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om base na tripla avaliação a que a USP se submete rotineiramente – por uma comissão da Pró-Reitoria de Pós-Graduação, pela Capes e pela avaliação institucional interna recomendada pelo Conselho Estadual de Educação –, observa-se melhoria no desempenho dos programas de pós-graduação, com tendência para concentração dos programas com conceitos 5, 6 e 7, que agora representam 62% do total avaliado. De acordo com a pró-reitora Suely Vilela, isso significa que houve um deslocamento da melhoria dos conceitos para a excelência. Em termos de Brasil, 27% dos programas com conceitos 6 e 7 estão na USP.

Esses números foram comentados dia 29 de agosto, quando a Universidade reuniu, no auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, dirigentes, chefes de departamentos, diretores de unidades e professores para apresentar os primeiros resultados do segundo ciclo de avaliação institucional (2003-2005), que as universidades públicas não são obrigadas a fazer, mas, conforme ressaltou o reitor Adolpho José Melfi na abertura dos trabalhos, a USP fez questão de aderir, a fim de buscar novos critérios e reforçar a cultura da avaliação.

O presidente da Comissão Permanente de Avaliação, vice-reitor Hélio Nogueira da Cruz, informou que, dos 199 departamentos existentes, apenas três ainda não foram avaliados (por problemas internos e atraso). Cada uma das 119 comissões externas da avaliação institucional compõe-se de um assessor estrangeiro e um nacional, sendo que os do exterior vieram em sua maioria dos Estados Unidos (42), Inglaterra, Portugal, França e Itália entre outros países; os nacionais são em maior número de São Paulo (52), Rio de Janeiro (39) e Minas Gerais (21).

O vice-reitor apresentou resultados da avaliação de alguns departamentos, como os cursos de Engenharia da Escola Politécnica e da Escola de Engenharia de São Carlos; de 15 departamentos de exatas; de programas de ciências médicas e de ciências biológicas, mas nem todos os relatórios puderam ser lidos e sistematizados a tempo de serem apresentados no encontro. Esta, por sinal, foi a resposta de Hélio Nogueira à representante da Escola de Enfermagem, que protestava contra a falta de referência à sua unidade. As engenharias da USP, conforme o relato, possuem os melhores cursos do Brasil, a graduação é de boa qualidade e a evasão, pequena, verificando-se ainda bom engajamento dos professores e intensa participação de alunos em cursos no exterior.

Os avaliadores recomendaram nesse setor a modernização de laboratórios da graduação, maior indexação de revistas e intercâmbio cultural. Também os cursos da área de exatas destacam-se entre os melhores do País, existe integração razoável entre a graduação e a pós, o tempo de graduação é menor que em outros cursos. Também aí se recomenda maior internacionalização. Bom desempenho ocorre igualmente nas ciências médicas, havendo, porém, problemas de infra-estrutura em departamentos fora do complexo hospitalar. Nas ciências biológicas, dos 30 departamentos, 70% são considerados excelentes ou bons, alguns com nível internacional; uma das recomendações é que se redefinam algumas linhas de pesquisa. Mereceram elogios vários programas da área de humanas, mas eles vieram acompanhados da recomendação de que convidassem professores de renome e se fizesse melhor acompanhamento da carreira dos alunos egressos.

O objetivo final da avaliação institucional é organizar um plano para os próximos anos da USP, levando em conta propostas como a descentralização de decisões, revisão do quadro de docentes e funcionários, fortalecer os meios como informática e bibliotecas, aperfeiçoar o processo de seleção de professores e divulgar mais os trabalhos dos alunos.

Responsabilidade social

Em longo pronunciamento, José Dias Sobrinho, professor da Unicamp, que participou do primeiro ciclo de avaliação institucional na USP, destacou a responsabilidade social da universidade pública, que, segundo ele, não pode ser confundida com filantropia. “É o cumprimento das finalidades de uma instituição e o foco central da avaliação.” Produzir conhecimento é meio, disse, e o mercado não é referência principal; a referência é a sociedade. Por isso, a boa avaliação, que é um processo de comunicação, busca uma visão do conjunto, que inclua atividades-meio como as bibliotecas, os recursos tecnológicos de comunicação, a pedagogia, os currículos, procurando reforçar a capacidade de ação da universidade. Nesse contexto, o avaliador não é um juiz, mas um mediador inserido no processo de comunicação. Com relação, por exemplo, à evasão, o professor insistiu que não adianta nada conhecer números, sendo necessário procurar as causas da debandada.

Na seqüência, o professor Paulo Cesar Masiero expôs a situação da USP no tocante à estrutura de informática e perguntou por que existem situações bem diferentes nas unidades, algumas muito bem equipadas, outras com deficiências. A explicação é que em algumas unidades, como nas áreas de exatas e biológicas, os docentes incluem em seus projetos de pesquisa a previsão de recursos para computadores, e assim conseguem abastecer desses equipamentos a própria unidade, enquanto outras áreas não o fazem e a unidade fica dependente nesse assunto apenas dos recursos orçamentários destinados pela Universidade. Outra razão possível para a carência de alguns setores é a dificuldade que algumas unidades ou chefias têm de lidar com informática, ou ainda o hábito de usar os recursos de manutenção em outras finalidades. De qualquer forma, Masiero disse que a aquisição imediata de 3 mil microcomputadores, a um custo aproximado de R$ 19 mil, aliviaria bem a situação.

Adriana Ferrari, do Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi), relatou a boa posição das bibliotecas da USP, que somam 6 milhões e 500 mil itens, entre livros, periódicos, mapas e partituras, e têm freqüência anual superior a 3 milhões de usuários internos e de 250 mil da comunidade externa. Entre as deficiências citadas na avaliação estão o pequeno número de exemplares dos livros do acervo, a dificuldade de conseguir cópia e espaço físico reduzido.

USP Leste

A pró-reitora de Graduação, professora Sonia Penin, disse que a avaliação é sempre acompanhada de um planejamento de metas e a reestruturação obedece a um projeto pedagógico. Entre as citações favoráveis dos avaliadores estão os novos cursos, os cursos interunidades, programas de recepção aos calouros, salas pró-aluno, programas de aperfeiçoamento de docentes, o ciclo básico (USP Leste e alguns cursos de engenharia), a inserção internacional e o incentivo à iniciação científica.

Foram também citadas favoravelmente as tutorias, a criação da comissão permanente de licenciatura e a produção de material didático. Algumas dificuldades detectadas na graduação decorrem, segundo a pró-reitora, da estrutura departamental da Universidade. Isso especialmente em relação a alguns cursos mal definidos quanto aos departamentos a que se prendem, deixando o aluno sem referência; a currículos “engessados”, com muitas disciplinas obrigatórias e poucas optativas; e algumas vezes à falta de verbas orçamentárias. O exemplo da USP Leste, autorizada pelo Conselho Universitário a organizar sua estrutura didática de forma não necessariamente departamental, pode levar a inovações em outros setores.

Pós-graduação

De acordo com Suely Vilela, o fato de um número cada vez maior de programas de pós-graduação se aproximar do nível de excelência deve-se basicamente à política adotada pelas comissões da Pós-Graduação e das unidades, associada ao esforço da Reitoria, que criou projetos específicos visando ao aperfeiçoamento acadêmico dos programas e sua internacionalização. “O reflexo da ação articulada das unidades com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação, inclusive com apoio financeiro e de infra-estrutura, possibilitou esse resultado altamente positivo”, disse Suely. Segundo ela, olhando a pós-graduação da USP a partir de 1998, verifica-se que em 2001 houve crescimento dos programas de conceito 3 e 4, mas em 2004 ocorreu diminuição significativa desses programas e aumento dos conceitos 5, 6 e 7.

São conceitos atribuídos pela Capes, mas paralelamente foi criada uma comissão de avaliação da Pró-Reitoria da Pós-Graduação para acompanhar os projetos e metas acadêmicas de cada programa. Estes elaboraram seus planos com base no diagnóstico da Capes. Graças à discussão com cada programa e com cada um dos seus coordenadores, e ao apoio financeiro institucional, foi possível, segundo Suely, a melhoria no desempenho. A comissão interna da Pró-Reitoria e a externa institucional, ao contrário da Capes, não dão notas nem fazem um ranking dos programas. “Se considerarmos os três mecanismos de avaliação, veremos que a comissão externa da avaliação institucional tem uma visão macro da pós-graduação, que é extremamente positiva”, assegura a pró-reitora. No entanto, há uma crítica persistente em relação à falta de integração entre graduandos e pós-graduandos, entre departamentos, entre docentes e alunos e entre a pós-graduação e as unidades. A professora lembra que maior integração está sendo cobrada tanto pelas comissões de avaliação como pelos próprios alunos. Trata-se de um ponto não contemplado na avaliação da Capes, mas complementado pela avaliação institucional. O mais interessante, destaca Suely, é que há uma convergência na tripla avaliação, sendo que todos os avaliadores recomendam a internacionalização dos cursos.


O encontro na FAU: 27% dos programas de pós-graduação com mais alto conceito estão na USP

Táticas e estratégias

Também o pró-reitor de Pesquisa, Luiz Nunes de Oliveira, insistiu na necessidade de planejamento, do qual a avaliação é apenas parte. E o planejamento sistemático teve início, segundo ele, em 2003, quando os departamentos e as unidades discutiram seus projetos. O planejamento deve ser feito em três níveis: na Universidade, na unidade e no departamento. E ainda nos grupos de pesquisa.

As comissões de avaliação externa, disse Nunes, são compostas de pessoas altamente capazes e em condições de apresentar sugestões valiosas para o planejamento. No segundo ciclo da avaliação institucional, eles não se limitaram a apresentar um diagnóstico dos programas, mas sugeriram opções para melhorar. Nesse aspecto, a pesquisa está numa posição especial e recebeu dos avaliadores externos contribuições em relação a questões estratégicas e táticas.

Para apresentar uma visão global dessas sugestões, úteis para o planejamento, Nunes dividiu os relatórios sobre 162 departamentos em três grupos: humanidades (30), ciências experimentais (60) e tecnologia e saúde (72). Em alguns casos, os avaliadores limitaram-se a fazer uma simples avaliação; em outros, aparecem sugestões táticas (por exemplo, mais publicações); por último, há propostas de táticas e estratégias. Nas humanidades, tudo indica que os rumos dos departamentos já estão bem definidos, não havendo razão para alterações estratégicas, bastando algumas mudanças táticas; nas experimentais e tecnológicas, encontra-se grande número de recomendações estratégicas, havendo necessidade de redefinir prioridades e até repensar departamentos.

Novas táticas são necessárias para enriquecer o ambiente científico, especialmente mediante a internacionalização, a abertura das mentes dos estudantes (“para que saiam com cabeça maior do que entraram”) e maior número de publicações internacionais. Segundo o pró-reitor, um avaliador externo chegou a perguntar como é possível que, num mesmo departamento, se encontrem dois pesquisadores de nível muito diferente, um que poderia trabalhar em qualquer universidade do mundo, outro muito fraco.

Outras contribuições que o pró-reitor considera valiosas dizem respeito a novas fontes de inspiração para pesquisa, melhor planejamento pelas comissões de pesquisa e busca de uma produção mais uniforme no departamento, o que indicaria uma evolução sustentável da pesquisa.

 

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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