma ilegítima pela bancada governista. O
governo tem a maioria e precisa exercê-la, criticou.
O líder da bancada do governo, deputado Edson Aparecido (PSDB),
afirmou, por meio de sua assessoria, que não se pode
cair no maniqueísmo de apenas discutir a derrubada ou não
do veto, e que há um debate estrutural a ser
travado no momento sobre o papel das universidades públicas
na sociedade paulista. Aparecido disse que o governo já
tem repassado mais do que os 9,57% do ICMS e alertou para a excessiva
vinculação de recursos, lembrando que há destinações
fixadas em lei também para outras áreas, como a da
saúde.
O líder governista acredita que a autonomia das universidades
não as exime de informar detalhadamente a população
sobre o destino dos quase R$ 4 bilhões investidos nelas (previsão
para o ano de 2005) e reiterou que não haverá deliberação
sobre o veto enquanto não ocorrer o que chamou de discussão
mais ampla e estrutural sobre as universidades públicas de
São Paulo.
|