Torna-se
necessário apresentar um pequeno histórico de Gaza,
assunto batido e rebatido pela imprensa e, no entanto, pouco descrito
e estudado. Gaza é uma das cidades mais antigas do Oriente
Médio, situada na estreita faixa de planície de mesmo
nome, distante 15 quilômetros do mar Mediterrâneo, no
extremo sul de Israel. Em tempos mais remotos, antes da era
cristã, servia como principal base para as operações
egípcias em Canaã, até a conquista desta pelos
israelitas, quando Gaza foi incluída na tribo de Judá.
No século 12 antes da era cristã, foi ocupada pelos
filisteus, povo navegador e guerreiro. Gaza, que no início
foi vista como uma guarnição de soldados egípcios,
tornou-se depois a mais importante cidade dos filisteus, a Pentápolis.
Foi em Gaza que Sansão demonstrou sua força espetacular
e foi lá que pereceu na luta com os inimigos, no templo de
Dagon. Com o enfraquecimento do apoio egípcio, os filisteus
submeteram-se ao rei Davi, mas logo Gaza foi conquistada pela Assíria.
Depois de uma luta ferrenha, os persas sitiaram a cidade e esta
tornou-se uma importante fortaleza, chamada Kadity por Heródoto
(na língua persa, Gaza quer dizer pequena moeda de
cobre).
Por sua terra fértil, famosos vinhedos, frutas abundantes,
trigais e a favorável situação geográfica,
servindo como rota para caravanas que se ocupavam da troca
de produtos, Gaza foi cobiçada por muitos povos, pois deve-se
aqui lembrar que naquele tempo não havia aviação
nem outros meios de transporte automotivos. Tudo era carregado nos
lombos dos camelos. Na época helenística, em torno
de 330 antes da era cristã, Gaza foi a única cidade
de Eretz Israel cujos habitantes opuseram-se à influência
de Alexandre, o Grande, que por sua vez sitiou a cidade e vendeu
seus habitantes como escravos.
Ao longo de toda sua história, Gaza foi conquistada, reconstruída
e abandonada. Foi cobiçada pelos gregos, que faziam incursões
constantes na Eretz Israel. Na história de conquistas da
cidade, encontram-se nomes como os de Jonathas, Hasmoneu, Pompeu,
Gabinius e Herodes. Gaza chegou a abranger extensos territórios
e até possuir seu porto Maiumas.
Sob o domínio romano, na era cristã, Gaza novamente
prosperou e chegou a ter uma famosa escola de retórica. Seus
habitantes foram fanaticamente devotados ao deus Marnas. Mesmo a
cidade estando sob domínio cristão, somente no século
5 o templo de Marnas foi destruído e, em lugar dele, erguida
uma igreja e a religião cristã tornou-se dominante.
Embora os judeus habitassem Gaza, já nos tempos talmúdicos
a cidade não foi considerada como parte da Terra Santa.
O Novo Testamento refere-se a Gaza como cidade-deserto, porque nas
épocas de abandono as grandes dunas cobriam a cidade,
chegando a diminuir o seu tamanho. Grande devastação
provocaram nela as Cruzadas dos séculos 11 e 12 da nossa
era, e a cidade foi completamente abandonada até pela
próspera comunidade judaica, massacrada pelos cruzados. Depois
do século 14, Gaza caiu em esquecimento, por terem
sido descobertas novas rotas de comércio com as Índias
Orientais, graças ao desenvolvimento da navegação.
Com a Inquisição portuguesa e espanhola, os
judeus afluíram a Gaza, e durante os séculos 16 e
17 foram os judeus e samaritanos os maiores produtores dos melhores
vinhos. A prosperidade não decresceu com a conquista otomana,
bem ao contrário: floresceu mais ainda, enquanto os
árabes, judeus e cristãos viviam em paz. Em 1665,
visitou Gaza o falso messias judaico Sabbatai Zwi, e a cidade se
tornou centro de movimento messiânico. Um de seus principais
discípulos ficou conhecido como o Natan de Gaza. Até
Napoleão ocupou Gaza, em 1799, por um curto tempo. Os judeus,
nessa época, entre outras atividades, comerciavam a cevada,
que exportavam para as cervejarias da Europa.
Durante a Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918), Gaza foi uma
fortaleza turca, que resistiu a dois ataques ingleses em 1916 e
outro em 1917, caindo finalmente sob as manobras do general inglês Allenby.
Sob o domínio inglês, Gaza desenvolveu-se muito devagar.
Em razão dos distúrbios árabes antijudaicos,
em 1929, os judeus abandonaram a cidade, que permaneceu sob
administração egípcia, como única parte
do território do anterior protetorado inglês.
Depois da repartição pela ONU, em 1948, das terras
da região em dois países, uma parte para os
israelenses e outra para os árabes palestinos, os israelenses
anunciaram, com grande euforia, sob a chefia de Ben Gurion, o Estado
de Israel. A enraizada cultura de ódio contra o judeu venceu
a razão e o Egito, a Síria e a Jordânia atacaram
o recém-formado Estado, prometendo aos fugitivos árabes
de lá que eles voltariam com o exército vencedor,
depois de ter afundado os israelitas no mar Mediterrâneo.
Isso não ocorreu e os israelitas, apesar de muitas perdas, saíram
vencedores dessa guerra desigual.
No Tratado de Armistício entre Egito e Israel, em 1949, Gaza
ficou sob administração do Egito, mas nunca foi incorporada
ao território egípcio propriamente dito. Os árabes,
fugitivos de Israel, aglomeraram-se em Gaza, em campos de refugiados,
quadruplicando o número da população e com
isso cresceram a miséria, o desemprego e o cultivo do ódio
contra o judeu, incentivado por seus governadores corruptos.
A ONU ficou encarregada de cuidar das fronteiras entre o Estado
de Israel e seus vizinhos, mas não conseguiu impedir
os ataques terroristas aos civis israelenses. Em junho de 1967,
o general egípcio Nasser pediu que a ONU retirasse seus soldados
das fronteiras, planejando, com a Síria e a Jordânia,
atacar novamente o Estado de Israel. Eles incentivaram os árabes
de Israel a fugir e aguardar fora de Israel até que
os três exércitos vencedores afundassem os israelenses
no mar Mediterrâneo.
Porém aconteceu diferente: os israelenses destruíram
a aviação egípcia nos aeroportos antes que
esta levantasse vôo, expulsando os exércitos
egípcios de Gaza e da Península do Sinai, os jordanianos
da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental e os sírios
das Colinas de Golan. E isso em apenas seis dias. Essa espetacular
vitória passou a ser chamada de Guerra dos Seis Dias.
Os anos se passaram e a população de Gaza cresceu
muito. Israel implantou ali muitos melhoramentos na agricultura,
na irrigação e na iluminação e incentivou
novos imigrantes judeus a se estabelecer nas terras férteis
de Gaza, incentivos esses feitos pelo mesmo Ariel Sharon, o atual
primeiro-ministro de Israel, formando com o tempo 21 assentamentos
modernos e prósperos, nos quais acharam emprego 50 mil árabes.
Parece que a história do destino de Gaza continua a se repetir:
o primeiro-ministro de Israel, o mesmo que incentivou, há
30 anos, os assentamentos judaicos, chegou à conclusão
de que seria mais vantajoso para Israel tirar de Gaza os assentamentos
judaicos do que sacrificar jovens soldados em defesa deles, contra
os terroristas assassinos e talvez, dessa maneira, incentivar a
paz.
O mundo inteiro assistiu, estarrecido, à tristeza dos colonos
judeus, que tiveram que abandonar suas casas, construídas
com tanto carinho ao longo de 30 anos, entre os pomares, campos
e jardins. Os religiosos sofreram mais ainda, pois acreditaram
que as terras que cultivaram com tanto amor, onde criaram seus filhos,
foram-lhes doadas pela força divina.
Jamais na história um povo entregou tantas terras ao inimigo
que lhe declarou guerra e isso com a mera esperança de
acabar com a morte inocente de ambos os lados e concluir a paz com
os vizinhos. Israel ofereceu terras a Gaza com muito sacrifício
em nome da paz, e essa devolução não foi a
primeira que fez. Em 1973, depois da guerra do Sinai e a visita
de paz a Jerusalém do esclarecido primeiro-ministro egípcio
Anwar Sadat, foi entregue ao Egito, por um tratado de paz, a Península
do Sinai e a cidade de Sharm el Sheik, com jazidas de petróleo
nas suas proximidades.
Felizmente, estão surgindo cada vez mais vozes de muçulmanos
esclarecidos, que se negam a permitir que os valores do islã
sejam pervertidos pela ideologia da Jihad. Eles dão-se conta
de que, desde o surgimento do Estado de Israel, várias gerações
de jovens árabes podem freqüentar e se formar nas universidades
israelenses, com o que nem poderiam sonhar antes. Estes bem sabem
que a cultura do ódio, incentivada com mentiras sobre
judeus já nas cartilhas de escolas primárias árabes,
é destrutiva.
Os árabes esclarecidos, cada vez em maior número,
trazem a esperança de que, num esforço comum, pode
ser alcançada a reconciliação entre homens
e mulheres árabes e israelenses, substituindo a destrutiva
cultura do ódio pela construtiva cultura da amizade, da paz
e da prosperidade. Resta dizer amém.
Bella
Herson é historiadora, autora de Cristãos-novos e
seus descendentes na medicina brasileira (Edusp)
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