O Estado de São Paulo já conta com um
Sistema de Parques Tecnológicos, cuja criação
se deu com a assinatura de um decreto pelo governador Geraldo Alckmin
em solenidade realizada na sede da Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) no dia
6 passado. No mesmo evento, que lotou o auditório da Fapesp,
o governador assinou o projeto da Lei Paulista de Inovação,
encaminhado à Assembléia Legislativa. O decreto institui
a criação de cinco parques tecnológicos com
perfis específicos em cada região: pesquisa aeronáutica
em São José dos Campos; nanotecnologia na Grande São
Paulo; tecnologia da informação e comunicação
em Campinas; produtos químicos em São Carlos; e equipamentos
médicos e hospitalares em Ribeirão Preto. Em todas
as cidades haverá forte participação das universidades
paulistas no processo, e também por essa razão a reitora
da USP, Suely Vilela, e os reitores da Unicamp, José Tadeu
Jorge, e da Unesp, Marcos Macari, participaram da cerimônia.
Os cinco parques terão o objetivo de promover o desenvolvimento
econômico e a geração de emprego e renda em
suas respectivas regiões. Cada parque procurará configurar
um ambiente propício à realização de
atividades de pesquisa e de desenvolvimento por empresas, em parceria
com entidades públicas. Acreditamos que esse projeto
será um marco para que nessas cidades se criem pólos
de convergência de interesses, infra-estrutura e financiamento
para que se fomente a inovação de que o Brasil tanto
precisa, diz o astrofísico João Steiner, diretor
do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, um dos coordenadores
do projeto dos parques. Esse é um dos grandes gargalos
para que a economia tenha crescimento e para que a geração
de conhecimento também gere riqueza. Os parques têm
sido em várias partes do mundo um instrumento bem-sucedido
nessa direção, e acreditamos que no Brasil possa ser
assim também.
Segundo o economista Carlos Américo Pacheco, professor do
Instituto de Economia da Unicamp e que também esteve na coordenação
do projeto, o governo estadual destinará R$ 11 milhões
para os parques neste ano. Em São Paulo e Ribeirão
Preto os recursos serão usados na elaboração
de estudos de viabilidade. Nas outras três cidades, onde a
fase de estudos já foi concluída, os recursos serão
destinados para infra-estrutura, com média de R$ 3 milhões
para cada uma. Estamos negociando a realização
dos convênios com as Prefeituras de Campinas, São José
dos Campos e São Carlos, diz Pacheco. Nos próximos
meses será feita a seleção de gestores profissionais,
cuja tarefa será atrair investidores e cuidar da infra-estrutura
do núcleo central dos parques. Escolhidos os gestores, a
idéia é concluir ainda neste ano a construção
do núcleo central para estas últimas três cidades.
Para Suely Vilela, o papel das universidades no processo será
o de transferir, através da parceria com as empresas, o conhecimento
produzido para gerar a inovação ou seja, agregar
inovação ao conhecimento produzido dentro da Universidade,
define a reitora da USP. O pró-reitor de Cultura e Extensão
Universitária, Sedi Hirano, e a pró-reitora de Pesquisa
da USP, Mayana Zatz, também participaram da solenidade.
Soberania
O governador Geraldo Alckmin afirmou que os mecanismos fornecidos
pela Lei de Inovação e pelo Sistema de Parques Tecnológicos
darão um impulso inédito na pesquisa e inovação
no Estado. Entre os avanços citados por Alckmin estão
a criação de um sistema para disciplinar juridicamente
as formas de estímulo à inovação e propiciar
meios para a interação empresa-universidade; a extensão
do conceito de organização social a entidades sem
fins lucrativos voltadas à ciência e tecnologia; a
participação do pesquisador estadual nos ganhos da
exploração de sua invenção ou autoria;
e a autorização para que o Estado participe diretamente
no investimento de capital em parcerias para inovação
tecnológica.
O governador ressaltou o papel das universidades públicas
paulistas, elogiando as suas iniciativas de expansão, como
a USP Leste, e afirmou que não há soberania
nacional sem investimento forte em educação, ciência
e tecnologia. Diminuir a pobreza e melhorar a vida da
população passa pelo avanço científico,
pela inovação tecnológica e pela competitividade,
disse. Alckmin citou ainda o sociólogo italiano Norberto
Bobbio, para quem o mundo primeiro se dividia entre fortes e fracos
do ponto de vista militar; depois, entre ricos e pobres do ponto
de vista econômico, e agora se divide entre aqueles
que sabem e os que não sabem.
O projeto de lei difere em alguns pontos da Lei Nacional de Inovação
Tecnológica sancionada pelo governo federal. Em relação
ao principal deles a autorização que o Estado
terá para participar como investidor de capital em projetos
que o Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia (Concite)
julgar importantes , os recursos sairão de um fundo
a ser criado quando a lei for aprovada na Assembléia. Uma
das formas pelas quais esse aporte poderá ser feito é
a participação do governo como cotista de fundos mútuos
de investimento com registro na Comissão de Valores Mobiliários
(CVM). Outra novidade estabelece que o pesquisador ligado a órgão
público se licencie por até quatro anos, sem receber
vencimentos, para constituir empresa ou colaborar com a iniciativa
privada, explorando economicamente sua criação.
Para o secretário estadual de Ciência e Tecnologia,
João Carlos de Souza Meirelles, existem várias experiências
de sucesso no exterior que mostram a viabilidade da sociedade entre
Estado e empresas como forma de promover o desenvolvimento tecnológico.
A Microsoft não teria surgido nos Estados Unidos se
não fosse isso, diz. No caso paulista, o secretário
afirma que os investimentos não serão vultosos. Será
uma aplicação emblemática. Por exemplo: R$
500 mil num projeto, R$ 1 milhão em outro e assim por diante.
Segundo Meirelles, os parques já começarão
a parceria com a iniciativa privada desde sua construção,
pois eles serão empreendimentos imobiliários de grandes
dimensões.
Alckmin
na Fapesp: Não há soberania sem investimento
em educação
Desafios
O presidente da Fapesp, Carlos Vogt, lembrou que a criação
do Sistema de Parques Tecnológicos é uma iniciativa
de longa história, que agora caminha para sua realização.
Para Vogt, é um gesto de pioneirismo do governo, que
dá conta de um dos maiores desafios do conhecimento contemporâneo:
como transformar conhecimento em riqueza, agregando valor econômico
e social? A resposta é aparentemente simples e está
no caminho da inovação, mas isso requer um grande
esforço dos atores envolvidos governo, universidades,
agências de fomento e iniciativa privada.
O diretor-científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito
Cruz, acredita que tanto o decreto dos Parques Tecnológicos
quanto a Lei de Inovação respondem a dois desafios
da ciência contemporânea no País: um é
aproximar as instituições públicas e privadas,
o outro é levar a pesquisa e o desenvolvimento para as empresas.
Não é suficiente interagir com as universidades.
As empresas precisam ter pesquisadores. Não se trata de que
elas não queiram: as condições vigentes é
que não o favorecem. Brito Cruz prevê que, com
as novas medidas, o Estado de São Paulo poderá saltar
para outro patamar de competitividade internacional.
O projeto de lei encaminhado à Assembléia é
fruto de um ano e meio de discussões realizadas por vários
segmentos, como universidades e outras instituições
públicas e privadas, e agora segue para tramitação
normal no Legislativo. Para a deputada Célia Leão
(PSDB), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia
da Assembléia, o clima de disputa eleitoral de 2006 não
deverá atrapalhar a apreciação do texto. Estou
muito tranqüila. É uma temática muito importante
para o Estado e terá que tramitar e ser apreciada ainda este
ano, mesmo com a chegada das campanhas, acredita.
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