Na quarta-feira da semana passada, dia 28, encerrou-se
um round na luta por mais recursos para a educação
pública e para as universidades estaduais de São Paulo.
A Assembléia Legislativa finalmente votou a derrubada do
veto do governador Geraldo Alckmin ao artigo 4 da Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO), aprovada em julho na Assembléia,
que previa aumento dos recursos do Estado para o ensino fundamental
e médio de 30% para 31%, aumento da cota-parte do ICMS destinada
às universidades de 9,57% para 10% e vinculação
de 1% da cota-parte do ICMS para o Centro Paula Souza, que mantém
as Faculdades de Tecnologia (Fatecs) e as Escolas Técnicas
do Estado (ETEs). Em votação simbólica das
bancadas, o veto foi mantido.
Desde a publicação do veto, no início de agosto,
as entidades ligadas ao ensino superior travaram uma verdadeira
batalha na tentativa de derrubá-lo na Assembléia.
Para a derrubada, era necessário o voto de 48 dos 94 deputados,
número que os partidos de oposição avaliavam
não ter como alcançar. Muitas manobras regimentais
foram utilizadas no parlamento para que a matéria não
fosse a votação, enquanto as bancadas do governo e
da oposição tentavam costurar um acordo que não
levasse a um embate em plenário. Representantes das entidades
de docentes e funcionários organizaram várias manifestações
na Assembléia e estiveram com os reitores da USP, Unesp e
Unicamp numa reunião com o Colégio de Líderes,
no dia 13, quando mais uma vez reivindicaram a importância
da vinculação de recursos na LDO para as universidades.
O fator tempo era crucial para as negociações, porque
o Executivo tinha prazo até o final de setembro para enviar
à Assembléia o projeto da Lei Orçamentária,
no qual estão expressos os valores, a partir das previsões
de arrecadação do Estado, que a LDO estipula em porcentuais.
Na terça-feira da semana passada, dia 27, o secretário
estadual João Carlos Meirelles reuniu-se com as lideranças
partidárias para apresentar uma proposta formatada pelos
técnicos da sua secretaria de Ciência e Tecnologia
e também da Secretaria de Planejamento, a partir de
debates com o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas
(Cruesp). Pela proposta, o governo se compromete a aumentar os valores
repassados às universidades, no orçamento de 2006,
para o equivalente a 9,67% do ICMS (aproximadamente R$ 40 milhões
a mais, tomando por base a arrecadação deste ano),
chegando progressivamente a 9,92% até 2009. Ao mesmo tempo,
o Executivo anunciou que enviaria ao Legislativo a peça orçamentária
de 2006 na quinta-feira, dia 29.
Durante toda a quarta-feira, os líderes procuraram formas
de encerrar a discussão sobre o veto e partir para o novo
round da luta: a discussão dos valores no orçamento.
A oposição não tem maioria para impor
uma derrota ao governo. Então estamos procurando montar um
pacote de propostas que possa representar uma saída para
o impasse, disse no início da tarde o líder
do PC do B, deputado Nivaldo Santana.
O acordo só foi alcançado no final da tarde, quando
os líderes concordaram em colocar o veto em votação
simbólica em sessão extraordinária à
noite. Rejeitada a derrubada, teve início o novo capítulo
na discussão do financiamento da educação:
como parte do acordo entre os deputados, além do aumento
de verbas o governo se comprometeu a enviar à Assembléia
um novo projeto estabelecendo um porcentual definitivo para as universidades,
o que evitaria que essa discussão tivesse que ser travada
ano a ano na LDO. No entanto, ainda falta encontrar uma fórmula
jurídica que permita a sua adoção.
Vinculação
É a primeira vez, desde a implantação
da autonomia universitária, em 1989, que a LDO deixa de estabelecer
um porcentual para as universidades públicas. Entendemos
que esse acordo não foi o melhor caminho, pois o governo
impôs uma grande derrota à autonomia, afirma
o líder do PT, deputado Renato Simões. Agora
vamos procurar corrigir os problemas decorrentes desse veto, seja
no projeto que o governo ficou de encaminhar, seja na discussão
da Lei Orçamentária. Um dos caminhos que a oposição
pode tomar, conforme aventou o presidente da Comissão de
Finanças e Orçamento, deputado Caldini Crespo (PFL),
seria a reapresentação de emendas estipulando valores
no orçamento que atinjam os 10% do ICMS aprovados na LDO
e vetados pelo governador. O projeto da Lei Orçamentária,
encaminhado pelo governo no dia 29, permanece em debate na Assembléia
até o final do ano.
Para o professor Milton Vieira do Prado Júnior, coordenador
do Fórum das Seis que reúne os sindicatos de
docentes e professores da USP, Unesp, Unicamp e Centro Paula Souza
, a manutenção do veto representa uma derrota
para o ensino superior. O ponto principal é que o orçamento,
na prática, não traz a vinculação que
garantiria a execução dos recursos, diz. É
uma derrota, mas nós vamos continuar a luta pelo aumento
de recursos para as universidades, seja na Lei Orçamentária
agora, seja com projeto ou na LDO ano que vem, sempre buscando a
vinculação.
O líder do governo na Assembléia, deputado Edson Aparecido
(PSDB), afirma que o Executivo está comprometido com a manutenção
da expansão física e de vagas no ensino superior e
também com a efetiva execução do orçamento
apresentado. A não-execução não
aconteceu nos últimos anos e não vai acontecer no
próximo, diz. O orçamento destina R$ 18 milhões,
à parte dos 9,67%, para continuidade das obras da USP Leste.
Aparecido defende que não é possível aumentar
o grau de vinculação de recursos no orçamento,
mesma argumentação apresentada pelo governador Alckmin
na justificativa do veto. Aumentar a vinculação
poderia comprometer programas do governo em outras áreas,
disse o governador.
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