Fornecer subsídios para a compreensão dos
processos históricos que levaram à formação
da nação e do Estado brasileiro ao longo do século
19. Esse é um dos objetivos de Independência: História
e Historiografia (Editora Hucitec). Organizada por István
Jancsó, professor do Departamento de História da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e diretor
do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), ambos da USP, a obra
se divide em 27 artigos de diferentes autores, os quais têm
se dedicado a pesquisas de diversos aspectos e questões vinculados
à temática. Resultado dos debates ocorridos ao longo
do Seminário Internacional Independência do Brasil:
História e Historiografia, realizado em setembro de
2003, na USP, o livro faz parte da Coleção Estudos
Históricos (formada por mais 59 volumes), dirigida por Fernando
Novais e Jancsó, e teve apoio da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O organizador optou por estruturar a obra em cinco seções,
além de um prólogo e um artigo, intitulado Independência,
Independências, onde ele analisa o processo de instalação
de uma sociedade espelhada no modelo português, um mosaico
de formações sociais regionais vinculadas, por diversas
formas, a Lisboa, responsável pelo comando do processo de
colonização desde seu início, estabelecendo-o
de acordo com seus interesses e conseguindo, apesar da imensidão
dos novos territórios, manter a unidade do Império
Colonial Português. Todos os caminhos do universo português
centravam-se em Lisboa, em conformidade com os trâmites do
ordenamento formal do Estado, norma extensiva às suas dependências
americanas, onde a incorporação de novos territórios
ao controle efetivo da Coroa, e ao seu conseqüente manejo econômico
e político, correspondia o fortalecimento de centros de convergência
com feição de pólos articuladores dos múltiplos
espaços sociais criados (...), escreveu Jancsó.
Dentro desse contexto, o historiador analisa como é que,
progressivamente, os conquistadores-colonizadores portugueses foram
se convertendo em colonos, o que gerou uma série de relações
sociais inéditas, incluídas em um lento mas contínuo
nascimento de uma nova civilização.
A primeira seção, Historiografia da Independência,
traz dois artigos que, de certa forma, se complementam. O primeiro,
da autoria de Wilma Peres Costa, traça um panorama de como
nossa Independência foi retratada pela produção
historiográfica brasileira, enquanto o segundo, de Hendrik
Kraay, faz o inverso, mostrando a visão estrangeira (européia
e norte-americana) sobre o mesmo processo histórico. Em Independência
e Abrangências Imperiais, três textos abordam os antecedentes
dos processos de independência brasileiro e hispano-americano
e o início da formação de novas unidades nacionais
enquanto em A Independência nas Partes do Brasil traz artigos
dedicados à análise dos acontecimentos históricos
anteriores e posteriores à Independência brasileira,
mostrando que o processo não ocorreu de forma homogênea,
assim como a integração de algumas províncias,
entre elas o Pará e a Bahia, ao Império, não
foi algo fácil ou desprovido de conflitos entre grupos que
formulavam diferentes projetos de futuro.
Instrumentos da Política, quarta seção, reúne
artigos que recuperam a importância de jornais e livros europeus
na formação intelectual dos membros da elite brasileira
favoráveis à Independência e nas mensagens publicadas
pelos primeiros jornais nacionais, Correio Braziliense, Revérbero
Constitucional Fluminense e Gazeta do Rio, favoráveis a uma
independência enquanto sinônimo de autonomia e liberdade
constitucional e comercial, e não de separação
entre Brasil e Portugal. Traz também um texto sobre os panfletos
e suas mensagens a favor da independência, o papel da Maçonaria
e as bases institucionais e de poder que permitiram a construção
da unidade nacional. E a última parte, Idéias e Interesses,
a mais heterogênea, com artigos que analisam desde o período
em que o Uruguai (Província Cisplatina) esteve sob domínio
da Coroa portuguesa, passando pelos discursos dos defensores da
reunificação com Portugal até algumas das revoltas
de escravos ocorridas no início da Independência e
lideradas, muitas vezes, por ex-escravos, homens livres e com experiências
que transcendiam a senzala, em prol do fim da escravidão,
o que viria a acontecer bem mais tarde, no final do século
19. Enfim, a coletânea é leitura fundamental para os
pesquisadores do tema e interessados em geral.
Independência:
História e Historiografia (Editora Hucitec, 934 páginas,
R$ 120,00),organizado por István Jancsó.
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