A FEA aos 60 anos: uma longa trajetória
de ensino e pesquisa
A
Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade (FEA) da USP completa em 2006 exatos 60 anos de existência.
Para comemorar a data, será realizada uma série de
eventos ao longo deste ano. A solenidade de abertura das comemorações
acontece nesta segunda-feira, dia 3, às 17 horas, no prédio
5 da FEA, na Cidade Universitária, e incluirá homenagens
a ex-diretores e Professores Eméritos, como Delfim Netto,
que estará no evento. Também nesta segunda será
lançado o site comemorativo dos 60 anos da faculdade. Hoje
com cerca de 3 mil alunos de graduação, 498 de pós-graduação,
184 professores e 130 funcionários, a FEA formou vários
especialistas que, ao longo da história do Brasil, deram
importantes contribuições para a condução
da economia do País, entre eles o novo ministro da Fazenda,
Guido Mantega.
As comemorações terão ainda seminários
e congressos internacionais, além de gincanas e competições
esportivas para alunos e funcionários. Nos dias 2 e 3 de
maio, será realizado o Workshop de Internacionalização
de Empresas. Com datas ainda não definidas estão o
Congresso de Contabilidade, previsto para julho, o Seminário
de Administração, em agosto, e um Simpósio
Internacional: Governança Corporativa, no final do ano. Em
setembro, as informações reunidas no site devem ser
publicadas num livro comemorativo.
Excelência
A FEA foi criada por decreto-lei em 1946, logo após o término
da Segunda Guerra Mundial, no bojo de todo projeto de desenvolvimento
brasileiro, explica a diretora da unidade, professora Maria
Tereza Leme Fleury. À época, o País passava
por um processo acelerado de industrialização na economia
e crescimento do setor de serviços, deixando de ser predominantemente
agrário e exportador. Com o nome de Faculdade de Ciências
Econômicas e Administrativas (FCEA), a faculdade inicialmente
oferecia cursos profissionalizantes de Economia e Contabilidade,
e logo após, o de Administração.
A FEA passou por muitas mudanças nesses 60 anos, até
atingir o nível de excelência pelo qual é conhecida
hoje, destaca Maria Tereza. Hoje, se olharmos como está
nossa faculdade, a avaliação é muito positiva.
Somos uma faculdade que está formando profissionais nas três
áreas, economia, administração e contabilidade,
com um perfil diverso do que está sendo trabalhado nas outras
faculdades de elite do País.
Para a diretora, a formação diferenciada é
o mais importante para o aluno. Temos uma metodologia que
alia a parte teórica, o pensar criticamente o conhecimento,
com a prática, com uma vertente profissionalizante.
Ela explica que a influência da FEA na sociedade está
nos profissionais formados, que possuem cargo tanto em instituições
públicas quanto privadas ou do terceiro setor. São
profissionais de primeira linha, que ocupam posições
importantes ou estão abrindo empreendimentos, fazendo projetos
para o desenvolvimento do País. Cita o exemplo da Natura,
empresa referência em projetos de internacionalização
e responsabilidade social, fundada por um ex-aluno.
Ex-alunos e professores também atuaram em órgãos
governamentais. A FEA gerou ministros, secretários
e até presidente, porque Fernando Henrique ministrou aulas
aqui. A diretora lembra que todas as linhas ideológicas
e correntes políticas podem ser encontradas na FEA, um lugar
de pluralidade e diversidade. Segundo ela, essas características
ajudam a manter a faculdade entre as melhores do País. Numa
sociedade em processo acelerado de crescimento, como o Brasil, é
necessário que se produza conhecimento e se forme pessoas.
Temos pesquisas em todas as áreas de ponta e temos a preocupação
de criar novos cursos que se mostrem necessários.
O recém-implantado curso de graduação em Atuária
é um exemplo da preocupação da faculdade em
se adaptar às novas tendências surgidas nos últimos
anos, de acordo com Maria Tereza. Devido à demanda, com o
uso do cálculo atuarial nos sistemas de previdência
e seguro, o curso que já existia na faculdade mas
fora desativado foi remodelado e está sendo bem avaliado,
continua a diretora. Na área de governança corporativa
e na de economia em gestão internacional, foram criadas novas
disciplinas e cursos, com contratação de professores.
Estamos investindo muito em metodologias didáticas,
pensando no futuro.
Intercâmbios
Com vistas no futuro, as parcerias internacionais têm papel
fundamental nos planos da faculdade, de acordo com a diretora. Existem
cerca de 60 convênios assinados e a FEA recebe 140 estrangeiros
ao longo do ano letivo. Maria Tereza explica que a presença
de estrangeiros, tanto alunos quanto professores convidados, contribuem
para uma sala de aula diversa, com pessoas de perspectivas e formação
diferentes. As particularidades de cada um são importantes,
mas temos que saber como nos posicionar, qual é o nosso diferencial
e como potencializá-lo. Os intercâmbios para
treinar professores, com a Universidade de Harvard, por exemplo,
também exercem influência na diversidade da FEA.
Um momento importante na história da faculdade ocorreu em
1969, quando ela sofreu uma reestruturação devido
à reforma universitária daquele ano, que criou os
departamentos e fez surgir a figura do professor-titular. A unidade
mudou o nome para Faculdade de Economia e Administração
e passou a ser constituída por três departamentos
os de Economia, de Administração e de Contabilidade
e Atuária , que funcionam até hoje.
Em 1964 surgiu o Instituto de Pesquisas Econômicas (IPE),
para promover pesquisas sobre a economia paulista e brasileira.
Ele foi responsável até 1994 por todos os cursos de
pós-graduação. Hoje ministra os cursos de pós
na sua área, no Departamento de Economia, com a Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), instituição
de direito privado fundada com o mesmo objetivo de incentivar pesquisas.
Os outros dois departamentos ganharam suas fundações
logo depois. Em 1974, foi criada a Fundação Instituto
de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi),
de apoio ao Departamento de Contabilidade, e em 1980 surgiu a Fundação
Instituto de Administração (FIA), atuando no área
de administração de empresas.
Antes de ser transferida para a Cidade Universitária, em
1971, a FEA estava sediada na rua Maria Antonia, em frente à
Universidade Mackenzie. Ao lado de seus colegas da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, os alunos da FEA também
se envolveram nos famosos confrontos entre estudantes do Mackenzie,
favoráveis à ditadura militar, e os da USP.
Mesmo as novas instalações na Cidade Universitária
se tornaram insuficientes para as atividades desenvolvidas na faculdade.
A partir de 1997 foram construídos mais cinco prédios,
para abrigar a biblioteca, serviços de apoio e centro acadêmico,
entre outros setores. As construções, que também
incluíram reforma do prédio central, foram financiadas
com a ajuda das três fundações e do Programa
Parceiros da FEA.
Depois
de Palocci
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva assistiu, na semana
passada, à queda de mais um dos pilares do seu governo.
Depois do afastamento de José Dirceu, seu idealizador
político, foi a vez do ministro da Fazenda, Antonio
Palocci, que pediu demissão após o agravamento
de uma série de denúncias de corrupção
que culminou com a quebra ilegal do sigilo bancário
do caseiro Francenildo Costa. No lugar de Palocci, entrou
o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), Guido Mantega. Para analisar esse novo cenário
político e econômico que se forma, o Jornal da
USP entrevistou três professores do Departamento de
Economia da Faculdade de Economia, Administração
e Contabilidade (FEA) da USP. Nessa faculdade se formaram
vários economistas que ocuparam cargos importantes
no Executivo federal, incluindo ex-ministros e o próprio
Mantega.
Apesar de ter declarado que não vai mexer na atual
política econômica, Mantega preocupa um pouco
os especialistas entrevistados, e também o mercado,
por algumas mudanças que defendeu nos últimos
meses, como uma baixa mais significativa nas taxas dos juros
e uma maior valorização do dólar, tudo
em nome de um desenvolvimento econômico mais acelerado.
Esse desenvolvimento, que pode ser bom a curto prazo, é
visto pelos três professores, que vêm de uma escola
mais monetarista, como maléfico, se analisado em um
período de tempo mais longo.
Para mim a escolha de Mantega foi muito ruim. Ele tem
um passado que chama de desenvolvimentista, mas, na verdade,
isso só significa que ele é muito mais tolerante
à inflação do que seu antecessor,
afirma o professor e pesquisador de macroeconomia Fábio
Kanzuck. O professor Juarez Rizzieri, da área de Economia
Brasileira, também acredita que Mantega deve fazer
uma pressão por certas mudanças, mas acha que
a inflação deve segurá-lo. Ele
deve tentar colocar sua política em prática,
mesmo porque o crescimento é um colírio para
a campanha política, mas não sei se ele vai
conseguir. O grande teste para isso vai ser a expectativa
de inflação. O professor acredita que,
caso a inflação e o mercado dêem sinal
vermelho às mudanças na política econômica,
pode ser que Mantega volte atrás. Lula não
vai permitir um grande aumento da inflação,
porque é uma ameaça à eleição.
A inflação é malvista por todos os segmentos
da sociedade, inclusive pelos pobres, justifica.
A saída do secretário-executivo Murilo Portugal
e do secretário do Tesouro, Joaquim Levy, que deixaram
o governo com a queda Palocci, também não foram
vistas com bons olhos pelos professores. Levy segurava
o cofre, os gastos, e Murilo era, na minha opinião,
quem deveria ter substituído Palocci, conta Kanzuck.
Marco Antonio Vasconcellos, professor e pesquisador em Economia
Brasileira, concorda: Estou um pouco preocupado com
a saída do Murilo e do Levy. Isso assusta um pouco
num cenário futuro, no caso de uma reeleição.
Falta um time do PT para governar, explica. Outra preocupação
do professor Vasconcellos é a alta fidelidade de Mantega
ao atual presidente. Guido cede ao que Lula falar e
Lula é um operário. Esse é o grande perigo:
Lula no comando de economia. O Guido obedece ordens, ele é
um soldado, um coringa do partido, explica.
Apesar da apreensão com a posse do novo ministro, os
professores entrevistados acreditam que não haverá
tempo hábil para grandes mudanças no País.
O problema maior fica para o caso de uma reeleição.
Quanto ao futuro da política econômica no caso
de uma vitória do candidato à Presidência
Geraldo Alckmin, tudo ainda parece indefinido. Os três
são unânimes ao afirmar que, ao que tudo indica,
Alckmin ainda não decidiu qual será sua política
econômica. Segundo Vasconcellos, Alckmin está
dividido. Se for o Alckmin que eu chamo de paulista,
será um Alckmin desenvolvimentista, com Bresser Pereira,
Yoshiaki Nakano e Luiz Carlos Mendonça de Barros, com
quem ele já está conversando. Se for o Alckmin
carioca, será o Alckmin como o Palocci,
monetarista, do Armínio Fraga, do Malan.
KIKA MANDALOUFAS, especial para o
Jornal da USP
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